O apelo ao perdão na mensagem de Fátima

Este tema dá continuidade à sessão temática iniciada em fevereiro deste ano, baseada na obra da Ir. Lúcia, denominada “Apelos da Mensagem de Fátima”, que tem como finalidade despertar nos corações humanos a urgência do regresso a Deus. Nela, pode-se apreciar a dimensão poliédrica da Mensagem trazida pelo Anjo e pela Santíssima Virgem, o que demonstra de maneira peculiar a preocupação de Deus com a salvação dos homens. Assim sendo, são apresentadas como viés condutor a oração, a penitência e a reparação como meios eficazes para uma verdadeira conversão.
O apelo ao perdão na Mensagem de Fátima está inserido na oração ensinada pelo Anjo aos pastorinhos em sua primeira aparição no ano de 1916: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.169). Pode-se observar que este apelo é colocado logo após o apelo à caridade, o que nos faz compreender a importância desta virtude teologal, que leva a pedir perdão a Deus, não somente para nós mesmos, mas para todos: conhecidos e desconhecidos. Esta oração mostra, ainda, que o perdão deve ser suplicado principalmente para os que não têm fé em Deus e, por isso, não a praticam; para os que não O adoram e não se submetem ao seu senhorio; para os que não esperam Nele e por isso não confiam em sua bondade, bem como para os que não O amam e, por isso, não colocam em prática a caridade.


Considerando-se o princípio evangélico do perdão, a Ir. Lúcia aponta para as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que afirma a sua exigência nestes termos: “Pois se perdoais aos homens as ofensas, vosso Pai do céu vos perdoará, mas se não perdoais aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará vossas ofensas.” (Mt 6,14-16). Pode-se verificar que Jesus é categórico ao afirmar que o perdão ao próximo é uma premissa indispensável para sermos perdoados por Deus, mostrando, assim, que o seguimento a Ele requer amor ao próximo, renúncia e longanimidade. O perdão é, portanto, um remédio salutar concedido pelo divino Mestre para curar ressentimentos, mágoas e, além disso, é fonte de alegria duradoura, porque provém de Deus e nos imuniza contra as forças malignas. A Ir. Lúcia ressalta esta verdade nos seguintes termos:

Não podemos, por isso, guardar ressentimento, má vontade, aversão e, menos ainda, desejos de vingança, por qualquer ofensa, grande ou pequena que seja, que tenhamos recebido do nosso próximo. O nosso perdão tem de ser generoso, completo e sacrificado – isto, no sentido de nos vencermos a nós próprios. Será preciso fazer calar em nós mesmos o grito de revolta, acalmar nervos exaltados, manter firmes na mão as rédeas do próprio gênio e abater a fervura do amor próprio ofendido – que, com razão ou talvez sem ela, se sente magoado e irritado. (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 87).

É colocando tudo isso em prática, auxiliados pela graça divina que a verdadeira reconciliação tem lugar na vida humana. Assim, a santificação, que reflete a ação de Deus no ser do homem, torna-se uma realidade e este pode se configurar a Cristo na medida em que permite se conduzir por Ele. Assim sendo, Jesus deixa claro que, assim como Ele nos reconciliou com o Pai (cf. Jo 3, 16), também nos quer reconciliados com o nosso próximo e para isso quer que lhe peçamos a Sua ajuda, pois sem Ele nada podemos fazer (cf. Jo 15, 5). É válido ressaltar que esta dimensão cristã do perdão é inerente ao chamado que Jesus fez e continua fazendo aos seus discípulos: “Quem quiser seguir-me, negue a si mesmo, carregue sua cruz e me siga.” (Mc 8,34).

A Mensagem de Fátima, que é um apelo veemente ao perdão, portanto, é uma revelação de Deus ofendido pelos pecados da humanidade através das palavras da Santíssima Virgem: “Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido.” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.181). Trata-se de uma súplica celeste ao homem para que se arrependa e se deixe transformar por Deus, sendo que, em sua infinita misericórdia, Ele está sempre disposto a nos conceder o seu perdão (cf. Lc 15, 11-32).

O Patriarca Latino de Jerusalém Fouad Twal, por ocasião da peregrinação aniversária do dia treze maio (2014), em Fátima, salientou em sua homilia a urgência de darmos ouvidos aos apelos de Nossa Senhora com estas palavras:

São muito atuais os apelos de Maria. E o mundo, em perigo de perdição, não encontrará paz e graça se não se esforçar por colocar em prática o que a Virgem Maria pediu aqui. […] Os muros do coração são invisíveis, mas são piores do que os visíveis. E há que trabalhar para que caiam todos esses muros. E… aqui então… também deveremos voltar à oração; a pedir Àquele que “derrubou na sua carne” (EF 2,14) a divisão dos homens, que nos dê a graça de derrubar os muros que nos separam. (SITE DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA).

O gênero humano é então convidado a fazer parte da família de Deus, colocando em prática a Sua vontade (cf. Mt 12,50), construindo assim a civilização do amor, fundada no perdão, que tem como verdadeiro fruto o dom da paz. Em suma, somos convidados a compreender como, por amor a Deus, devemos amar o próximo através da vivência do perdão que brota de um coração misericordioso, que agrada mais a Deus do que a prática de sacrifícios (cf. Mt 9,13).

Você é convidado a participar da Devoção Reparadora dos Cincos Primeiros Sábados, no próximo dia 01 de junho no Santuário do Pai das Misericórdias com início às 10h, onde este tema será abordado na Catequese. Que pela intercessão do Anjo de Portugal e de Nossa Senhora, o Senhor Jesus nos conceda a graça do seu perdão e de colocá-lo em prática na convivência com o próximo em todos os lugares onde estivermos inseridos.

Áurea Maria,
Comunidade Canção Nova

REFERÊNCIAS

IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.

IRMÃ LÚCIA. Memórias da Irmã Lúcia. 17. ed. Fátima – Portugal: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2015.

SCHOKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino.Tradução de Ivo Storniolo, José Bortolini e José Raimundo Vidigal. São Paulo: Paulus, 2002.

SITE DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA. Viagem apostólica do Patriarca Latino de Jerusalém Fouad Twal à Fátima em 13 de maio de 2014. Disponível em:<https://www.fatima.pt/pt/news/homilia-13-maio.>Acesso em 18 de maio de 2019.

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