PROTEÇÃO

O preciosíssimo Sangue de Cristo está entre nós e o perigo!

Julho, mês devocional ao Preciosíssimo Sangue

Iniciamos o mês de julho com a graça de Deus e, de modo especial, dedicamos este tempo ao Preciosíssimo Sangue de Jesus. Um mês para nos aprofundarmos na vivência e nos efeitos que o Precioso Sangue de Nosso Senhor podem realizar em nossa vida.

Em primeiro lugar, é preciso ter a clareza acerca do desejo de Deus em libertar o Seu povo de toda e qualquer escravidão que o impeça de viver a liberdade de filhos, de povo amado e eleito. Isso já contemplamos no Antigo Testamento, com a libertação do povo hebreu das amarras do Egito, mas também em todo o percurso da história de salvação do povo, culminando na vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e Sua entrega na Cruz para nos salvar. 

Portanto, somos convidados a meditar, em especial neste mês, sobre o valor do Sangue de Jesus que foi derramado para nos salvar, sobretudo o seu poder que nos guarda e nos protege de todas as investidas do mal. 

O preciosíssimo Sangue de Cristo está entre nós e o perigo

Foto: RomoloTavani / GettyImagens

Sinal de libertação da escravidão

“Nessa noite, eu passarei pela terra do Egito e matarei todos os primogênitos no país, tanto das pessoas como dos animais. Farei justiça contra todos os deuses do Egito – eu, o Senhor. O sangue servirá de sinal nas casas onde estiverdes. Ao ver o sangue, passarei adiante, e não vos atingirá a praga exterminadora quando eu ferir a terra do Egito. Este dia será para vós um memorial em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua” (Ex 12,12-14).

Essa passagem da Sagrada Escritura é conhecida de cada um de nós, quando Deus ouviu o clamor do povo hebreu que estava escravo na terra do Egito. Em toda a história de salvação do povo de Israel, vemos a mão de Deus que sempre era socorro nos momentos mais difíceis, apesar da dureza dos corações. E, no contexto da passagem acima citada, o povo estava se preparando para fugir do poder do Egito. Era o grande momento de sua libertação rumo à terra prometida, sob a liderança de Moisés.

No capítulo 12 do Livro do Êxodo, contemplamos o momento da Páscoa do povo de Israel. Prepararam tudo conforme as instruções que Deus havia dado a Moisés, e marcaram as portas das casas com o sangue do cordeiro que haviam preparado para comer a Páscoa. O sangue nas portas era o sinal que aquele povo estava livre daquilo que iria suceder com os egípcios. O sangue do cordeiro era o sinal da libertação de um tempo duro, de escravidão e opressão, que há tempos aquele povo estava padecendo. Era o início de uma nova página da história do povo eleito.

Importante salientar que tudo aconteceu como o Senhor revelou a Moisés, e o povo foi liberto porque se abriu à obediência. Obedeceu à palavra de ordem e, naquele momento, pelo sangue nas portas, foram protegidos da morte.

Nesse momento marcante na história do povo de Israel, deu-se início a comemoração da Páscoa, em memória da libertação da escravidão do Egito. Traduz-se no rito que inclui a imolação do cordeiro, o comer em família, a marca com o sangue do animal nas ombreiras das portas das casas, que abarca um importante momento na vida dos judeus, bem como na constituição de sua identidade religiosa. Celebram, até hoje, este momento com alegria, gratidão e piedade, como reconhecimento da mão poderosa de Deus na vida e na história de Seu povo. 

Cristo e Sua entrega para nossa libertação 

No decorrer da história do povo de Israel, após a libertação do Egito, sabemos dos altos e baixos deste povo. Infelizmente, não foram fiéis à aliança com Deus, mas mergulharam na inconstância de um coração endurecido pelo pecado. Por isso amargaram, por conta dos próprios desvios, pois se corromperam. O profeta Isaías, em meio a este tempo difícil que o povo vivia, traz uma palavra de conforto, de esperança, que viria a se realizar tempos depois:

“Eram na verdade os nossos sofrimentos que ele carregava, eram as nossas dores que levava às costas (…) Mas estava sendo transpassado por causa de nossas rebeldias, estava sendo esmagado por nossos pecados. O castigo que teríamos de pagar caiu sobre ele, com os seus sofrimentos veio a cura para nós” (Is 53,4-5).

Diante dos sofrimentos daquele povo, o profeta apresenta a palavra de consolação. Não mais precisaríamos carregar o peso dos nossos pecados, pois viria Aquele que assumiria as nossas enfermidades. Por meio de Seus sofrimentos, do Seu sangue derramado, seríamos curados, redimidos. Não mais com o sangue de sacrifícios com bodes e cordeiros, mas com o próprio sangue do Servo Sofredor, prenunciado por Isaías.

A profecia de Isaías se consolidou em Cristo Jesus. Sim, a sua vida e entrega, tanto no momento da Última Ceia, quando Ele nos deixa o seu próprio Corpo e Sangue como alimento para nos salvar, quanto no ápice de seu sofrimento na Cruz, nos revelam o desejo do Senhor em nos salvar pelo poder do Seu Precioso Sangue. A sua entrega total e sem reserva nos mostra o único desejo do Coração do Senhor: por amor, nos devolver a vida, resgatar-nos do perigo e da morte que o pecado nos leva a experimentar.

Por isso, pelo poder do Sangue de Cristo, que não sejamos mais como o povo de Israel, inconstantes, insensatos, fracos, inclinados às paixões e idolatrias, pois já fomos libertos de todas essas inclinações. São Pedro, em sua Primeira Carta, nos exorta:

“Como filhos obedientes, não moldeis a vossa vida de acordo com as paixões de antigamente, do tempo de vossa ignorância. Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo vosso proceder. (…) Tende consciência de que fostes resgatados da vida fútil herdada de vossos pais, não por coisas perecíveis, como a prata ou o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo, cordeiro sem defeito e sem mancha” (1Pd 1,14-15.18-19)

Assim, pelo poder do Sangue de Jesus, fomos redimidos. O mal e o pecado não têm mais poder sobre nós, mesmo sabendo que vamos cair. Porém, não somos mais escravos, e não podemos permanecer no erro, na maldade e em nossas más inclinações. Clamemos o poder do Sangue de Jesus quando nos sentirmos em perigo, enfraquecidos ou nos maiores momentos de combate. Tomemos as belas palavras de Santo Agostinho, ao se referir do momento em que o lado de Nosso Senhor foi transpassado pela lança:

“O Evangelista usou de uma palavra premeditada para não dizer ‘feriu o seu lado’ ou ‘atravessou’. Disse ‘abriu’, para mostrar de que modo se abria a porta da vida, de onde emanavam os sacramentos da Igreja, sem os quais não se entra para a vida que é vida verdadeira. Aquele sangue foi derramado para a remissão dos pecados. Aquela água tempera a bebida salutar. (…) Ó morte, de onde os mortos tiram a vida! Haverá alguma coisa mais pura do que este sangue? Alguma coisa mais salutar do que esta ferida?” (Santo Agostinho, Comentário ao Evangelho e ao Apocalipse de São João)

O Sangue de Cristo na Eucaristia: nossa proteção contra os perigos

Como já citado anteriormente, além da entrega na Cruz, Nosso Senhor quis permanecer presente em nossa vida por Seu Precioso Corpo e Sangue na Santa Eucaristia. Precisamos clamar o Precioso Sangue de Cristo sobre nós, sobre nossa realidade, sobre nossa família, mas, além disso, buscá-Lo na Santa Eucaristia. Eis aí a fonte de nossa vida, o verdadeiro Alimento que nos sustenta e nos guarda de todos os perigos, principalmente das investidas do demônio.

Por isso, a importância de estarmos bem preparados por meio do Sacramento da Confissão, e, com muito zelo e ardor, recebermos Jesus presente na Santa Eucaristia, Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor. Santo Afonso de Ligório nos diz:

“Diz-se que somos livres das falhas cotidianas porque, segundo Santo Tomás, por meio deste sacramento, o homem é estimulado a fazer atos de amor e por eles se apagam os pecados veniais. Somos preservados dos pecados mortais, porque a comunhão confere o aumento da graça que nos preserva das culpas graves. Por isso escreveu Inocêncio III: ‘Jesus Cristo, com sua Paixão, nos livrou do poder do pecado, mas com a Eucaristia nos livra do poder de pecar.” (Santo Afonso de Ligório, Prática de amor a Jesus Cristo).

Que maior perigo pode existir do que a gravidade do pecado e todas as suas consequências em nossa alma? Por isso, hoje, renovamos, em nosso coração, o desejo ardente de clamar o Sangue de Jesus sobre nossas vidas, mas sobretudo, o desejo de amar Nosso Senhor na Santa Eucaristia, comungando de Seu Precioso Corpo e Sangue com todo nosso coração, amor e ardor. Que o Senhor nos guarde de todo mal, pelo poder de Seu Precioso Sangue. Amém. 

Leia mais: 

.:Reflita sobre o sacramento da confissão 
.:Como posso me preparar para uma boa confissão

Chagas abertas, oh Coração ferido. O Sangue de Cristo está entre nós e o perigo!

Deus abençoe você.

Fontes:

AFONSO DE LIGÓRIO, Santo. Prática de amor a Jesus Cristo. Tradução de Pe. Gervásio Fabri dos Anjos. 7ª ed. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1996.

AGOSTINHO, Santo. Comentário ao Evangelho e ao Apocalipse de São João. Tradução de Pe. José Augusto Rodrigues Amado. São Paulo: Cultor de livros, 2017. (Tomo III)

BÍBLIA Sagrada CNBB. 10ª ed. São Paulo: Edições CNBB/ Editora Canção Nova, 2010.

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