O PAI CONSOLA

"Bem-aventurados os aflitos"

“Bem-aventurado: que ou quem usufrui de um estado de santidade e graça celestial”, diz o dicionário. 

É interessante entendermos o real significado de alguns termos, porque estes nos ajudam a mergulhar e a compreender melhor o sentido do que vivemos. 

É desde o princípio, com o pecado original, que “toda a criação geme e sofre dores de parto” (Rm 8, 20), esperando o “Reino em que ninguém mais vai sofrer, ninguém mais vai chorar, ninguém mais vai ficar triste”. 

Hoje, no entanto, o sofrimento tem estado ainda mais evidente na humanidade, diante da situação atual que enfrentamos de pandemia. O próprio prefixo “pan” já indica que é uma realidade que afeta o mundo de forma abrangente.

E justamente por estarmos diante de tanta dificuldade é que se torna quase que uma insensatez dizer de bem-aventurança e aflição. Como poderia ser bom e benéfico encontrarmo-nos aflitos? 

A aflição é um estado de angústia. Um desassossego. Uma agonia. Uma ânsia persistente. E parece impossível viver desta forma. De fato, o ser humano não foi criado para viver em constante inquietude. Contudo, como sempre gosto de dizer, porque é um consolo verídico diante de tantos mistérios, a lógica divina não é conforme o mundo em que vivemos. E se não fomos feitos para este mundo, é preciso que nos esforcemos para viver conforme a lógica de Deus.

Portanto, voltemos ao início. 

Se bem-aventurado é um estado de santidade, a aflição de minha alma tem sentido. Não para este mundo, repito, mas para o lugar onde pertenço verdadeiramente. Viver com o coração aflito e sem descanso é sinal de graça de Deus. E graça é dom. Quem recusaria um presente vindo do céu? 

A angústia torna-se boa e é dom à medida que é um meio de assemelharmo-nos ao Cristo. Como diz a Palavra: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”. (Mt 8, 20). Somos ou não somos filhos do Pai também? 

 

“Ele nos consola em todas as nossas aflições, para que, com a consolação que nós mesmo recebemos de Deus, possamos consolar os que se acham em toda e qualquer tribulação!” (2Cor 1,3-4).

Sim, é difícil compreender. Lemos e acolhemos as bem-aventuranças racionalmente ao menos. Porém, na prática não é tão simples, pois vem a dor, vêm as lutas, as perdas; e tudo o que buscamos é um lugar para reclinar a cabeça e para descansar o coração. 

Pois bem, descansemo-nos junto ao Cristo em Sua cruz. Não existe maior consolo. Ali se encontram, literalmente, as bem-aventuranças: a pobreza, a mansidão, as lágrimas, a justiça, a misericórdia, a pureza, a pacificidade e o ápice da perseguição. Se olharmos um pouco mais além, enxergamos o estado de santidade. O consolo, o Reino dos céus, a filiação, a recompensa, a face de Deus. 

“Bem aventurados os aflitos, porque serão consolados”, felizes os que derramam lágrimas, os que angustiam o coração, os que sofrem neste “vale de lágrimas”… O alento virá, talvez um pouco já aqui nessa vida. Mas o consolo verdadeiro vem na vida eterna!

Ser pobre, manso, puro, pacífico, aflito pode parecer loucura. Também a cruz o era. Na lógica divina é a nossa salvação. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” (1 Cor 1,18)

Peçamos a Deus esse olhar sobrenatural sobre todos os males que nos acontecem, que assola a humanidade. Acolhamos as dores, e conformemo-nos as bem-aventuranças de onde vem o nosso caminho de santificação.


Catarina Xavier Santos

Comunidade Canção Nova

 

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