REFLEXÃO

Formas simples de viver o martírio todos os dias

“Ninguém tem maior amor do que este, que um homem dá a sua vida pelos seus amigos” João 15, 13

Quando pensamos nos santos e mártires, especialmente nos primeiros cristãos, lutamos para conceituar suas experiências. Nós não vivemos na mesma época, eles parecem “mais católicos” do que nós, e seu nível de santidade pode parecer incompreensível e inatingível. A magnitude de seu sacrifício e seu compromisso com o nome de Jesus pode parecer inimitável.

São Paulo Míki e companheiros mártires, padroeiros do Japão

Os primeiros cristãos tiveram mortes dolorosas por crerem em Cristo. Embora existam muitos cristãos sofrendo ao redor do mundo por sua fé, isso está muito longe de nossa experiência como cristãos aqui no Brasil.

Em nossa vida diária, a maioria de nós não é convidado a arriscar a morte, a decapitação, o apedrejamento ou ser queimado na fogueira por nossa fé. Mas ainda somos solicitados a estar atentos e preparados, prontos para compartilhar o que acreditamos com qualquer um que veja algo um pouco diferente sobre a maneira como vivemos. “Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês.” (1Pedro 3,15)

Muitas vezes, isso requer coragem. E estudar a vida dos mártires e dos santos pode nos dar o que precisamos para viver nossa fé no mundo. Tomamos Santo Estevão como um exemplo. Santo Estêvão foi morto pelos judeus por abandonar seu modo de vida anterior e professar o cristianismo. O que é interessante sobre Estevão ser apedrejado até a morte em Atos 7 é como Lucas compara as mortes de Estêvão e Cristo. Em outras palavras, a morte de Estêvão parece recapitular a de Cristo. Por exemplo, quando Estevão está prestes a morrer, ele clama: “Senhor Jesus, receba meu espírito” (Atos 7,59) – muito parecido com o que Jesus diz da Cruz em Lucas 23,46: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. E Estêvão – como Jesus – perdoa seus carrascos: “Senhor, não lhes imputes este pecado” (Atos 7,60), assim como Jesus disse na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23, 34).

Ao estudarmos os primeiros mártires cristãos, vemos que “morrer para nós mesmos” assume um significado poderoso e abrangente. Os primeiros mártires romanos encarnam uma recapitulação da vida e morte de Cristo de forma concreta. Mas este é o caminho para todos nós: para alguns, é um martírio vermelho – como Santo Estêvão e São Pedro. Para outros, isso implicará um martírio branco, uma morte diária para nós mesmos – para que Cristo possa viver através de nós. Isso começa em nosso batismo; é consumado na Santa Eucaristia; e continua no derramamento de nossas vidas em amor aos outros – pelo qual a vida de Cristo é reproduzida em nós e através de nós.

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É disso que se trata o cristianismo: amar como Cristo ama, a ponto de dar a vida – de uma forma ou de outra, como Cristo disse: “Ninguém tem maior amor do que este, que um homem dá a sua vida pelos seus amigos.” (João 15,13). 

Como o testemunho de mártires atuais e recentes pode nos inspirar a fazer de nossa vida não algo sobre nós (nossos confortos, nossos projetos, nossas ambições), mas sobre algo maior?

Como a ousadia e o abandono descarado de si mesmos por Cristo podem nos inspirar a aprender mais sobre nossa fé, a entender como ela está inextricavelmente ligada ao relacionamento mais importante que jamais teremos e a compartilhar isso com as pessoas em nossas vidas a cada momento?

10 maneiras práticas em que os católicos podem abraçar o martírio todos os dias. O martírio diário pode se manifestar em simples gestos, como por exemplo:

  1. Fazer o sinal da cruz em restaurantes ou em locais públicos (assim como você faria em sua própria casa);
  2. Compartilhar sua fé com amor nas suas redes sociais ou pessoalmente quando lhe perguntam — mesmo que se sinta desqualificado, desconfortável ou não saiba todas as respostas;
  3. Escolher as necessidades de outras pessoas acima das suas sem precisar de reconhecimento;
  4. Sempre colocar Deus como prioridade em sua vida sobre todas as coisas e confiar n’Ele em vez de resultados;
  5. Não ceder à tentação de reclamar das situações e dificuldades, mas antes louvar por tudo, mesmo em coisas que aparentemente não são boas;
  6. Falar bem de pessoas com quem você não simpatiza, tentando reconhecer suas qualidades por trás dos defeitos que saltam aos seus próprios olhos;
  7. Não dar jeitinho nas coisas, mas viver com fidelidade e justiça, no trabalho, na faculdade, nos negócios;
  8. Confessar-se com um padre frequentemente;
  9. Utilizar um sinal externo de sua fé, uma cruz, um tau, um terço, ainda que o ridicularizem por causa disso;
  10. Fazer jejum e penitência, pelo menos uma vez por semana;

“Desse modo, cercados co­mo estamos de uma tal nuvem de testemunhas, desvencilhando-nos das cadeias do pecado. Corramos com perseverança ao combate proposto, com o olhar fixo no autor e consumador de nossa fé, Jesus. Em vez de gozo que se lhe oferecera, ele suportou a cruz e está sentado à direita do trono de Deus.”  (Hebreus 12,1-2).

 

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