Homilia de Domingo, reflexão para 18ª semana do tempo comum
Queridos filhos do Pai das Misericórdias, estamos no Domingo da 18ª semana do Tempo Comum e a liturgia nos ilumina para vivermos bem essa semana no sentido de ter um olhar para as coisas que não passam, um olhar e um coração voltado para Deus. Onde está o meu olhar? Apenas no plano material ou no eterno?
No mundo de hoje de tantas novidades, tanta tecnologia, tanta facilidade as pessoas acabam por se entreter em tantas coisas que se esquecem do essencial. Já ouvi os “antigos”, pessoas mais vividas, dizerem “naquele tempo era tão difícil, mas vivíamos bem”, “não tínhamos tantas facilidades como hoje, hoje tem mas passa-se tanto aperto”. É engraçado ouvir isto, pois se a tecnologia, se a organização veio para nos ajudar por quê não ajuda? O que há de errado com o homem? Do que adiantou tanto avanço quando se regride nas “novas prisões” no cuidado com o outro, com o ser humano?
A resposta talvez esteja na “nova prisão” num imediatismo, tudo na hora ou numa “nova prisão” com o nome hedonismo, ou seja, na busca pelo prazer, “o que vale é o prazer”. Na primeira leitura (Ex 16,2-4.12-15) temos um povo insatisfeito, que se revoltou contra Moisés e Aarão, pois estava com fome, a leitura diz “No Egito… comíamos pão com fartura!”(3) aqui se percebe que o povo preferia a escravidão com o que comer do que a liberdade com dificuldades. Ainda hoje esse tipo de opção é feita, o pecado aparentemente é bom mas escravisa, o pecado dá prazer mas prende, a pessoa que se entrega aos prazeres na verdade não está livre e sim escrava das vontades, infelizmente o prazer pelo comer fez com que o povo murmurasse e ainda fizesse a opção pela escravidão. Deus não quis a escravidão novamente para seu povo, por isso enviou o alimento do céu, mandou carne e pão para o seu povo, e Moisés deixou claro quando o povo perguntou “Isto é o pão que o Senhor vos deu como alimento”(15). Deus é muito paciente e misericordioso e através do pão a liberdade do povo foi retomada.
No Evangelho (Jo 6,24-35) temos uma realidade semelhante onde Jesus aproveita a oportunidade para ensinar o povo. O Cristo já havia feito muitos milagres, inclusive o milagre da multiplicação dos pães, e ele notou que a multidão estava à sua procura por causa do pão, aqui mais uma vez o povo que deseja algo momentâneo e material, com isso o Mestre deu a lição “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará”(27). Em outras palavras não se deve buscar apenas aquilo que é perecível, aquilo que passa logo, não a um imediatismo, não ao prazer pelo prazer, a vida não se trata apenas de buscar um prazer momentâneo e material, a vida é muito mais que aquilo que se vê, que se toca, há algo que transcende, há um Deus capaz de nos oferecer algo que permanece.
Assim, Jesus Cristo, o enviado de Deus Pai, nos oferece o Pão da Vida, ele é o Pão da Vida, a Eucaristia é o alimento espiritual vindo do céu para nos salvar. Deus continua a ser muito bom e misericordioso com seu povo, tanto que agora em Jesus, Ele ensina qual Pão se deve buscar, aquele que não passa, O alimento para e da vida eterna. Pois a comunhão com o Corpo de Cristo além de garantia de céu traz consigo a responsabilidade de sermos pessoas “eucaristizadas”, ou seja, homens novos que se despojaram do homem velho, homens que deixaram as paixões e que renovam sempre a sua mentalidade (Ef 4,17.20-24), homens que buscam as coisas do alto e por isso são livres, pessoas que passam por dificuldades, mas não se deixam “vender” ou “comprar” pelos prazeres mundanos. O homem e a mulher eucarística faz o bem, vive o amor e o respeito, vive a misericórdia e a verdade.
Pe. Marcio José
Vice reitor do Santuário do Pai das Misericórdias