Pedir o dom da fé para bem viver a vida

Fé para bem viver

27º Domingo do Tempo Comum
Hab 1,2-3; 2,2-4; Sl 94; 2Tm 1,6-8.13-14; Lc 17,5-10

A direção de Deus para nós nesse domingo através da liturgia é a fé. A primeira leitura do profeta Habacuc mostra-o preocupado com a opressão do reinado de Joaquim, rei de Judá (609-598 a.C). Por isso, o profeta grita por socorro, Deus responde para ele e pede que escreva, que registre sobre as tábuas que haverá um desfecho, a justiça será feita, não tardará e por fim disse “o justo viverá por sua fé” (Hab 2,4). Essa palavra foi direcionada pelo profeta a Deus e podemos, com certeza, verificar sua atualidade, ainda hoje, diante dos males que o povo de Deus passa por causa algumas autoridades, pelas enfermidades e pela falta de amor. O profeta, ao clamar o socorro do alto, quer convocar a todos a fazerem o mesmo e por outro lado deseja que o povo tenha fé. Deus ainda pede através do profeta que se viva a justiça, ou seja, seja de Deus, seja honesto, seja caridoso, pois quem vive assim está a viver a fé em Deus.

Santa Missa no Santuário do Pai das Misericórdias (Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com)

Exortados a guardar a fé com amor

O salmista canta e chama a atenção do povo para que esteja com o coração aberto e, com fé, confie no Senhor, tenha fé: “não fecheis os corações…” (Sl 94,8). São Paulo, na mesma linha de pensamento do salmista, exortou Timóteo a não esmorecer devido a sua juventude, mas se lembrar e assumir o “dom de Deus que recebeste pela imposição de minhas mãos” (2Tm 1,6). O apóstolo Paulo ainda se colocou como exemplo e o chamou para oferecer com ele tais sofrimentos. Timóteo deveria guardar as palavras de seu pai espiritual, guardar a fé e o amor. Como é bom ter homens e mulheres de fé: nossos pais, avós, amigos, nossa Igreja nos transmitiram a fé. Da mesma forma que Timóteo foi exortado a se lembrar da graça que recebeu, as leituras de hoje querem também nos fazer lembrar que recebemos a graça da fé pelos nossos antepassados e pela Igreja. Assim como cada mãe gesta, gera, dá a luz, amamenta, cuida, ajuda a crescer e transmite afeto, carinho e tudo que há de bom, a Igreja acolheu o dom e transmitiu aos seus filhos.

“Senhor, aumenta a nossa fé”

Se, na primeira leitura, no salmo e na segunda leitura os autores exortavam à fé o povo e a se recordarem do dom recebido, no Evangelho os discípulos tomaram a iniciativa e pediram que a fé fosse aumentada. E Jesus ensinou que uma fé ainda que pequena seria capaz de transportar uma amoreira para o mar. Os discípulos caminharam com o Senhor, viram seus milagres e ouviram seus ensinamentos, mas mesmo assim pediram para a fé ser aumentada.

Irmãos, seja qual for o grau de nossa fé em que chegamos, a liturgia de hoje quer, primeiro, nos recordar da graça da fé que recebemos em nosso batismo e, segundo, deseja que peçamos que a nossa fé seja aumentada.

E para quê a recordação de que temos fé? Para que saibamos que temos esse poderoso instrumento para vencermos as mais variadas situações do dia-a-dia. Temos fé, por isso não paramos nas barreiras. Temos fé, por isso a doença não é motivo de desespero. Temos fé e ainda que nos deparemos com a morte, acreditamos, temos fé na ressurreição.

Rezar e dar o passo

E depois, por que pedir para ter mais fé? Exatamente para que seja possível “transportar” tantas realidades difíceis que aparecem no decorrer da caminhada. Na primeira leitura uma situação de opressão da autoridade, o que podia fazer o povo que estava refém de um reinado? Parece que não podiam enfrentar tal situação para mudá-la, então o caminho era o exercício da fé, acreditar em Deus. Com isso, não queremos dizer que basta rezar e tudo ficará em paz, mas rezar e dar os passos, rezar e trabalhar, rezar e dar passos para a reconciliação, rezar e dar o passo para ajudar o próximo. Rezar e viver a fé em Cristo Salvador que impulsiona para viver aqui com a esperança da vida eterna. A fé não deve ser pedida e exercitada apenas para adquirir coisas, mas deve-se ter fé e exercitá-la para poder bem viver.

Padre Marcio Prado
Vice-reitor do Santuário do Pai das Misericórdias

Pe-Marcio-José-do-Prado-VICE-REITOR

Deixe seu comentários

Comentário