O que as três parábolas da misericórdia têm a nos ensinar?

Antes mesmo de pedirmos perdão, Deus já está ansioso para nos conceder o perdão

A narração das três parábolas da misericórdia leva a uma compreensão do amor de Deus para com o pecador. “Quando Ele fala, nas suas parábolas, do pastor que vai atrás da ovelha perdida, da mulher que procura a dracma, do pai que sai ao encontro do filho pródigo e o abraça, não se trata apenas de palavras, mas constituem a explicação do seu próprio ser e agir” (Deus caritas est, 12).

Diz o nosso querido Papa emérito, Bento XVI, no seu livro Jesus de Nazaré, que o pastor que encontra a ovelha perdida é o próprio Senhor que assume em si mesmo, através da Cruz, a humanidade pecadora para a redimir. Depois, o filho pródigo, na terceira parábola, é um jovem que, tendo obtido a herança do pai, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada (Lc 15, 13). Reduzido à miséria, foi obrigado a trabalhar como um escravo, aceitando até saciar-se com a comida destinada aos animais. Então, diz o Evangelho, caiu em si (Lc 15, 17). As palavras que ele prepara para o regresso permitem-nos conhecer o alcance da peregrinação interior que agora realiza… Regressa “à casa”, a si mesmo e ao pai (Bento XVI, Jesus de Nazaré, 2007, p.182).
Diz o filho mais novo arrependido: “Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho” (Lc 15, 18-19). Santo Agostinho descreve: “É o próprio Verbo que te grita para voltar; o lugar da calma imperturbável é onde o amor não conhece abandono” (Agostinho, Confissões, IV, 11.16). Ainda estava longe quando o pai o viu e, enchendo-se de compaixão, correu a lançou-se ao pescoço e cobriu-o de beijos (Lc 15, 20) e, cheio de alegria, mandou preparar uma festa. Este gesto de ir ao encontro do filho ele ainda estando longe, dizem os Padres da Igreja, é o gesto de dar o perdão antecipadamente. Isto implica em dizer que quando pecamos, antes mesmo de pedirmos perdão, Deus já está ansioso para nos conceder o perdão, no acolher em sua casa novamente.

A alegria do pecador arrependido

Pormenor do mosaico representativo da parábola do filho pródigo, no Santuário do Pai das Misericórdias

Desta forma, compreendemos como é o acolhimento de Deus para com o pecador. A maior alegria de Deus é ver o pecador arrependido, só assim pode lhe dar o perdão. Dar-lhe o perdão é sua maior alegria, pois Ele é rico em amor e misericórdia. Nunca é tarde para o pecador, desde que se arrependa e queira voltar. Deus é o primeiro interessado na volta do pecador.
Diz o papa emérito, estas três parábolas descritas pelo Evangelista Lucas quer revelar para todos, o amor apaixonado de Deus pelo seu povo pelo homem é ao mesmo tempo um amor que perdoa. E é tão grande, que chega a virar Deus contra Si próprio, o seu amor contra a sua justiça. Nisto, o cristão vê já esboçar-se veladamente o mistério da Cruz: Deus ama tanto o homem que, tendo-Se feito Ele próprio homem, segue-o até à morte e, deste modo, reconcilia justiça e amor (Deus caritas est, 10).

Neste contexto compreendemos que o Evangelho é a boa nova de Jesus, boa nova para todos, para Jesus não existe ninguém que se encontra tão longe que a salvação não pode encontra-lo. Por isso, Jesus não exclui e nem faz acepções de pessoas na sua pregação, pois Ele “proclama a todo que Deus está aqui para acolher, reunir os desesperados e os perdidos. Nisto consiste a alegria e a festa de Deus” (Fabris; Maggioni, 2006, p. 160). Cristo não aceita nenhuma forma de lei que exclua o próximo, porque esta concepção se torna uma caricatura de Deus e do seu modo de agir na história. Por isso mesmo, as parábolas querem demonstrar o modo de agir de Deus, isto é, a misericórdia, o acolhimento, a alegria por um pecador que se arrepende e volta para a casa do pai.

“Tensão inspirada no Amor”

A conversão como regresso ao pai é a dinâmica própria da vida cristã: uma tensão contínua inspirada num Amor que vai além de toda a imaginação e no qual se reflete o acontecimento que, aquele Amor, manifesta para além de qualquer medida: a Páscoa do Senhor. A vida do cristão, por isso, não pode ser senão uma vida tipicamente pascal.
Sabiamente diz o Papa Francisco na Misericordiae Vultus: “Perante a gravidade do pecado, Deus responde com plenitude do perdão”. O papa deixa claro que a misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa. É comum diante de um pecado grave pensar que Deus em vez de perdoar castigará o pecador. O papa diz que não, em vez disso, Deus que é rico em amor e misericórdia acolhe o “filho pródigo” que volta para casa do Pai. Deus não se cansa de nos perdoar, pois sua misericórdia é infinita.

A parábola do filho pródigo, especialmente, serve como base de reflexão para toda a nossa vida. O olhar de Deus para com o pecador é como o pai da parábola, espera ansiosamente a volta do filho para sua casa. Por isso, mesmo que o perdão de Deus, como diz o papa, sempre será maior que os pecados. Deus não cansa de nos perdoar, nós que às vezes nos cansamos de lhe pedir perdão.
Neste ano Santo da Misericórdia, somos convidados a sermos misericordiosos como o Pai. Se Deus não exclui ninguém, nós devemos fazer o mesmo.

Elenildo Pereira
Candidato às Ordens Sacras
Comunidade Canção Nova

elenildo

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