FONTE DE MISERICÓRDIA

Um coração bate no seio da Trindade

No calendário litúrgico, a segunda sexta-feira após Corpus Christi é destinada ao Sagrado Coração de Jesus. Uma antiga devoção da Igreja, que remonta aos episódios bíblicos da Última Ceia, quando João descansa no peito do Senhor; e ao do Calvário, quando Jesus teve seu lado aberto pela lança, de onde jorrou sangue e água. Porém, celebrar esta data nos coloca em uma realidade espiritual ainda mais elevada. Como imaginar que no seio da Trindade, que é espírito, bate um coração humano por cada um de nós? Como diz o hino do Oficio das Leituras de hoje, esse coração é o novo Sacrário da Aliança do céu com a terra, que nos revela as raízes do amor invisível, da ternura com que Deus nos ama.

Por muitos anos aqui, na Canção Nova, tínhamos o Acampamento “O Coração de Jesus bate forte por você”! Essa realidade mística permanece viva: Jesus, ressuscitado, continua com o coração aberto, exposto, à semelhança da imagem que veneramos, às nossas necessidades e súplicas. Mas também vulnerável à nossa miséria, aos nossos pecados e ultrajes.

A devoção ao Coração de Cristo é antiga, já nos primeiros séculos, com Santo Agostinho (+430); ‘habitou’ a Idade Média com vários outros santos da Igreja, como Santa Clara de Assis (+1253), que saudava muitas vezes ao dia o Sagrado Coração no Santíssimo Sacramento. Também outros santos tiveram visões místicas do Coração de Jesus: Santa Lutgarda (+1246), Santa Matilde (+1298), Santa Ângela de Foligno (+1309), Santa Juliana de Norwich (+1416), Santa Verônica Giuliani (+1727) e Santa Gertrudes, a Grande (+1302), que foi uma das grandes difusoras desta devoção.

Mas foi em dezembro de 1673 que aconteceu um grande marco: Jesus Cristo apareceu a Santa Margarida Maria Alacoque, durante uma exposição do Santíssimo Sacramento, e pediu para que o seu santo coração fosse divulgado. Mostrando-O, transpassado, Jesus disse: Eis o coração que tanto tem amado os homens e em recompensa não recebe da maior parte deles, senão ingratidões pelas irreverências e sacrilégios, friezas e desprezos que tem por mim nesse sacramento do Amor”.

Mas Jesus, rico em misericórdia, não para em nossas faltas, não nos trata conforme mereceríamos, como canta o salmista (Sl 78). Por isso, disse também: Prometo-te pela minha excessiva misericórdia, a todos que comungarem nas primeiras sextas de nove meses consecutivos, a graça da penitência final. Estes não morrerão em minha inimizade, nem sem receberem os sacramentos. O meu Sagrado Coração lhes será refúgio seguro nessa última hora”.

Foto: cancaonova.com

Era o início do que ficou conhecido como as 12 promessas do Sagrado Coração:

1ª Promessa: “A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração”;

2ª Promessa: “Eu darei aos devotos de meu Coração todas as graças necessárias a seu estado”;

3ª Promessa: “Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias”;

4ª Promessa: “Eu os consolarei em todas as suas aflições”;

5ª Promessa: “Serei refúgio seguro na vida e principalmente na hora da morte”;

6ª Promessa: “Lançarei bênçãos abundantes sobre os seus trabalhos e empreendimentos”;

7ª Promessa: “Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias”;

8ª Promessa: “As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas pela prática dessa devoção”;

9ª Promessa: “As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição”;

10ª Promessa: “Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais endurecidos”;

11ª Promessa: “As pessoas que propagarem esta devoção terão o seu nome inscrito para sempre no meu Coração”;

12ª Promessa: “A todos os que comunguem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna”.

Dois séculos depois, a Beata Maria do Divino Coração pediu ao Papa Leão XIII que consagrasse solenemente esta devoção. Em junho de 1889, na encíclica Annum Sacrum, o Papa afirmou: “A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é uma forma por excelência de religiosidade. Essa devoção, que recomendamos a todos, será muito proveitosa”.

A santificação do clero

Na história recente, outros santos, como Santa Faustina, propagaram a devoção: “Ó Coração santíssimo, fonte inesgotável de misericórdia” (Diário, 72). 

Também São João Paulo II tinha muito carinho pelo Sagrado Coração de Jesus. Foi ele, em seu pontificado, que instituiu que, na solenidade do Sagrado Coração, fosse realizado o Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes. Afinal, como dizia São João Maria Vianney, “O sacerdócio é o amor do coração de Jesus”. Do Sagrado Coração de Jesus brota a graça do sacerdócio para a Igreja e para a humanidade.

Por isso, neste dia, clame pela santificação do seu pároco, de um padre amigo, do seu bispo, de toda Igreja. Podemos pedir que no coração de cada padre pulse os movimentos do Coração que bate por amor a nós no Seio da Santíssima Trindade.

George Lima
Seminarista Comunidade Canção Nova

 
Fotos: Wesley Almeida

.:Leia mais
Fidelidade do Pai
Que tal alimentarmos o desejo de ver o rosto do Senhor?
Obedientes, santos e, por isso, misericordiosos
Deus tem muitas misericórdias
Canção Nova celebrará ordenação de dois padres para a Igreja
Santuário mergulha na espiritualidade de Bethânia esse fim de semana

Deixe seu comentários

Comentário