Diácono Willian: "Deus salvou a minha vida porque me queria padre"

Série de entrevistas vai apresentar um pouco da história vocacional e a trajetória formativa dos diáconos que serão ordenados na Festa do Pai das Misericórdias

Na Canção Nova, oito diáconos vivem a expectativa da ordenação sacerdotal, que será celebrada na Solenidade da Santíssima Trindade, durante a Festa do Pai, que acontece no Santuário do Pai das Misericórdias. E, nesta contagem regressiva rumo à ordenação, vamos conhecer um pouco da história vocacional e do percurso formativo vivido por cada um deles.

Começamos a nossa série “Novos Padres para a Igreja” com a entrevista ao diácono Willian Guimarães.

Ordenação diaconal de seminaristas da Comunidade Canção Nova – Santuário do Pai das Misericórdias, 12 de dezembro de 2021 – Fotos: cancaonova.com

O chamado

Uma frase ressoava no coração do jovem de 20 anos, empenhado nas atividades da paróquia e encantado com a doação integral dos sacerdotes: “Ser todo para Deus e para o povo”. Mas, em Três Pontas, interior de Minas Gerais, Willian vivia o dilema entre esse desejo que crescia no seu coração e a realidade de um namoro de 3 anos. E com a decisão de fazer uma escolha madura, terminou o namoro para dar espaço ao discernimento. E, neste espaço, a voz de Deus entrou de forma decisiva. Em dezembro de 2007, Willian estava assistindo à ordenação sacerdotal de 8 diáconos da Comunidade Canção Nova e pediu a Deus um selo sobre este chamado que estava sentindo, e foi respondido por meio do bispo, que presidia a celebração, Dom Alberto Taveira. Ele, na homilia, afirmou que aquela ordenação era a resposta para alguns jovens. E o selo foi ainda mais reforçado por uma frase profética de monsenhor Jonas, fundador da Canção Nova, que, no final daquela ordenação, afirmou: “No coração de Deus você já é padre”.

Com essa palavra, Willian deu os passos, entrou na comunidade Canção Nova, depois, no Seminário, onde estudou por 8 anos. Um tempo, que afirmou, foi longo, mas extremamente importante. Para ele, “o percurso do seminário torna o amor mais apurado, mais sólido, mais concreto, mais maduro, para que a resposta, como padres, no dia da ordenação, seja consciente”.

Um marco na vocação

Além de toda formação, que naturalmente o período do seminário promove, Willian viveu uma experiência forte ao sofrer, em 2016, um acidente de carro que o deixou internado por diversos dias, em risco de morte. No período, inúmeras pessoas se uniram à família de William e a toda a comunidade Canção Nova, clamando a Deus por um milagre. O chamado “SOS William” carregava um apelo: “Dai-nos o padre William”. Hoje, ele afirma que este tempo é um marco na sua vocação: “Deus salvou a minha vida porque me queria padre. Pela Misericórdia de Deus, minha vida foi prorrogada neste mundo, para que pudesse aqui, apesar da minha pequenez, ser Ele para os outros, ser esta ponte para o povo”.
Uma experiência que gera também profunda gratidão a todos que rezaram pelo milagre. E se não é possível abraçar a todos que intercederam por ele, Willian afirma que sua forma de agradecer vai ser, em todas as missas, colocar essas pessoas no cálice e na patena. “Na eucaristia, pelo mistério do altar, eu consigo abraçar todas estas pessoas. Então, quero que meu sacerdócio seja também essa expressão de gratidão”.

“Pela Misericórdia de Deus, minha vida foi prorrogada neste mundo, para que pudesse aqui, apesar da minha pequenez, ser Ele para os outros, ser esta ponte para o povo.”

Diácono Willian durante ordenação faz agradecimento – Fotos: cancaonova.com

O lema

A ordenação sacerdotal do diácono Willian Guimarães e de outros 7 diáconos acontecerá no domingo da Santíssima Trindade, quando o Santuário do Pai das Misericórdias celebra a Festa do Pai. Ao falar deste dia, os olhos do jovem, que sonhava ser todo de Deus e do povo, ganham um brilho especial. “Deus me fez para este dia”, afirma com a voz cheia de vida e de emoção. Brilho que também ressalta quando responde sobre o lema do seu sacerdócio: “Eu vivo, mas não sou eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). E afirmou: “Este é o desejo do meu coração, de que, de fato, Ele seja visto em mim, que eu diminua e Ele apareça: no meu jeito de falar, de olhar, de tocar, de abençoar, de sentir, de amar as pessoas com o coração de Cristo”.

Saiba mais:
Dia – 12 de junho de 2022
Hora: 9h30
Local: Santuário do Pai das Misericórdias – Canção Nova
Celebrante: Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias – Bispo de Lorena, SP

Ficha Técnica
Diácono Willian Silva Guimarães nasceu no dia 05/02/1987, em Três Pontas, MG.
É Membro da Associação Internacional Privada de Fiéis – Comunidade Canção Nova, desde 2011. Foi ordenado Diácono no dia 12/12/2021, no Santuário do Pai das Misericórdias.

Leia a entrevista completa

Quando você percebeu que era chamado ao sacerdócio?

O que primeiro me chamou a atenção na vida de padre foi ver que ele é um homem integralmente para Deus e para o povo, e isso foi enchendo os meus olhos para o sacerdócio. Mas quando isso aconteceu, eu namorava, estava quase noivo. Mas esta vontade de “ser só para Deus e ser só para o povo” foi crescendo muito e uma crise se instalou, em relação ao meu estado de vida. Então, eu rompi o namoro, porque eu não aguentava dentro de mim esta dualidade, e eu precisava de um tempo para respirar e ver se era isso mesmo. E, depois, as coisas foram só se confirmando através de fatos, pessoas, palavras que foram chegando até a minha vida e que me faziam entender que Deus me queria assim: só para Ele e só para o povo.

Tudo isso aconteceu em 2007, então, eu decidi participar do Hosana Brasil, na Canção Nova, em dezembro. E, no encontro, o monsenhor Jonas apresentou os 8 diáconos que seriam ordenados no domingo seguinte. E eu rezei e pedi a Deus que falasse comigo naquela ordenação porque eu iria assisti-la de casa. E assistindo, duas palavras foram decisivas: uma foi a do bispo, Dom Alberto Taveira, que, no meio da homilia, disse que aquela ordenação confirmava a vocação de outros jovens. E a outra palavra foi do monsenhor Jonas, que, no final da celebração, falou ao jovem que tinha sido tocado pela ordenação: “Se você for chamado, no coração de Deus você já é padre, basta que você dê os passos”. E essa palavra profética do nosso fundador, “no coração de Deus você já é padre”, foi que me empurrou para vir para Canção Nova, foi o que me sustentou no seminário, que me sustenta neste último mês antes da ordenação, que vai me sustentar como padre. O que estava no coração de Deus está prestes a se tornar concreto!

Neste tempo teve todo o movimento de Deus que foi muito claro, mas também teve uma resposta sua, um esforço que precisou ser feito, já que o seminário é um período longo. Como você sentiu neste tempo, podendo contribuir com a graça neste chamado, neste tempo formativo até o sacerdócio se concretizar?

Diácono Willian concede entrevista no Seminário da Comunidade Canção Nova, onde é vice-reitor. Fotos: Lízia Costa

Foi preciso a docilidade do coração para entender os tempos e as demoras, a necessidade de cada etapa, de não me deixar levar pela impaciência, mas descobrir o seminário como esse lugar de gestação do sacerdócio, esse espaço profundo e belo de formação. Porque o amor entende de esperas e demoras, de saudades, de ânsias. E o tempo do seminário de fato torna este amor mais apurado, mais sólido, mais concreto, mais maduro para que a nossa resposta como padres no dia da ordenação seja consciente. Tem uma frase que sempre me acompanhou, desde a faculdade de filosofia: “o desejo autêntico cresce com a demora. Se o desejo é santo, inspirado por Deus, é a demora que faz dele um desejo robusto”.

Existe, neste período, um momento que tenha marcado muito forte a sua vida, que vai levar para o seu jeito de ser padre?

Com certeza este momento é o acidente (em 2016, William sofreu um acidente de carro e ficou em estado muito grave). Não tem como não relembrar o que foi aquele tempo sofrido, de muitas dores físicas, também psicológicas e espirituais, muitas incertezas sobre o meu futuro. Mas também um tempo marcado pela intercessão de tantos, que rezaram pedindo pelo meu sacerdócio. E foi este o grande apelo: “Dai-nos o padre William”. Não era nem a minha recuperação, mas era para que minha vocação se concretizasse. Tenho pra mim que foi um marco no meu tempo de seminário; Deus salvou a minha vida porque me queria padre. Deus me preservou da morte pensando neste dia 12 de junho de 2022 (data da ordenação). Pela Misericórdia de Deus, a minha vida foi prorrogada neste mundo, para que pudesse aqui, apesar da minha pequenez, ser Ele para os outros, ser esta ponte para os outros. Esta visita de Deus, através do acidente, amadureceu muito a minha vocação. Eu não posso perder tempo, preciso viver a minha vida com generosidade, com entrega, preciso ser fiel. E isto sem peso nenhum, mas como uma resposta de Amor de alguém que foi amado, que teve a vida guardada por causa deste dia. Para isso eu quero viver, para isso eu tive uma segunda chance, para poder ser padre e sendo padre dar o melhor de mim para Deus e para as pessoas.
Não tem como pensar na minha vocação sem este momento. E eu quero sempre colocar no cálice e na patena os que rezaram por mim. Se eu pudesse eu daria um abraço em todos, mas acho que nunca vou conseguir. Mas na eucaristia, pelo mistério do altar, eu consigo abraçar todas estas pessoas. Então quero que meu sacerdócio seja também uma expressão de gratidão.

Qual é o seu lema sacerdotal?

Gálatas 2,20: “Eu vivo, mas não sou eu, é Cristo que vive em mim”. Deus me deu este lema antes de entrar para a Canção Nova, e este é desejo do meu coração de que, de fato, Ele seja visto em mim, que eu diminua e ele apareça: no meu jeito de falar, de olhar, de tocar, de abençoar, de sentir, de amar as pessoas com o coração de Cristo. E eu ligo muito com o lema diaconal, que é João 15, 15: “Eu vos chamei de amigo”. Porque eu vivi esta experiência muito profunda nos últimos anos do seminário, eu entendi a minha vocação como amizade com Cristo. Naqueles três critérios de uma verdadeira amizade – entre os amigos não há segredos, entre os amigos há uma comunhão de interesses, e o bem do amigo está acima do meu bem. E eu só posso ter Cristo vivendo em mim na medida em eu for amigo d’Ele. Então, são os lemas que se entrelaçam. Ser amigo de Cristo e me tornar como Ele. E me tornar como Ele porque sou amigo d’Ele.