O apelo ao amor de Deus na mensagem de Fátima

O amor de Deus é um componente essencial do acontecimento de Fátima

O amor de Deus é um componente essencial do acontecimento de Fátima, sendo esse o desenrolar de Sua revelação amorosa na história humana. “Deus é amor” (1Jo 4,16), afirma o evangelista São João, e, porque ama toda a Sua obra criada, mais especialmente o homem imortal feito à sua imagem e semelhança (Gn 1,27), é que a história da humanidade sempre foi perpassada por Seu amor, culminando na encarnação, paixão e ressurreição de Seu Filho Jesus Cristo.

Na dinâmica temática sobre os “Apelos da Mensagem de Fátima”, em que estamos nos baseando nos escritos da Ir. Lúcia desde o mês de fevereiro deste ano, lançaremos o olhar do nosso coração sobre o “apelo ao amor de Deus,” de acordo com a sequência da oração do Anjo: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.169).

Entretanto, é válido salientar que, a Sagrada Escritura é a fonte manancial em que a Ir. Lúcia mais frequentemente absorveu conhecimento, para exprimir o seu entendimento a respeito dos apelos proferidos pelo Anjo e pela Santa Mãe de Deus. Assim, salienta o amor de Deus a partir do Antigo e do Novo Testamento, fundamentando-se em diversas citações, das quais destaco as seguintes: “Amarás o Senhor teu Deus; guardarás suas ordens, seus decretos e mandamentos enquanto durar tua vida.” (Dt 11,1). Pode-se observar que Jesus anuncia a importância da vivência do seu elevado mandamento como expressão peculiar do Amor de Deus: “Como o Pai me amou, eu vos amei: permanecei no meu amor. Se cumprirdes meus mandamentos, permanecereis no meu amor; […] Este é o meu mandamento: que vos amei uns aos outros como eu vos amei.” (Jo 15,9-10.12).

O conteúdo das aparições do Anjo e de Maria Santíssima, em Fátima, demonstra que para correspondermos ao amor incondicional de Deus é preciso abrir o nosso “coração” a Ele sem reservas. Assim sendo, o processo de conversão vivenciado por meio da oração e da penitência como correspondência ao Amor manifesto nos apelos de Fátima, ao ser assumido seriamente como o empreendimento mais importante desta vida terrena, alcançará o seu termo no Céu. A Ir. Lúcia expressa essa verdade da seguinte forma:

“A caridade é a virtude que permanece eternamente no Céu, onde cantaremos o cântico do Amor. E, para chegarmos lá é que Deus, ao dar-nos a Sua Lei, colocou logo no princípio o mandamento de O amarmos, porque é este amor que nos há de levar a cumprir todos os outros preceitos. […] Este nosso amor deve ser sincero, alegre e sacrificado. […] Primeiro, o necessário para não ofender gravemente a Deus nem ao próximo, isto é, não transgredir uma lei de Deus em matéria grave. Depois, é preciso sacrificar-se para nem sequer ofender a Deus ou ao próximo em matéria leve, isto é com pecado venial” (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 81-82).

Jesus Cristo resumiu toda a Lei no amor a Deus e ao próximo (Mc 12, 29-31), nos mostrando, a partir de Sua entrega, que o sacrifício do amor é o mais agradável e sublime. O Seu amor sacrificado nos leva a compreender que amor e sofrimento são princípios inseparáveis enquanto perdurar a nossa peregrinação terrena e, a nossa adesão ao seu seguimento comporta essa realidade. Quando essa verdade é considerada (de um ponto de vista) meramente humano, causa repulsa. Porém, trata-se de um aspecto de extrema relevância para os cristãos: é aqui precisamente, que somos chamados a dar um salto na fé, pois, somente assim, aceitando e praticando esses dois componentes cotidianamente, é que a adesão à Jesus Cristo será vivenciada com tudo o que ela comporta. Certamente, se formos fiéis, seremos verdadeiramente por Ele reconhecidos no dia do juízo (Mt 25,31-46).

Pode-se observar que os protagonistas escolhidos por Deus como interlocutores dos Seus apelos em Fátima, reconhecidos como “pastorinhos”, acolheram generosamente o chamado a ofertarem-se a Ele numa atitude de profunda aceitação destes dois princípios, a partir da pergunta transmitida por Nossa Senhora já na sua primeira aparição: “Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores? – Sim, queremos. – Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.173-174).

Eles vivenciaram o amor de Deus de forma heroica, entregando as suas vidas por meio da oração incessante e da penitência de forma voluntária e involuntária, tendo como sentido primordial o Amor que os levava a reparar as ofensas cometidas pelos pecadores e a pedir por sua conversão.

De forma voluntária, se mortificavam deixando de brincar; dando a comida, levada para passar o dia no pastoreio das ovelhas, aos pobres; comendo o fruto amargo dos carvalhos; deixando de beber água no calor do verão e de comer as frutas das quais mais gostavam dando-as aos pobres; batendo-se com urtigas para oferecer a Deus aquela dor; atando-se com uma corda à cintura também para oferecer a dor e deixando de dançar sendo este um dos seus divertimentos preferidos, tudo isso por amor a Deus e aos homens.

De forma involuntária, ofereceram a Deus os seguintes sacrifícios: o sofrimento da desconfiança por parte dos vizinhos e do pároco que não acreditavam na veracidade das aparições, bem como os insultos que ofendiam de forma profunda a pureza dos seus corações; a perseguição do administrador que os prendeu e os ameaçou de morte; os mal tratos que a própria Lúcia sofreu por parte da mãe por não acreditar na realidade dos fatos; e a solidão experimentada por Jacinta, ao morrer em Lisboa longe dos seus familiares.

A veracidade de seus testemunhos foi um grande marco não só para a comunidade portuguesa, mas para a Igreja universal, que elevou o Francisco e a Jacinta à honra dos altares, canonizando-os como exemplos que iluminaram o mundo, porque viveram as virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade; bem como as cardeais: a justiça, a temperança, a fortaleza e a prudência.

No próximo dia 04 de maio, este será o tema abordado na Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, no Santuário do Pai das Misericórdias: “O apelo ao amor de Deus”, com início às 10h. Dessa maneira, a Santíssima Virgem, que é o nosso modelo supremo de amor a Deus, vai nos ajudando a crescer no amor a Ele e aos homens com o seu auxílio materno.

Áurea Maria,
Comunidade Canção Nova

REFERÊNCIAS

IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.

IRMÃ LÚCIA. Memórias da Irmã Lúcia. 17. ed. Fátima – Portugal: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2015.

SCHOKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. Tradução de Ivo Storniolo, José Bortolini e José Raimundo Vidigal. São Paulo: Paulus, 2002.

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