O Pai me olha com misericórdia

A misericórdia é um tema central e fundamental na Sagrada Escritura. A começar do Antigo Testamento. Quando fala da misericórdia quase sempre se refere a Deus. A misericórdia é um atributo tão essencial de Deus que o papa francisco escreveu um livro tendo como título: “O nome de Deus é Misericórdia”.

Haramin e Hesed

O Antigo Testamento usa dois vocábulos para designar a misericórdia. O primeiro é haramin que significa amor materno. O amor de mãe se inicia no ventre. É aquele amor que acolhe a vida, dá condições para a vida se desenvolver. É um amor cheio de ternura. Basta recordar que quando uma mãe pega a criança no braço para amamentá-la, ela a alimenta com o seu leite e com a sua afetividade.
O profeta Isaías coloca na boca de Deus esta pergunta: “pode uma mãe esquecer-se da criancinha que gerou em seu seio? (Cf. Is 49,15)”. E o próprio Deus responde: “ainda que uma mãe esqueça de sua criancinha eu não me esquecerei de ti (Cf. 49,15)”. Portanto, Deus nos ama com amor de mãe. Esta verdade enche nossos corações de consolação, de esperança e de alegria.
Outro termo utilizado no Antigo Testamento para designar a misericórdia de Deus é Hesed . É o amor que tem origem na vontade. É aquele amor que não se envergonha da carne do irmão. Seja uma carne enfraquecida pela pobreza, desfigurada pela doença ou manchada pelo pecado. Quando o irmão peca não podemos atirar pedras. O Evangelho proíbe atirar pedra, isso não muda o coração de ninguém. O que muda o coração é a misericórdia. Por isso mesmo, Deus quer a conversão e salvação, volta-se para seu filho o pecador com misericórdia. Deus quer a mudança do seu coração, quer a sua conversão.

A misericórdia nas parábolas

No Novo Testamento, a misericórdia está expressa em diversas parábolas que Jesus. São Lucas (Cf. Lc 15,1-32) registra três parábolas: a primeira se refere ao pastor que deixa as noventa e nove ovelhas no redil e sai em busca da ovelha perdida. Nesta parábola, o pastor é Deus, a ovelha perdida é o pecador. A parábola mostra claramente que Deus olha o pecador com misericórdia, por isso, sai em busca do pecador. Se Deus não saísse em busca do pecador, o mesmo permaneceria para sempre perdido, jamais seria encontrado e salvo.
A outra parábola é a da mulher que perde a sua moeda de prata. Ela varre toda a casa até encontrá-la. Deus aqui é representado pela mulher e o pecador pela moeda perdida. O ensinamento é o mesmo da primeira parábola: Deus não fica sossegado enquanto não encontra sua moeda perdida, que é o pecador.
A terceira parábola é a do filho prodigo. É a mais importante parábola contada por Jesus. Ela mostra claramente que Deus quando perdoa não joga na cara do pecador seus pecados, seus crimes. Deus perdoa abraçando.
Existe ainda uma outra parábola que mostra a grande misericórdia de Deus para com o ser humano. É a parábola do Bom Samaritano (Cf. Lc 10,27-37). A parábola se refere conta de um homem caído no margem. Tinha sido assaltado e maltratado. Roubaram tudo possuía. Os ladrões haviam deixado aquele homem semimorto. Um sacerdote passa perto do homem assaltado e vira o rosto para o outro lado. Ele talvez estava indo ao Templo de Jerusalém e não podia chegar atrasado. Por isso, não deu importância ao homem caído. Em seguida, passa o levita, este também segue para Jerusalém. A seguir, passa o samaritano, que faz parte parte de um povo discriminado pelos judeus. O samaritano desce do seu jumento, curva-se, com carinho, sobre aquele homem. Desinfeta as suas feridas com vinho e coloca óleo. Suaviza o sofrimento do homem e o coloca sobre o jumento. A misericórdia deste homem é tanta que ele leva o desconhecido para a hospedaria. Os padres da Igreja fazem uma interpretação muito bonita: “O bom samaritano é o próprio Jesus que desceu do Céu, tornou-se homem, uniu à sua pessoa divina a nossa natureza pecadora ferida pelo pecado para nos salvar”.
Essa teologia da misericórdia nos mostra claramente que a misericórdia é um atributo essencial de Deus. Deus é Pai. Ele olha para os seus filhos com misericórdia. Deus perdoa acariciando o pecador.

Dom Benedito Beni
Bispo Emérito de Lorena

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