RESSUSCITOU

Ele ressuscitou, já não está aqui!

Pensai nas coisas do alto”

Num pequeno e brilhante conto, o escritor tcheco Karel Čapek nos mostra os irmãos Lázaro, Marta e Maria lamentando a prisão de Jesus em Jerusalém e discutindo como poderiam ajudar seu mestre. Enquanto Maria está totalmente confiante de que um milagre vai acontecer e por isso quer ir logo a Jerusalém para ficar junto do Senhor, Marta quer ficar para cuidar dos seus afazeres e Lázaro manifesta uma grande insegurança em fazer a viagem. E se ele adoecer no caminho? E se estiver muito quente ou muito frio? E se os soldados romanos o apanharem? No fim das contas, ele confessa de que tem medo: “Bem que eu iria, iria de bom grado, se não tivesse tanto medo de… de morrer de novo!”

Eu voltei a morar há dois anos na minha cidade natal, no interior da Bahia, uma cidade predominantemente católica, e a grande manifestação religiosa do nosso povo é, sem dúvida alguma, a procissão do Senhor morto, na Sexta-Feira da Paixão. Nenhum outro acontecimento reúne uma multidão tão assombrosa, que percorre as ruas da cidade num cortejo fúnebre, acompanhando o andor com a imagem do corpo morto de Jesus, cantando: “ao morrer crucificado, meu Jesus foi condenado por meus crimes pecador” ou “perdão, meu Jesus, perdão, Deus de amor, perdão, Deus clemente, perdoai, Senhor!”

Foto: Cathopic by @johan

Ano após ano, a mesma história se repete: uma ínfima parcela dessa multidão participa da Vigília Pascal no sábado e da missa de Páscoa no Domingo. É como se todo o nosso povo pensasse: “De que adianta ele Ressuscitar no terceiro dia, se no ano que vem vai morrer de novo?” Essa mentalidade não está distante daquilo que o escritor tcheco expressou em sua história fictícia: Lázaro sabia que morreria novamente e que da próxima vez não haveria Jesus para ressuscitá-lo. Sua ressurreição não era definitiva. Era um milagre – um grande milagre – mas nada além disso. Talvez nós olhemos para a ressurreição de Jesus e a encaremos da mesma forma: um grande milagre, mas nada muito diferente da ressurreição de Lázaro.

O Papa Bento XVI nos alerta para a necessidade de compreendermos bem essa distinção para que a Páscoa se torne realmente vida para nós: a ressurreição de Jesus:

“não é uma simples volta à vida precedente, como o foi para Lázaro, para a filha de Jairo ou para o jovem de Naim, mas é algo completamente novo e diferente. A ressurreição de Cristo é a chegada a uma vida não já submetida à caducidade do tempo, uma vida imersa na eternidade de Deus”.

Justamente por isso, São Paulo nos diz que, se ressuscitamos com Cristo, devemos buscar as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. “Pensai nas coisas do alto”, nos diz o Apóstolo dos Gentios, “e não nas da terra, pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3, 1-3). Talvez você esteja vivendo um tempo pascal de muita tristeza, por estar imerso em seus problemas, nas frustrações da vida, assim como os discípulos de Emaús, que não tinham sido ainda capazes de vislumbrar que a vida venceu a morte. É necessário, portanto, fazer uma experiência com o Ressuscitado, sentar-se com Ele, partilhar o pão e o vinho, deixar o coração ser aquecido pelas suas palavras, para então, animado, revigorado, levantar-se e, com a alma radiante, anunciar que Cristo ressuscitou!

Se nessa Páscoa seu coração não está vibrando com a vida nova trazida por Cristo, talvez você esteja como o Lázaro daquele conto ou como aquele povo que só aparece na Igreja na Sexta-feira da Paixão: preso à vida antiga, paralisado, enfeitiçado diante da morte. Ouça como dirigidas a você as palavras daquele anjo: “Não tenhais medo. Buscais Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Ele ressuscitou, já não está aqui” (Mc 16,6).

 

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