O nome próprio do Espírito Santo é Dom

Dom Benedito Beni preside Santa Missa no terceiro dia da Novena do Pai das Misericórdias

Neste Domingo de Pentecostes, Dom Benedito Beni, bispo emérito de Lorena, presidiu a Santa Missa e rezou o terceiro dia da Novena no Santuário do Pai das Misericórdias.

Confira a homilia, na íntegra, de Dom Benedito Beni sobre o Espírito Santo:
“Essa presença silenciosa do Espírito Santo no Batismo de Jesus revelou a todo o povo que Ele era o Cristo, o Messias Salvador, o Messias, cheio do poder do Espírito Santo.
E, após o Batismo, afirma São Lucas, o Espírito Santo conduziu Jesus ao deserto onde Ele fez um retiro de 40 dias preparando-se para realizar a Sua missão. E o Espírito Santo está presente em todo o ministério de Jesus. Algumas vezes, o Evangelho afirma que saía de Jesus uma força que operava ao redor d’Ele e curava a todos. Essa força que saía de Jesus e curava as pessoas é o símbolo do Espírito Santo, pois o Espirito Santo é chamado no Novo Testamento o “Dedo de Deus”, a “Força de Deus”.
E a Carta aos Hebreus afirma que foi movido pelo Espírito Divino que Jesus na Cruz entregou a Sua vida para a redenção da humanidade. E São Paulo, no capítulo oitavo da Carta aos Romanos afirma que o mesmo Espírito que ressuscitou Jesus de entre os mortos dará vida aos vossos corpos mortais. Portanto, irmãos e irmãos, Jesus é um evento de Espírito Santo; é uma obra-prima do Espírito Santo.

O “outro Paráclito”

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Dom Benedito Beni no Santuário do Pai das Misericórdias

Mas além de revelar o Espírito Santo presente n’Ele, Jesus revelou também o Espírito Santo através de palavras. Na última Ceia, Ele chamou o Espirito Santo de “outro Paráclito”. O primeiro Paráclito é Jesus, o outro Paráclito igual a Jesus é o Espírito Santo. A palavra Paráclito é um vocábulo da língua grega que significa três coisas: Defensor, Consolador e Intercessor. E, antes da Sua Ascensão ao Céu, Jesus recomendou aos discípulos que não se afastassem de Jerusalém mas ficassem aguardando o Espírito prometido pelo Pai que Ele mesmo, Jesus iria enviar. E Jesus fala do Espírito Santo como uma força que vem do Céu e envolve todos os discípulos. E como ouvimos a primeira leitura desta Missa, tirada do Livro dos Atos, essa promessa de Jesus de enviar o Espírito Santo realizou-se no dia de Pentecostes. Esse trecho do capítulo dois do Livro dos Atos está cheio de pormenores significativos, importantes para a nossa fé. Afirma o texto que, no dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos unidos em torno de Maria, mãe de Jesus, no dia de Pentecostes. Trata-se do Pentecostes judaico que era celebrado cinquenta dias após a Páscoa para comemorar a aliança de Deus com o Povo de Israel no Monte Sinai. O Pentecostes judaico era chamado também a Festa da Colheita: o agradecimento alegre a Deus pelos frutos da terra, pelos alimentos que estão sobre a nossa mesa e conservam a nossa vida.

Ruah: Vento impetuoso

E o Livro dos Atos afirma que o Espírito Santo mostrou a Sua presença onde estavam os apóstolos em forma de um vento impetuoso. O vento! O vento em hebraico, na língua hebraica, chama-se Ruah que significa Espírito. O vento foi uma das imagens usadas por Jesus para nos mostrar quem é o Espírito Santo. Irmãos e irmãos, ninguém de nós vê o vento mas ninguém de nós duvida da existência do vento por causa dos efeitos que ele provoca. O vento sacode os galhos das árvores, o vento refrigera os nossos corpos, o vento, às vezes, é tão forte que move embarcações. Ora, segundo Jesus, o Espírito Santo é semelhante ao vento. Nós não vemos o Espírito Santo pois Ele não se encarnou, não assumiu o rosto humano, permanece para sempre espírito. Mas ninguém duvida da existência do Espírito Santo por causa dos efeitos que Ele provoca na Igreja e na vida das pessoas. Recordemos alguns efeitos que o Espírito Santo provocou nos apóstolos no dia de Pentecostes. Antes de Pentecostes, os apóstolos estavam parados, espiritualmente paralíticos, não sabiam que rumo tomar. E, apenas, recebem o dom do Espírito Santo, eles abrem portas e janelas e caminham para as ruas, anunciando Jesus Cristo e o Seu Evangelho. O Espírito Santo colocou a Igreja nas ruas. Antes de Pentecostes, os apóstolos, simples pescadores, pensavam que não sabiam ensinar, pregar, que isso era coisa de pessoas estudadas: sacerdotes, doutores da lei. Apenas receberam o Espírito Santo, eles notaram que agora tinham uma capacidade que antes não havia neles. A capacidade de ensinar, de proclamar Jesus, de proclamar o Seu Evangelho.

Porquê Línguas de fogo?

O Espírito Santo – diz o Livro dos apóstolos – desceu sobre os apóstolos e sobre Maria, mãe de Jesus, em forma de línguas de fogo. Porquê línguas? Porque o principal dom que o Espírito Santo concedeu aos apóstolos, no dia de Pentecostes, foi o dom da Palavra, o dom da língua: proclamar Jesus Cristo e o Seu Evangelho. E porquê línguas de fogo? O fogo, irmãos e irmãs, é imagem, é símbolo de amor, de audácia de coragem. E, de fato, os apóstolos receberam do Espírito Santo a capacidade de anunciar Jesus Cristo e o Seu Evangelho mas não com desânimo. Quando nós anunciamos Jesus Cristo e o Evangelho com desânimo, ninguém acolhe a Palavra. Diz o Livro dos Atos que eles evangelizavam com parresia. Voltando para a língua grega, significa: evangelizavam com coragem, com audácia, com paixão. É desse modo que nós devemos anunciar Jesus Cristo e o Seu Evangelho. E ainda mais: Lucas faz uma lista de representantes dos povos presentes em Jerusalém para a celebração do Pentecostes judaico. Eram os judeus da diáspora: viviam em lotizações, falavam as línguas de outros povos. E a lista de Lucas não tem lógica: eles mistura povos grandes com povos pequenos, povos conhecidos como desconhecidos. São Lucas quer agora justamente mostrar que não existe mais uma língua sagrada, que o Evangelho deve ser proclamado em todas as línguas. Que ele deve ser anunciado a todos os povos, grandes e pequenos, conhecidos e povos desconhecidos.

Qual o nome próprio da terceira pessoa da Trindade?

Irmãos e irmãos, vejam quantas maravilhas o Espírito Santo provocou nos apóstolos, realizou nos apóstolos no dia de Pentecostes. Com o dom do Espírito Santo no dia de Pentecostes, termina a missão terrestre de Jesus e se inicia a missão da Igreja. E o Espírito Santo desce sobre a Igreja para que a Igreja seja o Seu templo, para que cada cristão seja também templo do Espírito Santo, como apóstolos e Ele vem do Céu como dom.
Santo Agostinho, na sua obra sobre a Trindade, uma obra importante, profunda, coloca a seguinte questão: “Qual o nome próprio da terceira pessoa da Trindade? Nós o chamamos de Espírito Santo. Mas Espírito o Pai também é; Espírito, o Filho também é; Santo, o Pai também é; Santo, o Filho também é. Então, qual é o nome próprio da terceira pessoa da Santíssima Trindade? E Santo Agostinho responde: É Dom!”
O Espírito Santo é Deus que vem até nós como presente, como graça, como dom.
E quando Ele se torna presente em nós, Ele provoca ainda outros dons, a graça santificante, participação misteriosa na própria vida de Deus, que faz de nós filhos e filhas de Deus no sentido profundo, no sentido novo.
Quando o Espírito Santo está presente Ele provoca também os carismas de que fala a segunda leitura desta Missa. Carisma é aquela disponibilidade que o Espírito Santo cria em nós para que nos coloquemos com todos os nossos dons, com todas as nossas capacidades, a serviço da construção da Igreja e da sua missão.
E é uma coisa maravilhosa, irmãos e irmãs, eu já fiz essa experiência: basta a gente fundar uma comunidade na periferia de uma cidade e logo aparecem as pessoas, oferecendo-se para a catequese, para cuidar da liturgia, cuidar do canto, cuidar dos pobres, para as diversas pastorais.
Isso é carisma, é dom do Espírito Santo e são os carismas do Espírito que são o fundamento de todos os ministérios, de todos os serviços, de todas as pastorais que existem na Igreja.
Quando o Espírito Santo está presente em nós, Ele produz os seus frutos, enumerados por Paulo, no capítulo quinto da Carta aos Gálatas: a bondade, o amor, a justiça, a alegria, a paz, o autodomínio; estes frutos são dinâmicos, são frutos do Espírito mas que deve crescer, desenvolver-se com a nossa colaboração.

Sacramentos: obras do Espírito Santo

Irmãos e irmãs, o Evangelho recorda que é o Espírito Santo que age nos Sacramentos, Ele é o protagonista dos Sacramentos. Na tarde do Domingo da Ressurreição, como vimos no Evangelho, Jesus aparece aos Seus discípulos e lhes diz: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados.” (…)
O sacramento da Confissão perdoa os nossos pecados não apenas juridicamente, exteriormente. O sacramento da Confissão restitui a cada um de nós aquela condição de novas criaturas nascidas da água do Batismo. E isso é obra do Espírito Santo: nos tornamos novas criaturas.
O Batismo é o Sacramento do novo nascimento, da água e do Espírito Santo. É o Espírito Santo que dá fecundidade às águas do Batismo para que elas possam gerar filhos e filhas de Deus. A unção do Crisma, na Confirmação, é a unção do Espírito. A unção exterior do óleo sagrado é simbolo da unção interior do Espírito Santo que capacita o crismando para exercer uma missão.
Na celebração da Eucaristia, é pelo poder do Espírito Santo que o pão e o vinho se tornam Corpo e Sangue de Cristo. Por isso, mesmo na Eucaristia, também nos outros sacramentos, existe a epiclese: a invocação do Espírito Santo sobre o pão e o vinho mas também sobre a assembleia que participa da Eucaristia. Então, os sacramentos que nos comunicam a graça divina são obras do Divino Espírito Santo.

Três afirmações finais sobre o Espírito Santo

Irmãos e irmãos, nós podemos falar ainda muito sobre o Espírito Santo, que os textos que nós ouvimos são riquíssimos. Mas eu quero encerrar a minha reflexão com três afirmações:
A primeira nós ouvimos na segunda leitura dessa Missa. São Paulo afirma que nós bebemos de um único Espírito, porque nos Evangelhos, o Espírito é comparado a água e a água mata a nossa sede. É o Espírito Santo, irmãos e irmãos, que sacia essa sede misteriosa que nós temos de Deus através do dom da fé. O dom da fé é dom do Espírito Santo.
A segunda afirmação se encontra no capítulo quinto da Carta aos Gálatas que eu já citei.
São Paulo afirma: “Se nós possuímos o Espírito deixemo-nos guiar pelo Espírito.” Nós já possuímos o Espírito: O recebemos no nosso Batismo, no sacramento da Confirmação. Mas, às vezes, irmãos e irmãs, nós nem sequer tomamos consciência de que somos templo do Espírito Santo. Portanto, se o Espírito Santo habita em nós, deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo.
Ele nos fala sobretudo através da nossa consciência moral que manda fazer o bem e evitar o mal.

Padre Marcio Prado, vice-reitor do Santuário do Pai das Misericórdias, e Dom Benedito Beni, bispo Emérito de Lorena

Padre Marcio Prado, vice-reitor do Santuário do Pai das Misericórdias, e Dom Benedito Beni, bispo Emérito de Lorena

Quando nós fazemos o bem a nossa consciência nos aplaude; quando nós praticamos o mal, a nossa consciência nos repreende, dói! E o Concílio Ecumênico Vaticano II, na Constituição pastoral Guadium et Spes afirma que a voz da nossa consciência é a voz de Deus, é a voz do Espírito Santo. O Espírito Santo nos fala através do testemunho do próximo. O testemunho é um ato de evangelização. Quando nós anunciamos a Palavra de Deus surge um problema: será que fui compreendido, não fui compreendido? Mas quando alguém dá testemunho não precisa de interpretação. O testemunho de vida fala por si mesmo. E o testemunho de vida de um cristão é também voz do Espírito Santo.
Mas, de um modo muito especial, irmãos e irmãos, o Espírito Santo nos fala através da Palavra de Deus. A Palavra de Deus é chamada na Sagrada Escritura dabar: palavra-ação. Através da Palavra de Deus, o Espírito Santo penetra em nossos corações, age na nossa vida, nos ilumina, nos chama à conversão, nos conduz à salvação.
E a última afirmação do apóstolo São Paulo que quero citar, para encerrar a nossa reflexão está na segunda leitura. Afirma Paulo: “Ninguém pode dizer Jesus é o Senhor a não ser movido pelo Espírito Santo” Dizer Jesus é o Senhor é fazer a confissão fundamental da fé. Jesus é Deus, Ele é o Ressuscitado, Ele é o Salvador. Mas dizer Jesus é o Senhor, irmãos e irmãs, significa também fazer de Jesus o Senhor da nossa vida, o Rei, Aquele que governa os nossos pensamentos, os nossos sentimentos, a nossa conduta, os nossos projetos de vida.
E ninguém pode fazer de Jesus o Rei da sua vida se não for movido pelo Espírito Santo. Missão do Espírito é conduzir todas as pessoas a Jesus, a missão do Espírito é fazer que Jesus se torne o Rei deste mundo, o Rei da Igreja, o Rei da nossa vida. Amem.”

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