Mensagem de Fátima: Ciclo Cordimariano

Disse Nossa Senhora: “Tu, ao menos, vê de Me consolar”

Neste último artigo, trataremos sobre o terceiro ciclo das aparições de Nossa Senhora de Fátima. Trata-se do Ciclo Cordimariano, que recebe este nome por causa de Nossa Senhora mostrar o seu Imaculado Coração a irmã Lúcia e pedir a devoção reparadora dos Cinco Primeiros Sábados.

Como vimos no artigo anterior, na Cova da Iria aconteceram seis aparições de Nossa Senhora do Rosário. A sétima, sendo somente para a Irmã Lúcia. Essa sétima aparição aconteceu em 15 de junho 1921. Na véspera de partir para o Porto, para o Colégio das Irmãs Doroteias, conforme as instruções do bispo de Leiria, Lúcia foi despedir-se à Cova da Iria.

Conta no seu diário, que se sentia em luta, indecisa, com “arrependimento do sim que antes tinha dado” e com vontade “de voltar atrás”. Ali, junto ao local onde Nossa Senhora tinha pousado “os seus imaculados pés”, a vidente sentiu tocar-lhe no ombro uma “mão amiga e maternal”. Reconheceu ser Nossa Senhora a dar-lhe a mão e ouviu-a dizer-lhe: “Vai, segue o caminho por onde o Senhor Bispo o quiser levar, essa é a vontade de Deus”. Nesse momento, relembrou as maravilhas que tinha contemplado e sentiu “a graça da vocação à vida religiosa”. No dia seguinte, deixou Fátima.

A seguir desta sétima aparição, por recomendação do Bispo de Leiria, em 1921, Lúcia deixa Fátima e vai para o colégio das irmãs Doroteias, no Porto. Sentindo vocação à vida religiosa, foi para Espanha, onde fez o noviciado e pronunciou os votos. Em Pontevedra e Tuy, nos anos de 1925, 1926 e 1929, teve novas aparições. O Coração Imaculado de Maria, que já se tinha mostrado como “refúgio e caminho que conduz até Deus”, dá-se, uma vez mais, como regaço materno disposto a acolher os dramas da história dos homens, confiando-os ao Coração Misericordioso de Deus.

Aparições de Nossa Senhora e do Menino Jesus em Pontevedra

Lúcia acolhe a aparição de Nossa Senhora e do Menino Jesus, quando se prepara para a vida religiosa nas Irmãs Doroteias, em Pontevedra, onde dera entrada em 25 de outubro desse ano. Nessa aparição, recebe como convite específico a devoção dos cinco primeiros sábados. Dois meses depois, a 15 de fevereiro de 1926, tem lugar uma nova aparição do Menino Jesus, que lhe “perguntou se já tinha espalhado a devoção a Sua Santíssima Mãe”. Na primeira narrativa, Lúcia escreve na terceira pessoa, como se estivesse a falar de alguém que não ela.

Narrativa das duas aparições 

Arquivo/ cancaonova.com

“Apareceu-lhe a Santíssima Virgem e, ao lado, suspenso em uma nuvem, um Menino. A Santíssima Virgem, pondo-lhe no ombro a mão e mostrando, ao mesmo tempo, um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos.

Ao mesmo tempo, disse o Menino:
– Tem pena do Coração da tua Santíssima Mãe, que está coberto de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar.
Em seguida, disse a Santíssima Virgem:
– Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que todos aqueles que, durante cinco meses, ao primeiro sábado, confessarem-se, receberem a Sagrada Comunhão, rezarem o Terço e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.”

Do Menino Jesus: “Tens espalhado, pelo mundo, aquilo que a Mãe do Céu te pediu?”

“No dia 15/2/1926, voltando eu lá a deitar um apanhador de lixo fora do quintal, como é costume, encontrei ali uma criança que me parecia ser a mesma que já encontrara uma vez antes e perguntei-lhe então:
– Tens pedido o Menino Jesus à Mãe do Céu?
A Criança volta-se para mim e diz:
– E tu tens espalhado, pelo mundo, aquilo que a Mãe do Céu te pediu?
Nisso, transforma-se num Menino resplandecente. Conhecendo, então, que era Jesus, disse:
– Meu Jesus! Vós bem sabeis o que o meu confessor me disse na carta que Vos li. Dizia que era preciso que aquela visão se repetisse, que houvesse fatos para que fosse acreditada, e a Madre Superiora, só, a espalhar este fato, nada podia.
– É verdade que a Madre Superiora só, nada pode; mas, com a Minha graça, pode tudo. E basta que o teu Confessor te dê licença, e a tua Superiora o diga, para que seja acreditado, até sem se saber a quem foi revelado.
– Mas o meu Confessor dizia na carta que esta devoção não fazia falta no mundo, porque já havia muitas almas que Vos recebiam, aos primeiros sábados, em honra de Nossa Senhora e dos 15 Mistérios do Rosário.
– É verdade, minha filha, que muitas almas os começam, mas poucas os acabam; e as que os terminam, é com o fim de receberem as graças que aí estão prometidas; e Me agradam mais as que fizerem os cinco com fervor e com o fim de desagravar o Coração da tua Mãe do Céu, que os que fizerem os 15, tíbios e indiferentes…
– Meu Jesus! Muitas almas têm dificuldade em se confessar ao sábado. Se Vós permitísseis que a confissão de oito dias fosse válida?
– Sim. Pode ser de muito mais dias ainda, contanto que estejam em graça no primeiro sábado, quando Me receberem; e que nessa confissão anterior tenham feito a intenção de com ela desagravar o Sagrado Coração de Maria.
– Meu Jesus! E as que se esquecerem de formar essa intenção?
– Podem-na formar logo na outra confissão seguinte, aproveitando a primeira ocasião que tiverem de se confessar.”

O ciclo das aparições termina com a grandiosa visão oferecida à Lúcia em Tuy. O mistério da comunhão trinitária – luz que atravessa todo o acontecimento de Fátima – revela-se, uma vez mais, para recordar o Coração misericordioso e compassivo de Deus manifestado na cruz de Cristo e presente na Eucaristia. A figura de Nossa Senhora está presente também como participante do mistério da Misericórdia. A visão termina com essas palavras em letra grande “Graça e Misericórdia” que são a síntese de toda a Mensagem de Nossa Senhora. De seguida, Lúcia recebe um pedido do Coração Imaculado de Sua Mãe: o da Consagração da Rússia. A consagração a este Coração cheio de graça afirma a certeza de que a vocação do homem é a vida plena em Deus.
A presença de Maria com o seu Imaculado Coração liga esta visão às precedentes aparições de Pontevedra. Nelas se revela como corresponder às graças e promessas oferecidas pela Virgem Maria: a devoção ao seu Imaculado Coração, nomeadamente pela prática dos cinco primeiros sábados do mês, nos quais somos convidados a receber o sacramento da confissão, comungar, rezar o Rosário e fazer meditação dos mistérios na companhia de Maria. O essencial não é simplesmente a prática dos atos requeridos, mas sobretudo, diz Jesus, na visão de Lúcia, que “estejam em graça e que tenham a intenção de desagravar o Imaculado Coração de Maria”. É nesta abertura ao essencial que se dá o encontro com a misericórdia e o perdão de Deus.

Narrativa da aparição

“Eu tinha pedido e obtido licença das minhas Superioras e Confessor para fazer a Hora-Santa das 11 à meia-noite, de quintas para sextas-feiras.
Estando uma noite só, ajoelhei-me entre a balaustrada, no meio da capela, a rezar, prostrada, as Orações do Anjo. Sentindo-me cansada, ergui-me e continuei a rezá-las com os braços em cruz. A única luz era a da lâmpada.
De repente, iluminou-se toda a capela com uma luz sobrenatural, e sobre o Altar apareceu uma Cruz de luz que chegava até ao tecto. Em uma luz mais clara via-se, na parte superior da cruz, uma face de homem com corpo até à cinta, sobre o peito uma pomba também de luz e, pregado na cruz, o corpo de outro homem. Um pouco abaixo da cinta, suspenso no ar, via-se um cálix e uma hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que corriam pelas faces do Crucificado e de uma ferida do peito. Escorregando pela hóstia, essas gotas caíam dentro do cálix.
Sob o braço direito da Cruz estava Nossa Senhora. Era Nossa Senhora de Fátima com seu Imaculado Coração na mão esquerda, com uma coroa de espinhos e chamas.
Sob o braço esquerdo, umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que corressem para cima do altar, formavam estas palavras: “Graça e Misericórdia”.
Compreendi que me era mostrado o mistério da Santíssima Trindade, e recebi luzes sobre este mistério que me não é permitido revelar.
Depois Nossa Senhora disse-me:
– É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio. São tantas as almas que a Justiça de Deus condena por pecados contra Mim cometidos, que venho pedir reparação: sacrifica-te por esta intenção e ora.

Dei conta disto ao meu confessor, que me mandou escrever o que Nosso Senhor queria se fizesse. Mais tarde, por meio duma comunicação íntima, Nossa Senhora disse-me, queixando-Se:
– Não quiseram atender ao Meu pedido!… Como o rei da França, arrepender-se-ão e fá-la-ão, mas será tarde. A Rússia terá já espalhado os seus erros pelo mundo, provocando guerras, perseguições à Igreja: o Santo Padre terá muito que sofrer.”

Maria, mestra da arte de orar, crer e amar

Como síntese final desses três ciclos das aparições, podemos ter presentes as palavras do Papa Bento XVI: “Apraz-me pensar em Fátima como escola de fé com a Virgem Maria por Mestra; lá ergueu Ela a sua cátedra para ensinar aos pequenos videntes e depois às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar.” (Bento XVI aos Bispos portugueses, Visita ad limina apostolorum, 2007)

Fonte: Diocese de Leiria-Fátima

Pai das Misericórdias e Deus de toda consolação, ouvi-nos!

 

 

 

Deixe seu comentários

Comentário