O olhar do Pai nos restaura do pecado

O olhar misericordioso do Pai reconstruir no silêncio aquilo pecado destruiu

Nesta quinta-feira, 19 de maio, a Santa Missa da Novena do Pai das Misericórdias foi presidida pelo Padre Fabrício Andrade.

Confira a homilia na íntegra:

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Padre Fabrício Andrade presidiu a Celebração Eucarística

“A liturgia de hoje, na primeira leitura, a princípio parece que não tem nada a ver com a gente porque fala dos ricos e, provavelmente, aqui no nosso meio, não tem muitos ricos. E se tiver, é bom ficar quetinho porque está cercado de pobres e eles podem pedir dinheiro emprestado.
Provavelmente, não tem no nosso meio muitos ricos. Talvez, nós não somos ricos, não amontoamos dinheiro, mas a gente vai se enriquecendo e amontoando tantas coisas que nós acreditamos ser uma riqueza; que aí sim, a primeira leitura pode falar para mim e para você. Essa riqueza que não faz referência só a dinheiro mas é aquilo que me leva a pecar.

Jesus amaldiçoa o mau uso do dinheiro

Na primeira leitura, o dinheiro não é amaldiçoado, e Jesus não amaldiçoou o dinheiro mas o mau uso do dinheiro. Várias vezes no Evangelho, Jesus falou. E, agora, na primeira leitura, São Tiago vai dizer: se esse dinheiro está te levando a pecar – e, está levando a pecar, porquê? Porque na última parte da primeira leitura, ele fala – esse dinheiro que foi amontoado porque você não pagou o salário de quem trabalhou. Esse dinheiro amontoado que está te corroendo, que está sendo comido com a ferrugem. E como é que a ferrugem age? Silenciosamente, ela vai corroendo as estruturas e no dia que chega para cair aquela estrutura, a ferrugem já estava lá trabalhando em silêncio. Porque muitas vezes, aquilo que faz mal, não faz escândalo, vai corroendo devargazinho, quando a gente percebe, já está a estrutura toda comprometida. Isso acontece com a nossa vida espiritual, isso acontece com a nossa vida cristã. À medida que nós vamos amontoado as nossas riquezas, sejam ela de dinheiro ou de coisas, ou de títulos, seja lá qual é a riqueza que você tem acumulado.

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Hoje tem gente que acumula riquezas de todos os tipos: tem gente que acumula até lixo e coisas, e pensa que aquilo é uma riqueza. O grande problema é se isso te leva a pecar. Porque o que Jesus fala no Evangelho não é uma maldição. Nem para a mão, nem para o pé, nem para o olho. Jesus não está amaldiçoando a minha mão, o meu pé, o meu olho. O que mais se repete nesse Evangelho é ‘se te leva a pecar’. Se tua mão te leva a pecar, se teu olho te leva a pecar, se teu pé te leva a pecar. É uma radicalidade contra o pecado e não incentivo ao esquartejamento. Não é para ninguém sair daqui com menos uma mão, menos um pé. (…) Ofertamos lá no altar umas mãos, pés, olho, não. Jesus não está amaldiçoando a mão, olho e o pé, mas toda o instrumento, toda a escolha que eu faço que me leva a pecar, que vai me corroendo, que vai me enferrujando a minha disposição. Coisas boas mas que podem me levar a pecar pelo mau uso. A mão é uma coisa boa, o olho é uma coisa boa, os pés são uma coisa boa. Porém mal usado, assim como o dinheiro que é uma coisa boa, mal usado, pode corromper e corrompe estruturas e pessoas, quando mal usado.

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Grupo de Alagoas acompanho pelo pároco que concelebrou na Santa Missa

O olhar do Pai das Misericórdias

Então, hoje, nessa novena do Pai das Misericórdias, eu preciso identificar o que me tem levado a pecar. Não para poder culpar mas para poder ter a coragem de voltar, assim como o filho mais novo, que foi corroído pela ferrugem do mau uso daquele dinheiro do pai e ele foi embora e gastou tudo; e, ali, foi ruindo tudo o que ele tinha. Lembrando do olhar daquele pai, ele fez uma revisão de vida, e voltou para casa. Assim como a primeira leitura fala da ferrugem que destrói no silêncio, o Evangelho de hoje fala para nós também de algo que constrói no silêncio. Jesus diz assim: ‘Coisa boa é o sal.’ E é interessante o sal. Porque o sal sozinho é amargo. O sal só tem gosto quando misturado. Quado ele está junto com outra comida, com outro tempero, que vai realçar o gosto daquela verdura. O sal tem de que se misturar para fazer aquela comida ficar melhor. E muito sal amarga; pouco sal fica insonso. Mas é interessante que o sal onde ele chega, ele transforma. Quando Jesus fala no final do Evangelho – ‘tendes sal em vós mesmos’- Jesus está chamando a mim e a você para sermos agentes de transformação não como a ferrugem que corrói, mas como o sal que dá sabor, que conserva, que purifica. Nós somos chamados, A debaixo do imisericórdia hoje, como aquele filho, a identificar o que tem me levado a pecar. O dinheiro que aquele pai entregou para o filho não é um dinheiro amaldiçoado, mas o mal uso daquele dinheiro. Mas, mesmo assim debaixo do olhar silencioso do pai bastou que aquele filho lembrasse e, a lembrança do pai naquele olhar silencioso, fez com que ele revertesse o caminho e voltasse. Que nestes dias que nós estamos aqui rezando, que debaixo desse olhar amoroso do Pai das Misericórdias que vê as nossas ferrugens, que vê aquilo que nós temos amontoado, que não desvia o olho da minha feiura, da sua feiura, daquilo que está fedendo já, mas é capaz de ir lá, naquilo que está apodrecendo e salgar para dar gosto de misericórdia. O que nós estamos celebrando nesses dias é a coragem de muitos filhos que lembrando do olhar misericordioso do Pai, está voltando.
Que eu e você tenhamos a coragem de lembrar desse olhar que um dia nós experimentamos. Ainda que tenhamos sido corrompidos, pelo mau uso da minha mão, do meu olho, da minha boca, da língua, dos meus pensamentos, dos meus medos, o olhar misericordioso do Pai que não faz barulho, como o sal, pode reconstruir no silêncio aquilo que na ferrugem do meu pecado foi destruído.”

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