MENSAGEM DE FÁTIMA

O apelo à perfeição da vida cristã

Pode-se afirmar que os santos Francisco e Jacinta Marto foram as primícias da “perfeição da vida cristã” oferecidas a Deus

O apelo à perfeição da vida cristã é o décimo sétimo, evidenciado na obra “Apelos da Mensagem de Fátima” escrita pela irmã Lúcia, com o fim de dar a conhecer ao mundo o que Deus falou por meio da “Branca Senhora” de Fátima.

Neste sentido, o então Papa Bento XVI, por ocasião de sua visita à Fátima na peregrinação aniversária de maio de 2010, afirmou: “Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída” (BENTO XVI, 2010). Para exprimir este apelo de cunho sempre atual, a Irmã Lúcia parte da sexta aparição da Santíssima Virgem em Fátima em que “na segunda manifestação, Nosso Senhor mostrou-Se como Homem perfeito, e Nossa Senhora como a Senhora das Dores” (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 167). Então, assegura que esta aparição “é um apelo à prática da vida cristã, tal como Jesus Cristo e Sua Mãe a viveram na terra e, com os Seus exemplos e a Sua doutrina, nos ensinaram a seguir os Seus passos” (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 167). 

Como exímia conhecedora da Sagrada Escritura, a vidente de Fátima coloca em relevo a profunda ligação que há entre este Apelo e a Palavra de Deus, mostrando que Jesus Cristo – modelo de perfeição por excelência – quis expressá-la ao mundo não somente como Redentor que veio para salvar o homem do pecado, mas também como Mestre que veio para libertá-lo das trevas da ignorância, sobretudo acerca das verdades eternas. Neste sentido evidencia as palavras de Jesus quando disse: “Nisto consiste a vida eterna: em conhecer a ti, o único Deus verdadeiro, e ao teu enviado, Jesus o Messias” (Jo 17,3). Este sagrado conhecimento, que é uma condição para se alcançar a vida eterna, é sumamente importante e por isso foi colocado em destaque outras vezes por Jesus: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). E ainda: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). 

Mestre e Salvador

Seguidamente, a Irmã Lúcia alude à necessidade da adesão a Jesus Cristo, enviado pelo Pai (Jo 6,38) como Mestre e Salvador, para que assim seja possível a participação do homem na vida divina, conquistada pelos méritos de Sua encarnação, paixão, morte e ressurreição. Então, assegura que é desta sincera adesão que Jesus realiza uma profunda conversão que se consolida gradativamente no coração dos homens que se abrem ao Seu amor e assim podem crescer na vida da graça, através das virtudes teologais e cardeais. Nesta linha, Jesus chama a atenção dos que se dizem cumpridores de Sua Palavra e não a cumprem:

Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus! (Mt 7,21-23).

Esta exortação de Jesus aduz à conformidade e à uniformidade com a vontade do Pai, vivenciada por Ele e Sua Santíssima Mãe de maneira singular durante toda vida terrena. Logo,  pode-se afirmar que os santos Francisco e Jacinta Marto foram as primícias da “perfeição da vida cristã” oferecidas a Deus, por meio de Maria, visto que vivenciaram de maneira radical a uniformidade com a vontade divina, a ponto de se tornarem as únicas crianças santas da Igreja – não mártires – até a atualidade. Neste horizonte, merecem relevo as palavras de Santo Afonso Maria de Ligório, que tão bem soube exprimir o sentido da santidade, sendo que esta é a vocação de todos os cristãos: 

Se, pois, queremos dar um grande prazer a Deus, devemos conformar-nos com a sua divina vontade; mas não só conformar-nos, porém unirmo-nos aos seus mandados: conformidade, expressa a união da nossa com a vontade de Deus; mas uniformidade quer dizer mais, quer que a vontade divina e a nossa seja uma só: de maneira que não devemos desejar, senão o que Deus deseja e quer. (LIGÓRIO, 2020).

Homem Novo

A uniformidade com a vontade divina é uma conquista de toda a vida, que tem como base a oração e a penitência (Mt 4,1-2; Mc 1,15) sobre as quais todo cristão deve assentar a sua vida espiritual como Jesus ensinou. A Virgem das Dores assim também aparecida em Fátima, nos faz compreender que as vicissitudes da vida suportadas em união com Jesus Cristo, com abnegação, pela conversão dos pecadores, conduzem à salvação. Assim sendo, mediante os sacrifícios involuntários e também os voluntários, que oferecemos a Deus com generosidade, o “homem novo” (Cl 3,10-12) vai se formando em nós “até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo” (Ef 4,13). 

Áurea Maria,
Comunidade Canção Nova

 

Referências

BENTO XVI. Homilia 13 de maio de 2010. Disponível em: http://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2010/documents/hf_ben-xvi_hom_20100513_fatima.html. Acesso em: 06 jun. 2020.

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Mensagem de Fátima. 26 jun. 2000. Disponível em: https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20000626_message-fatima_po.html.  Acesso em: 06 jun. 2020.

CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA Lumen Gentium sobre a Igreja. In: COMPÊNDIO DO VATICANO II: constituições, decretos, declarações. 31. ed. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 37-117.

IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.

LIGÓRIO, santo Afonso Maria. Tratado da conformidade com a vontade de Deus. Disponível em: https://rumoasantidade.com.br/livro-tratado-conformidade-vontade-deus/. Acesso em: 06 jun. 2020.

SCHOKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. Tradução de Ivo Storniolo, José Bortolini e José Raimundo Vidigal. São Paulo: Paulus, 2002.

 

 

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