Sexta-feira da Paixão

Como celebrar a morte de alguém?

O Tríduo Pascal se inicia com a missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa à tarde ou à noite. É nesta celebração que acontece o “Lava-pés”, momento tão conhecido popularmente. No fim desta celebração, acontece o translado do Santíssimo Sacramento para a capela da reposição, preparada em outro lugar na Igreja. Assim, em silêncio, acaba essa celebração, nos lembrando que foi naquela noite santa em que o Cristo foi preso pelo exército Romano. 

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Padre Jonas preside a celebração das Funções no Santuário/Arquivo Cn

Na Sexta-feira Santa, inicia-se um tempo diferente. Esse é o único dia da Igreja que é alitúrgico, nele não pode ser celebrado a Eucaristia. Cristo está preso e, neste dia, irá morrer. Geralmente, as funções litúrgicas deste dia se celebra às 15h, nos recordando que foi neste mesmo horário que Jesus morreu na cruz (cf. Mt 27,45. Mc 15,33-34. Lc 23,44.). A celebração deste dia começa em silêncio, nos ajudando a entrar no mistério daquela sexta-feira do Calvário.

A Liturgia da Palavra nos coloca diante do quarto cântico do servo sofredor (cf. Is 52,13-53,12), daquele que “foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes; a punição a ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas era o preço da nossa cura”. O Salmo nos recorda o mistério da entrega total e obediente do Cristo na Cruz ao nos fazer meditar o refrão: “Ó Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito.” (cf. Sl 30). Na segunda leitura, o autor da Carta aos Hebreus (cf. Hb 4,14-16; 5,7-9) nos recorda que, mesmo sendo Filho, Ele se entregou pela causa da nossa salvação. Por fim, o Evangelho nos introduz na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo o relato de São João. Na sequência deste rito, está a Adoração da Cruz, onde somos chamados a adorar o madeiro que nos redimiu e, depois, o rito da Comunhão. Para entrarmos na profundidade deste mistério, que é a morte de Cristo, precisamos meditar sobre o evento salvífico deste dia presentificado na liturgia. 

Cristo morre na Cruz! Deus morre naquela Cruz! Você pode perguntar: como celebrar um dia tão horrível? Como celebrar a morte de alguém? E ainda, como celebrar a morte de Cristo? 

As palavras não explicam tamanho mistério. Quando Cristo vai até a Cruz, Ele se apresenta como o Cordeiro sem mancha e sem defeito requerido para o verdadeiro sacrifício. Ele, como diz São Pedro, “Carregou nossos pecados em seu próprio corpo, sobre a cruz, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça. Por suas feridas fostes curados” (1 Pd 2,24). Ele nos liga novamente ao Pai. Nos reconcilia com Deus, assumindo a culpa que não tinha; e o aparente fracasso da Cruz nos salva. 

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“Que honra era essa?” | Foto: Aquivo CN

A Sexta-feira Santa não é o dia de chorar de tristeza pela morte de alguém, mas de chorar de arrependimento porque o meu pecado levou “o Alguém” à morte. É dia de rever a nossa vida diante da Cruz e olhar para a nossa resposta de amor dada hoje. A morte d’Ele foi por amor. E a minha resposta a Ele? Tem acontecido por amor? Deus se digna a descer da sua majestade para se humilhar vindo ao encontro do homem, e não bastasse tamanha humilhação, Ele ainda sofre e morre na cruz. Se pararmos para pensar bem, é inconcebível o mistério do Deus que se encarna e morre. Se entendermos ao menos o significado da palavra “Deus”, ficaremos abismados com tamanha atitude. Mas é no silêncio e no escândalo deste mistério que o homem é salvo do cativeiro do pecado.

Para quem não crer, este é apenas mais um dia, e nele não acontece nada diferente. Os incrédulos podem gritar aos nossos ouvidos: “Deus está morto e nós o matamos”. Parece ganhar sentido as palavras mais duras sobre Deus e, na verdade, em parte ganha. Deus não está morto, mas morreu; e foi por causa dos nossos pecados. O que acontece naquela cruz não é contemplado por um coração endurecido. A cruz não é fim em si mesma. A morte do Cordeiro que sobre ela é pregado não é o ponto final da história da Salvação. Pelo contrário, é nela que ganhamos a vida. É ao contemplarmos o “símbolo da morte” que descobrimos a Verdadeira Vida. 

A Cruz de Cristo nos abre as portas do Paraíso, e o sangue do Cordeiro é o nosso passaporte. O que não conseguimos contemplar ao olhar para a Cruz, conseguiremos no dia da ressurreição. A morte é vencida na cruz quando o Filho morre e nos abre as portas do Céu, mas só conseguiremos ver e tocar quando guiados pela fé da Igreja enxergarmos o Ressuscitado. A Cruz já nos revela a ressurreição, pois intrínseca a ela está a vitória sobre o pecado e a morte. 

Foto Ilustrativa/ iStock

Poderíamos gastar horas meditando o mistério deste dia, mas a piedade popular nos ajuda a, em simples palavras, cantar este mistério quando nos ensina a entoar junto com toda a Igreja: “Vitória tu reinarás. Ó cruz tu nos salvarás!”

A Cruz é a nossa salvação!

Deus te abençoe! 

Seminarista Canção Nova

Renné Santos de Sena Viana

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