“Não há despertar de consciência sem dor”
Nossa história de vida é marcada por experiências de perdas e ganhos desde o dia em que nascemos. A partir disso, temos um desafio em nossa existência: o que fazer com tudo aquilo que foi nos ferindo ao longo do tempo? Quais marcas ou cicatrizes foram se consolidando ao longo do tempo? Mágoas acumuladas e dores seguidas: sempre vamos encontrar pessoas que trilharam, nem sempre por suas escolhas, um caminho de muitas perdas e machucaduras. Frente a isso, caso você tenha vivido tais situações, podemos pensar em algumas possibilidades:
- Você vive com uma dor contínua e busca alívio entorpecendo-a ou infligindo aos outros, ou seja, machucando o outro a partir do que você viveu?
- Você nega a sua dor; e essa negação faz com que você a repasse para as pessoas ao seu redor e para os seus filhos a insatisfação com tudo o que lhe aconteceu?
- Você encontra coragem para aceitar essa dor e desenvolve um nível de empatia e compaixão por si mesmo e pelos outros que faz com que você perceba a dor no mundo de maneira única.
São formas diferentes de reagir aos mesmos fatos e sentimentos. Não digo a você que isso seja fácil: não, não é. E, muitas vezes, nos pegamos fazendo a mesma coisa, repetindo padrões.
As severidades na infância, a crítica desmedida e o desvalorização das crianças, muitas vezes, não reconhecidas em suas capacidades ou que apenas receberam julgamentos duros, a autoridade fraca ou mesmo insensível, abusos físicos e emocionais, aquele amor que era sentido como troca (faça isso senão eu não te amo mais, ou, faça aquilo senão você ficará sozinho).
De uma forma ou outra, isso acaba gerando bloqueios até mesmo em nossa forma de amar, perdoar, confiar, de nos relacionarmos de forma geral no mundo. Os bloqueios podem ser vários e as formas de expressá-los também.
Carl Jung traz em seus escritos uma frase que diz muito disso tudo: “Não há despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo para evitar enfrentar sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, e sim por tornar consciente a escuridão”. Ou seja, ao tocarmos no nosso pior, vamos reconhecendo também nosso melhor e a possibilidade de sermos melhores para nós e para o outro, de entendermos que alguém que nos feriu tinha também feridas tão imensas que também transbordaram. Uma coisa é certa: ninguém quer visitar seu lado sombrio e doloroso; ninguém gosta ou quer assumir que pode estar ferindo por ter sido ferido, mas esse é um dos passos mais importantes para o caminho da liberdade interior: nomear aquilo que sinto, que expresso e que vivi, e buscar, verdadeiramente, um novo caminho, mesmo que tenha quedas, mesmo que um dia parece que tudo passou e, de repente, eu machuco aquela pessoa que mais amo.
Se tudo isso que escrevi aqui pode te tocar de alguma forma, te convido a dar um primeiro passo, seja ele de reconciliação, de busca de psicoterapia, de ajuda espiritual, de reconciliação consigo e com a vida e as pessoas que você mais ama e que estarão perto de ti. Se você quiser ouvir uma música muito bonita que diz esta realidade, ouça esta sugestão que deixo aqui para você:
Sou filho ferido e escolho não ferir.