DEUS AMA!

Deus não conhece a "cultura do descarte”

Todos os anos, quando eu saía de férias com a minha família, nós viajávamos para o sítio de um dos meus tios no interior de São Paulo. Durante a viagem, um tempo depois de sairmos da cidade, lembro-me de sentir um cheiro muito ruim e forte que tomava o carro, e toda a vez eu reclamava, e toda vez minha mãe me dizia que esse cheiro era de um lixão que ficava perto da estrada. Estou contando isso, porque é sobre isso que eu quero falar: LIXO! Aquilo que não presta, que é inútil, que se joga fora.

Talvez eu deveria ter começado este artigo falando de alguma coisa mais agradável. Porém, apesar de ser uma realidade incômoda, a verdade é que precisamos, muitas vezes, encarar nossas misérias, nossas fraquezas, aquilo que é lixo, aquilo que foi descartado por nós.

Hoje, num mundo tomado pelo consumo fácil, nem precisamos sair de casa para obter o que queremos, basta entrarmos na internet e, depois de uma porção de cliques, receber na porta de casa, alguns dias depois, aquilo que desejávamos. 

Nem sempre foi assim, mas já faz algumas décadas que esse processo vem acelerando cada vez mais. E assim, aos poucos, fomos nos acostumando, dia após dia, a ter os nossos desejos e as nossas necessidades supridos quase que instantaneamente. Com isso, esquecemos o real valor das coisas, pois aquilo que não mais atende todas as nossas necessidades é jogado fora e substituído facilmente por outra coisa. 

É difícil para mim pensar em tudo isso, e não me lembrar das muitas vezes que meus pais já repetiram quando eu era criança ou adolescente: “Matheus, você não sabe o valor das coisas”, “No meu tempo, não tinha nada disso que você tem hoje”, “Já não se fazem mais coisas como antigamente”. Aqui, constatamos que o ditado “tudo o que vem fácil vai fácil” é muito real. Trocamos as coisas rapidamente! E quantas vezes não escutamos que é mais fácil e barato comprar um novo do que mandar consertar! Assim, quando nossas necessidades, desejos e expectativas não são plenamente atendidos, jogamos fora. 

Até aqui, falei de coisas materiais, porém, esses hábitos e costumes, essa cultura não fica restrita somente àquilo que é material, pois transferimos esse comportamento das coisas para as pessoas, para os nossos relacionamentos, para nossos valores, para nós mesmos, para Deus. 

Descartamos pessoas simplesmente por não atingirem nossas expectativas ou por não serem úteis para nós. Descartamos idosos ou pessoas doentes, porque não estamos dispostos a cuidar delas, pois elas se tornam incômodos, exigem tempo e sacrifício, e não nos dão nada em troca, não trabalham e não podem mais “contribuir ativamente” para a sociedade. Descartamos bebês deficientes ou doentes que são abortados. Descartamos o pobre, o indigente, aqueles que não seguem o padrão de beleza, até nós mesmos quando erramos e falhamos, quando não conseguimos. Descartamos Deus quando aquilo que Ele nos pede é inconveniente, quando não serve para o estilo de vida que queremos para nós. 

Deus, no entanto, não pensou as coisas assim. Deus não conhece a cultura do descarte. E podemos ver isso acontecendo claramente, todos os dias, diante dos nossos olhos, ao contemplar a vida, a natureza, as criações de Deus. No mundo natural, o fracasso, a derrota não são o fim, mas um novo começo.

paulaphoto by GettyImages

Do lixo, do esterco, daquilo que é podre, dos restos Deus faz nascer nova vida. Daquilo que era sujo, do pecado, da morte, da dor, Deus fez nascer salvação, ressurreição, vida eterna, plenitude e abundância! Da aparente derrota na cruz, do sofrimento e da dor do Calvário vemos a vitória contra o pecado e a morte surgirem. 

Por isso não existe caso perdido para Deus. Ele não nos rejeita, Ele não nos descarta nem nos joga fora. Assim como Ele disse à pecadora caída: “Eu também não te condeno” (Jo 8,11), ele diz o mesmo a mim e a você. Mesmo que tenhamos muitos defeitos, muito o que consertar, e que o preço do conserto saia caro, a boa notícia é que Cristo já pagou toda a dívida com o Seu Sangue na cruz. Portanto, não podemos desanimar, não podemos entregar os pontos nem nos deixarmos abater. Permitamos que Deus comece uma obra de restauração na nossa vida, que Ele entre, toque até nas partes ruins da nossa vida, nas partes dolorosas da nossa história, naquilo que foi descartado, esquecido, jogado fora, pois Ele quer fazer surgir algo novo, um homem novo, uma mulher nova. 

E tudo isso simplesmente porque Deus nos ama, e sempre nos amou. Ele não nos fez para sermos descartados, nem para descartarmos os outros, mas para amar. Fomos criados à Sua imagem e semelhança, e sabemos que Deus é amor. Esse é o segredo para resgatarmos o nosso valor como seres humanos e, principalmente, como Filhos de Deus e irmãos em Cristo. Não vou dizer que não seja desafiante amar e deixar-se ser amado por Deus e pelos outros, pois isso exigirá de nós uma mudança muito grande na nossa maneira de ver e pensar a vida, de nos relacionarmos com as pessoas. 

A pergunta, contudo, não deve ser se é difícil ou não, mas se estamos dispostos? E aí, topa?

 

Matheus Cesário
Comunidade Canção Nova

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