O apelo à participação na Eucaristia, na Mensagem de Fátima

Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.171). Na terceira aparição aos pastorinhos de Fátima, o Anjo lhes transmitiu essas penetrantes palavras, fazendo-lhes compreender que, nesta ordem divina, encontra-se explicitamente o significado do mistério eucarístico, bem como a importância de recebê-lo em estado de graça. Pode-se observar que também lhes apela à reparação eucarística que consiste essencialmente em amar a Jesus, recebendo-O em profunda adoração, em desagravo dos sacrilégios com que é ofendido. Eis o mistério da fé Católica, consolidado nos corações humanos que acreditam no que o próprio Jesus assegurou: “Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele (Jo 6,55-56). Isto posto, pode-se observar que se confirmam as palavras do Papa São João Paulo II proferidas em sua homilia a 13 de maio de 1982 em Fátima: “Assim, se a Igreja aceitou a mensagem de Fátima é, sobretudo, porque esta mensagem contém uma verdade e um chamamento que, no seu conteúdo fundamental, são a verdade e o chamamento do próprio Evangelho”.

Este é o oitavo tema explicitado na obra “Apelos da Mensagem de Fátima” da serva de Deus Ir. Lúcia, que dá continuidade à sessão temática iniciada em fevereiro deste ano na Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, no Santuário do Pai das Misericórdias. O apelo do Anjo aduz de maneira peculiar às palavras do apóstolo Paulo que evidenciam a instituição deste Sacramento e a maneira digna de como se deve recebê-Lo:

Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. […] Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação. (1 Cor 11, 23-25.27-29).”

O Apóstolo deixa claro que, antes da recepção deste Sacramento, deve-se fazer uma adequada preparação a fim de que a graça santificante que lhe é inerente possa atuar na alma humana tornando-a participante da vida divina. Neste sentido convém ressaltar as palavras do Papa São João Paulo II em sua Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia que corroboram para uma conscienciosa recepção deste sacramento:

Desejo, por conseguinte, reafirmar que vigora ainda e sempre há-de vigorar na Igreja a norma do Concílio de Trento que concretiza a severa advertência do apóstolo Paulo, ao afirmar que, para uma digna recepção da Eucaristia, ‘se deve fazer antes a confissão dos pecados, quando alguém está consciente de pecado mortal.’ (N.36).”

Dos efeitos provenientes da comunhão sacramental recebida em estado de graça podem-se destacar os seguintes: a união com Cristo; o afastamento do pecado; a união com o corpo Místico de Cristo; o compromisso com os pobres e a união entre os cristãos. De fato, a presença real de Jesus na Eucaristia é fonte de onde emana toda a eficácia sobrenatural para a santificação do homem, é verdadeiramente o penhor da nossa salvação. Sobre a presença de Jesus nos Sacramentos, o Papa São Paulo VI em sua Carta Encíclica Mysterium Fidei explicita o significado do termo “presença real” usado para o Sacramento da Eucaristia com os seguintes dizeres: “Esta presença chama-se ‘real’, não por exclusão como se as outras não fossem ‘reais’, mas por antonomásia porque é substancial, quer dizer, por ela está presente, de fato, Cristo completo, Deus e homem.” (N.41).

Com efeito, pode-se verificar como a Mensagem de Fátima convida a uma participação de forma ativa neste Sacramento, manifestando assim a sua importância para a salvação da humanidade, interpelando a penetrar em tão grande mistério. Neste sentido a Irmã Lúcia salienta como a Santíssima Virgem é vinculada a este mistério salvífico nos seguintes termos:

É o corpo recebido de Maria que, em Cristo, se torna vítima imolada pela salvação dos homens; é o sangue recebido de Maria que circula nas veias de Cristo e que jorra do seu Coração divino; são esse mesmo corpo e esse mesmo sangue, recebidos de Maria, que, sob as espécies do pão e do vinho consagrados, nos são dados em alimento quotidiano para revigorar em nós a vida da graça, e assim continuar em nós, membros do Corpo Místico de Cristo, a Sua obra redentora. (IRMÃ LÚCIA, 2007, p.115).”

Em suma, tudo em Maria é relativo a Cristo, considerando-se que foi associada por Deus de maneira peculiar à Sua obra de redenção como nenhuma outra criatura, a partir de Sua encarnação até à co-participação neste salutar Sacramento. Portanto Ela é o modelo acabado de fidelidade a Deus que ensina, com o seu Sim, a adorá-Lo em espírito e em verdade (Jo 4, 23).

No próximo dia 07 de setembro de 2019, este será o tema abordado na Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, no Santuário do Pai das Misericórdias com início às 10h, que certamente proporcionará um maior entendimento sobre a participação neste Sacramento, “fonte e centro de toda a vida cristã.” (CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA, 2016, p. 51).

Áurea Maria,

Comunidade Canção Nova

REFERÊNCIAS

CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA Lumen Gentium sobre a Igreja. In: COMPÊNDIO DO VATICANO II: constituições, decretos, declarações. 31. ed. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 37-117

IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.

IRMÃ LÚCIA. Memórias da Irmã Lúcia. 17. ed. Fátima – Portugal: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2015.

JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia. 17 abr. 2003. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/special_features/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_20030417_ecclesia_eucharistia_po.html. Acesso em: 26 ago 2019.

JOÃO PAULO II. Homilia do Papa São João Paulo II em Fátima. 13 maio 1982. Disponível em: https://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/homilies/1982/documents/hf_jp-ii_hom_19820513_fatima.html. Acesso em: 25 ago. 2019.

PAULO VI. Carta Encíclica Mysterium Fidei. 03 set. 1965. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/paul-vi/pt/encyclicals/documents/hf_p-vi_enc_03091965_mysterium.html. Acesso em: 26 ago 2019.

SCHOKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. Tradução de Ivo Storniolo, José Bortolini e José Raimundo Vidigal. São Paulo: Paulus, 2002.

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