NÃO FURTAR

A relação do sétimo Mandamento com a Mensagem de Fátima

Não furtar

A Mensagem de Fátima, em sua totalidade, consiste num convite a colocar em prática o que Jesus ensinou em seu ministério público, mais precisamente no que tange à prática dos Mandamentos do Decálogo dos quais retomou e reforçou quando disse: “Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento, porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a terra, não será omitido nem um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja realizado” (Mt 5,17-18). Irmã Lúcia, em sua última obra “Como vejo a Mensagem” (2007, p.20), assegura que “um dos principais motivos desta mensagem é levar-nos a uma melhor compreensão dos Mandamentos da Lei de Deus, da sua importância, do seu valor e da nossa responsabilidade, perante o dever que temos de observá-los com fidelidade e amor”.

O presente artigo dá continuidade à série sobre a relação da Mensagem de Fátima com os Dez Mandamentos, sendo este voltado para a observância do sétimo: Não furtar (cf. Ex 20,15). É fundamentado na obra “Apelos da Mensagem de Fátima” da autoria de Ir. Lúcia, reconhecida como o Catecismo de Fátima devido ao caráter doutrinário com que se expressa. Considerando-se que o homem não consegue perseverar na prática do bem sem a oração e que, antes de mais, o grande apelo inicial de Fátima é à oração e à penitência, pode-se constatar que esta Mensagem corresponde a um verdadeiro auxílio para a prática dos dez Mandamentos. No que diz respeito ao sétimo Mandamento, ajuda o homem a compreender que não deve tirar do outro de modo direto ou indireto o que lhe pertence no que tange aos bens materiais, aos imateriais e, além disso, aos bens morais. Para colocar em destaque a relevância deste Mandamento a Irmã Lúcia (2017, p. 244) se exprime com as seguintes palavras:

Deus proíbe-nos o roubo, porque é um ato contra a justiça: é injusto apoderarmo-nos de uma coisa que não nos pertence. É um ato que repugna à justiça de Deus; por isso, Ele nos diz: ‘Não cobiçarás a casa do teu próximo, […] nem coisa alguma que lhe pertença’ (Ex 20,17).

Nesta perspectiva, ela ressalta o valor primordial do trabalho – como meio justo para adquirir os bens dos quais necessitamos nesta vida terrena -, demonstrando que foi ordenado ao homem por Deus já no ato criador (Gn 2,15; 3,23), antes mesmo do pecado dos nossos primeiros pais. Assim sendo, a Irmã Lúcia assegura que o trabalho não é consequência do pecado, mas a vocação original do homem sobre a terra. Entretanto, recorda que, depois do pecado, o preceito do trabalho passou também a ser vivenciado como uma penitência reparadora na qual todos os homens foram submetidos por Deus (cf. Gn 3,17-19). Neste sentido, destacam-se as palavras de São Paulo ao se referir ao trabalho como um dever intrínseco ao ser humano: “Quem não quer trabalhar também não há de comer” (2Ts 3,10).

 



O Catecismo da Igreja (n. 2460), ao destacar a importância do trabalho humano, afirma que “por meio de seu trabalho, o homem participa da obra da criação. Unido a Cristo, o trabalho pode ser redentor”. Compreende-se assim que o trabalho, além de expressar as capacidades da pessoa como imagem de Deus (Gn 1,27), é parte principal de sua vocação ao amor: dar-se generosamente a Deus e aos demais.

Depois de ressaltar o incomensurável valor do trabalho humano, Irmã Lúcia menciona alguns tipos de furtos e de roubos que contradizem a justiça e a caridade divina, tais como: cobrar de qualquer mercadoria mais do que é justo; da parte dos que trabalham não dar o tempo devido ao seu trabalho e não se esmerar para que fique bem feito; da parte dos patrões não pagar como devem os seus subordinados; privar o próximo de seus legítimos direitos, oprimindo-o de alguma forma ou privando-o de sua liberdade; vender como boas, coisas deterioradas, fazendo-as passar por coisas perfeitas. Também menciona a difamação ao próximo como um roubo de seu bom nome, dado que assim fica privado da estima e da confiança de seus semelhantes. Afirma ser esta última, a espécie mais grave de roubo e de furto que se comete, uma vez que a pessoa assim exposta é colocada em difíceis condições na sua vida particular e pública. O Catecismo da Igreja (ns. 2408, 2409) se pronuncia contra estas práticas com os seguintes dizeres:

O sétimo mandamento proíbe o roubo, isto é, a usurpação do bem de outro contra a vontade razoável do proprietário. […] Toda maneira de tomar e de reter injustamente o bem do outro, mesmo que não contrarie as disposições da lei civil, é contrária ao sétimo mandamento. Assim, também, reter deliberadamente os bens emprestados ou objetos perdidos, defraudar no comércio, pagar salários injustos, elevar os preços, especulando sobre a ignorância ou a miséria alheia.

Isto posto, o Catecismo (n. 2412), evoca o exemplo de Zaqueu que, depois de sua conversão, comprometeu-se diante de Jesus e de seus compatriotas a ressarcir os danos que havia cometido: “Se defraudei a alguém, restituo-lhe o quádruplo” (Lc 19,8), evocando assim a reparação de sua injustiça. Deste modo, assegura que a justiça comutativa exige a restituição do bem furtado. A este respeito diz ainda:

Toda falta cometida contra a justiça e a verdade impõe o dever de reparação, mesmo que seu autor tenha sido perdoado. Quando se torna impossível reparar um erro publicamente, deve-se fazê-lo em segredo. […] Esse dever de reparação se refere também às faltas cometidas contra a reputação de outrem. Essa reparação, moral e às vezes material, será avaliada na proporção do dano causado e obriga em consciência. (N. 2487).

Com efeito, a reparação do mal cometido é a resposta mais satisfatória para o cumprimento deste Mandamento. Para se compreender teologicamente a reparação, convém salientar que o pecado veio quebrar todo o plano de Deus e Jesus veio reparar esse plano, ou seja, veio para reconstruí-lo. Por isso, a grande Reparação é a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, sendo que este foi o ato supremo do amor de Jesus por nós! Assim, quem entende a linguagem do amor, entende facilmente o sentido e o significado da reparação, pois a reparação é fundamentalmente um ato de amor.

A reparação, pedida por Nossa Senhora em Fátima, é cristológica, isto é, em união com Cristo redentor, em união com Sua Paixão, Morte e Ressurreição, em união com o Seu amor, procurando amar como Deus ama. É compreendida como uma oferta de amor da própria vida a Deus, conforme as palavras que dirigiu aos pastorinhos: “Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.173-174).

Deste modo, ensina à humanidade uma via de santificação que consiste em depender exclusivamente de Deus. Tendo em conta a importância desta Mensagem trazida nestes tempos atuais, marcados por grandes pecados, o Papa São João Paulo II, por ocasião do 80º aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima, afirmou: “A mensagem que naquela ocasião a Virgem Santíssima dirigiu à humanidade, continua a ressoar com toda a sua força profética, convidando a todos à constante oração, à conversão interior e a um generoso empenho de reparação dos próprios pecados e daqueles de todo o mundo”.

Este será o tema da Catequese que acontecerá na Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados no próximo dia 05 de junho, com início às 10h. Convidamos você a participar deste momento mariano que será transmitido pelas redes sociais do Santuário (Facebook e Instagram). Deste modo, cresceremos na compreensão e na vivência dos dez Mandamentos que nos permitem crescer na conformidade e na uniformidade com a vontade de Deus.

Áurea Maria,
Comunidade Canção Nova

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