CÉU

A santidade e a comunhão dos santos

Quanto mais graça um homem tem, tanto mais semelhante a Deus se torna

Vamos por partes, é preciso, primeiramente, explicar a você o que é a santidade , ou o que são os santos, para assim prosseguimos com uma reflexão mais profunda. 

Primeiramente, o santo(a) é alguém que possui virtudes em grau heroico, principalmente a Fé, a Esperança e a Caridade (ágape). De maneira breve: um progredir até a união com Deus, claro, sempre com o auxílio da Graça. Por exemplo, quando pensamos na virtude da fé — que passa por etapas de crescimento e aprofundamento —, se, de um lado, começa como amor de servos, que se movem, sobretudo, por temor das penas eternas, está chamado a tornar-se, de outro, amor de filhos, para quem viver é cumprir a vontade do Pai. Esses dois amores chegam à plenitude, em que a alma aspira por unir-se tão intimamente a Deus, quanto uma esposa ao esposo, por meio de três formas de sacrifício: 

  1. a) o sacrifício expiatório — correspondente ao amor servil —, reparando as ofensas já cometidas contra o Amado; 
  2. b) os chamados sacrifícios pacíficos — próprios do amor filial —, consistentes num esforço constante por manter-se em estado de graça, ou seja, em amizade com o Senhor; e, por último, 
  3. c) o holocausto de amor, expressão daquela doação esponsal por que a alma, já enamorada de Deus, a Ele se entrega por inteiro, a fim de ter com Cristo e em Cristo uma só vida, deixando-se consumir na fornalha ardente de caridade que é o seu Sacratíssimo Coração. 

“Não há santidade sem renúncia e combate espiritual” | Foto ilustrativa: Érica Viana via Cathopic

Por isso, podemos dizer que o santo ou a santa é aquele que já está unido ao seu amado, adorado e Senhor Jesus. Por analogia, mas somente para deixar mais visível este movimento natural, é como se comparássemos Deus ao fogo; e nós, como algo incendiário, um papel, um galho etc. Seria como lançar-se ao fogo e se unir a este fogo. A ponto de termos todas as características da chama: brilho, o calor… Um santo ou uma santa está para Deus assim como as leis da natureza estão para o universo. A imitação de Cristo visível! Os santos aguentam tudo! Porque sabem em quem colocaram sua fé (cf. II Tim. 1,12). Pois, para se unir com mais perfeição, é preciso lutar contra o diabo, contra o mundo e contra si mesmo; esta última, Santo Inácio de Loyola, nos diz que é a mais difícil das batalhas. Por que a matéria para se queimar no fogo do amor de Deus está dentro da nossa vida. Tudo pode ser pacificado na fornalha ardente, no Coração de Jesus. 

Em resumo, precisamos, em primeiro lugar, parar de pecar! Sim é possível! Deus morreu por nós na Cruz para nos libertar da escravidão do pecado. E aí está a nossa grande luta. Uma vez que não estamos mais caindo nos pecados do decálogo (os 10 mandamentos), logo estamos num grau de amor maior a Deus! Nos comprometemos a amá-Lo mais! E Nosso Senhor infunde mais amor ainda, de acordo com nossa fidelidade a Ele; e, claro, segundo o seu desígnio. É por isso que existem homens e mulheres de Deus, que foram prodigiosos, taumaturgos. Deus quis se manifestar prodigiosamente em santos e santas, como: São Tomás de Aquino, Santa Faustina, São Bento, Beato Donizetti Tavares de Lima, Santa Dulce dos Pobres, Santa Teresa de Calcutá, etc. Todos, desde os mais antigos santos da Igreja, até os mais atuais. Eles são evangelhos vivos! 

O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa. Com efeito, a chamada à santidade está patente, de várias maneiras, desde as primeiras páginas da Bíblia; a Abraão, o Senhor propô-la nestes termos: “anda na minha presença e sê perfeito” (Gn 17, 1) (Papa Francisco, Gaudete et Exsultate, n.1). 

Se você chegou até aqui, significa que este artigo te interessou. Então, agora que você já sabe o que é um santo, poderemos mergulhar no sentido da intercessão deles. 

O Catecismo nos explica com exatidão (§2012 ss.) que o progresso espiritual tende para a união cada vez mais íntima com Cristo. Esta união chama-se «mística» porque participa no mistério de Cristo pelos sacramentos — “os santos mistérios” — e, n’Ele, no mistério da Santíssima Trindade. Deus chama-nos a esta íntima união com Ele, mesmo que graças especiais ou sinais extraordinários desta vida mística somente a alguns sejam concedidos, para manifestar o dom gratuito feito a todos.

O caminho desta perfeição passa pela cruz. Não há santidade sem renúncia e combate espiritual (II Tm 4.). O progresso espiritual implica a ascese e a mortificação, que conduzem gradualmente a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças:

“Aquele que sobe, nunca mais para de ir de princípio em princípio, por princípios que não têm fim. Aquele que sobe nunca mais deixa de desejar aquilo que já conhece.” (São Gregório de Nissa, In Canticum homilia 8: Gregorii Nysseni opera, ed. W. Jaeger – H. Langerbeck, v. 6 (Leiden 1960) p. 247 (PG 44, 941).

Lendo um artigo do Professor Felipe Aquino, ele disse: um santo tem um controle perfeito de todas as virtudes. O santo não faz da sua vida espetáculo. Começa pelas virtudes sólidas, comuns da vida cristã, e, depois, as desenvolve até um grau extraordinário. São Vicente de Paulo costumava dizer que “um cristão não deveria fazer coisas extraordinárias, mas sim fazer extraordinariamente bem as coisas ordinárias”.

Acesse também:
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::Família: um dom de amor do Pai
::Chamado de Deus: Lançai as redes

Quando estes homens e mulheres de Deus morrem, Santa Teresinha do Menino Jesus (Carmelita) nos esclarece: “Não é a morte que me virá buscar, mas, sim, o Bom Deus”. Ela ainda acrescentava, sobre sua própria morte: “Não morro, entro na vida… Vossa irmãzinha vos diz: ‘Até breve… no céu” (Novíssima Verba, História de uma alma). A morte não é uma passagem dura, mas alegre. A expectativa de encontrar a Deus, se rejubilar com aquele que nos ama e, agora, de maneira mais perfeita e perpetuamente, gozar da eternidade com Deus; é a certeza da consciência dos que se abandonaram em Deus. A esperança é fervorosa no coração dos santos! Eles estão esperando ansiosamente estar no céu, estar em Deus. Não mais como tampado por um véu, agora com a morte, a visão clara! Porque “os puros verão a Deus” (Mt. 5,8). 

No céu, todos os bem-aventurados estão intimamente unidos a Deus pela visão imediata d’Ele. Isso é chamado de “visão beatífica”. Todos os que estão no céu atingiram a santidade perfeita. Aqui, na terra, os homens são unidos a Deus, por meio da graça divina. Essa graça é um dom, livremente dado por Ele, por meio do qual nos tornamos participantes da natureza divina, como São Pedro afirma (cf. II Pedro 1, 4). Quanto mais graça um homem tem, tanto mais semelhante a Deus se torna.

Mas, e a Comunhão dos Santos?

É preciso dizer, antes de tudo, que quando participamos dos Sacramentos, especialmente a Eucaristia, os carismas e outros dons espirituais (Catecismo, compêndio, n. 194); nós participamos de uma comunhão com todos os membros da Igreja. Designa ainda a comunhão entre as pessoas santas, isto é, entre os que, pela graça, estão unidos a Cristo morto e ressuscitado. Alguns são peregrinos na terra; outros, que já partiram desta vida, estão a purificar-se, ajudados também pelas nossas orações (purgatório); outros, enfim, gozam já da glória de Deus e intercedem por nós. Todos juntos formam, em Cristo, uma só família, a Igreja, para louvor e glória da Trindade. (idem, n. 195).

“Que é a Igreja senão a assembleia de todos os santos?” (São Nicetas de Remesiana, Instructio ad competentes 5, 3, 23 [Explanatio Symboli, 10]: TPL 1, 119 (PL 52, 871).

Quando observamos mais de perto o Catecismo, nossas dúvidas são sanadas na raiz! § 947:

“Uma vez que todos os crentes formam um só corpo, o bem duns é comunicado aos outros […]. E assim, deve-se acreditar que existe uma comunhão de bens na Igreja. […] Mas o membro mais importante é Cristo, que é a Cabeça […]. Assim, o bem de Cristo é comunicado a todos os membros, comunicação que se faz através dos sacramentos da Igreja.» (São Tomás de Aquino, In Symbolum Apostolorum scilicet «Credo in Deum» espositio, 13: Opera omnia, v. 27 (Parisiis 1875) p. 224.) «Como a Igreja é governada por um só e mesmo Espírito, todos os bens por ela recebidos tornam-se necessariamente um fundo comum.» (Rom 1, 10, 24, p. 119.)

  1. A expressão “comunhão dos santos” tem, portanto, dois significados estreitamente ligados: “comunhão nas coisas santas, ‘sancta’”, e “comunhão entre as pessoas santas, ‘sancti’”.

“Sancta sanctis! (O que é santo, para aqueles que são santos)”. Assim proclama o celebrante na maior parte das liturgias orientais, no momento da elevação dos santos Dons antes do serviço da comunhão. Os fiéis (sancti) são alimentados pelo Corpo e Sangue de Cristo (sancta), para crescerem na comunhão do Espírito Santo (Koinônia) e a comunicarem ao mundo.

Depois, o Catecismo expõe a doutrina sobre: comunhão dos bens espirituais, comunhão na fé, nos Sacramentos, nos carismas e a comunhão da Caridade. É admirável a riqueza que está em nossas mãos! 

O que diz a Doutrina?

O Concílio Vaticano II, nos responde:

A comunhão com os santos.

“Não é só por causa do seu exemplo que veneramos a memória dos bem-aventurados, mas ainda mais para que a união de toda a Igreja no Espírito aumente com o exercício da caridade fraterna. Pois, assim como a comunhão cristã entre os cristãos ainda peregrinos nos aproxima mais de Cristo, assim também a comunhão com os santos nos une a Cristo, de quem procedem, como de fonte e Cabeça, toda a graça e a própria vida do povo de Deus” (II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 50: AAS 57 (1965) 56).

“A Cristo, nós O adoramos, porque Ele é o Filho de Deus; quanto aos mártires, nós os amamos como a discípulos e imitadores do Senhor: e isso é justo, por causa da sua devoção incomparável para com o seu Rei e Mestre. Assim nós possamos também ser seus companheiros e condiscípulos!” (Martyrium sancti Polycarpi 17, 3: SC 10bis. 232 (Funk 1, 336).

A comunhão com os defuntos

“Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam venerou, com muita piedade, desde os primeiros tempos do cristianismo, a memória dos defuntos; e, “porque é um pensamento santo e salutar rezar pelos mortos, para que sejam livres de seus pecados” (2 Mac 12, 46), por eles ofereceu também sufrágios” (II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 50: AAS 57 (1965) 55). A nossa oração por eles pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua intercessão em nosso favor.

Na única família de Deus

“Todos os que somos filhos de Deus e formamos em Cristo uma família, ao comunicarmos uns com os outros na caridade mútua e no comum louvor da Santíssima Trindade, correspondemos à íntima vocação da Igreja” (II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 51: AAS 57 (1965) 58).

O Santo Papa, Paulo VI, sintetiza explicando porque “cremos na comunhão dos santos”: «Nós cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo: dos que peregrinam na terra, dos defuntos que estão levando a cabo a sua purificação e dos bem-aventurados do céu: formam todos uma só Igreja; e cremos que, nesta comunhão, o amor misericordioso de Deus e dos seus santos está sempre atento às nossas orações» (Paulo VI, Sollemnis Professio fidei, 30: AAS 60 (1968) 445).

Monsenhor Jonas Abib escreveu algo forte. Quero compartilhar com você para encerrar este breve artigo:

Você precisa ter peso de santidade na sua vida. Preciso dizer a você: o céu não é para moles. Você não pode ser mole. O céu é formado por pessoas tenazes, pessoas que lutam pela sua santidade. Principalmente, hoje, é difícil, mas é preciso dizer um não ao pecado. A tentação incute, em nossa cabeça e coração, a ideia errada de que não somos capazes de viver em santidade: “Santidade é um exagero, um fanatismo e não é para mim! Para mim um ‘mais ou menos’ é o suficiente”. Ela quer nos convencer de que isso é humildade: “Quem sou eu para chegar à santidade?”

O Senhor mesmo nos disse: “Sede santos, pois eu sou santo, eu, o Senhor, Vosso Deus”. Nosso caminho é a santidade. Fomos criados à imagem de Deus. Precisamos ter a “cara” do Pai. Essa é a obra do Espírito Santo em nós. Deus tem o direito de nos transformar à sua imagem. Ele nos deu o Espírito Santo para colocar em nós a sua santidade. Esta atinge a sua família. Quando caminhamos para a santidade, arrastamos outros conosco. “Ou santo ou nada!”.

Oração: 

Espírito Santo, podes me fazer santo, tens toda a liberdade. Neste momento, renuncio a todo pensamento e sentimento contrários à santidade e renovo a minha mente, acolhendo tuas ideias e não as minhas.

Espírito Santo, eu me entrego, podes me fazer santo. Não quero nada menos do que a santidade. Amém.”

Da obra: 
JONAS ABIB. Fragmentos de uma vida em Deus, Ed. Canção Nova: São Paulo, p. 41. 

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