ENTREGA

Nossa Senhora da Piedade: Agraciada por Deus

Quantas vezes eu já não me deparei com algum peregrino extasiado diante da imagem de Pietá no nosso Santuário do Pai das Misericórdias! Há poucos dias, marcou-me a devoção, a entrega e o olhar de um casal de joelhos com a filha recém-nascida para com a Virgem Santíssima. 

Fico refletindo sobre os tantos pensamentos, sentimentos, dúvidas acerca daquela Mãe que segura seus filhos mortos no próprio colo. Permitam-me escrever, a partir do meu olhar de mulher e da minha sensibilidade enquanto filha, sem me deter à teologia ou às significâncias particulares dos detalhes históricos e esculturais da imagem que, posso assim dizer, é mais viva que muitas realidades táteis.

Recordando-me ainda do casal prostrado diante de Maria, faço memória dos tempos em que um homem se curvava perante a força de outrem quando perdia uma luta, por exemplo. Era um reconhecimento da supremacia daquele que venceu. Aquela família, ali, reconhecia a própria pequenez diante da fortaleza da Mãe. De fato, é desconcertante ver a inteireza e os braços firmes da Virgem, que chora a sua dor mas que sustenta seu grande Amor.

Mãe que segura seu filho morto no próprio colo | Foto Ilustrativa: cancaonova.com

Talvez, tenha causado estranheza quando escrevi há pouco que a Mãe segurava “seus filhos mortos” no plural, quando em seu colo estava um único homem – o Cristo. Ora, se Jesus carregou consigo todos os pecados da humanidade, redimindo a cada um, Aquela que O carregou sentiu o peso da morte de todos os homens que já existiram, que existem e que virão a existir.

Qualquer mãe se sensibiliza e se compadece quando vê uma outra mulher diante da perda de um filho. Qualquer mãe sente ir embora parte de si quando se depara com o falecimento de um fruto do seu próprio ventre. Imaginemos, então, o que foi para Maria ter partes de si – do tamanho da humanidade – desfalecendo pelo peso dos próprios pecados. Não foi por um acaso a profecia de Simeão: E quanto a ti, uma espada de dor transpassará a tua alma” (Lc 2,35).

O que estaria a sustentar o regaço da Mãe? Ela não é Deus, mas ela é filha, eu respondia a mim mesma. 

O próprio nome já diz: Nossa Senhora da Piedade. Piedade é um dom que diz da filiação divina. Reconhecer-se como filho ou filha d’Aquele que é. A força da criatura está na submissão ao seu Criador. Desde o princípio, Maria se prostrou e se curvou ao Pai. Sendo filha, acreditou e aceitou os desígnios traçados, desde toda a eternidade, e se entregou.

Não é difícil perceber que a grande parte das pessoas que vivem facilmente a integração do próprio ser tem por trás personalidades que as asseguraram, mais especificamente os pais ou aqueles que assumiram tal posição. Em muitas situações, o ser humano é sustentado pela segurança que foi recebendo, ao longo da vida, desde o nascimento.

Por fim, então, faço o convite para a reflexão: se a segurança de um pai terreno acarreta, em sua maioria, um filho integrado; pense só naquele que se vê e que se sente assegurado pelo Pai do Céu

Pietá, dentre todas as belezas exteriores e detalhes produzidos com esmero, carrega em si o grande mistério – não tão escondido – de sua força extraordinária: antes de ser “Nossa Senhora” é “Filha de Deus”.

 

Catarina Xavier Santos
Comunidade Canção Nova

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