CONVOCAÇÃO

Chamado de Deus: Lançai as redes

No trecho do Evangelho de Lucas 5, 1-11, encontramos a chamada dos discípulos. O evangelista Lucas não coloca a chamada ao início (assim como Marcos e Mateus), mas depois que Jesus já operou e a sua fama já se difundiu. Percebemos que, ao redor de Jesus, existem dois grupos: um grupo de discípulos, a futura comunidade cristã, que o segue no caminho missionário; e outro grupo, que está ao interno, os apóstolos que são o fundamento da Igreja.

Nota-se um movimento invertido. Geralmente, se vai da intimidade dos discípulos com Jesus na solidão da montanha para o encontro da multidão, da solidão para a multidão. Aqui Jesus “traz fora” do mundo habitado dos homens para a “solidão”, isto é, para reconduzir os chamados ao encontro dos homens. A solidão da montanha é diferente da do “mar”. Essa recorda o mundo do mal e da morte, onde são enviados os discípulos ao anúncio do Reino. Temos a imagem da Igreja estreitamente unida ao seu Senhor.

O tema é a palavra, razão da convocação e reunião da multidão, essa se realiza em uma pesca copiosa e, enfim, se cumpre na chamada dos discípulos. Bento XVI denomina como a pedagogia do chamado de Deus, que não olha tanto para a qualidade dos eleitos, mas a sua fé, como aquela de Simão, que diz “Por causa de tua palavra, lançarei a rede”. 

pedro-pescador

(Foto ilustrativa | Arquivo: BY)

Talvez, Pedro nunca pegou tantos peixes na sua vida, mais ainda naquela situação inútil de pesca. Mas, para Jesus, não basta encher as redes de peixes, Ele queria dar a si mesmo. Simão pescou mais que peixes, encontrou o Senhor. O Papa Francisco vai dizer que “o maior milagre realizado por Jesus a Simão e os outros pescadores decepcionados e cansados não foi a rede com os peixes, mas ajudá-los a não cair vítimas da decepção e do desânimo diante das derrotas”. Santo Agostinho tem uma frase que pode descrever este momento: “Na minha dor mais profunda, vi sua glória e isto me surpreendeu”. 

Simão e os discípulos viram a glória de Deus, essa tirou eles da condição deles de fracassados, pois entenderam que não basta o esforço humano (trabalhamos e nada pegamos), é preciso confiar, sobretudo no Senhor, que chama e tudo faz (lançai as redes para pesca). Simão agora é chamado também por Pedro, antecipação do seu apelido. Um nome novo para uma vida nova. E ele não chama mais Jesus de Mestre, e sim o reconhece como Senhor. 

Simão Pedro não abraça Jesus para expressar sua alegria por aquela pesca inesperada, mas diz “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador”. Sobre essa atitude, Papa Francisco diz que é “acusar a si mesmo, ao invés, é sentir a própria miséria, sentir vergonha. Trata-se de algo que não se faz com palavras, mas com o coração, isto é, uma experiência concreta, como quando Pedro diz a Jesus de se afastar dele porque “realmente se sentia um pecador”. Depois, se sentiu salvo”. 

Este reconhecimento humilde de Pedro, como pecador, não afasta Jesus. Ele disse a Simão: “Não tenhas medo! De agora em diante, serás pescador de homens!”. Neste sentido, Jesus mostra que é da sua vontade que todos sejam alcançados pela sua salvação. Que a exemplo, dos discípulos, que posteriormente deixaram tudo e seguiram Jesus, possamos ouvir a Sua palavra; e, alcançados pela Sua salvação, os nossos atos, mesmo na adversidade, sejam de fidelidade à vocação que fomos chamados: a santidade.

Ricardo Cordeiro
Seminarista da Comunidade Canção Nova

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