Desde que tive uma experiência forte com Deus, trazia no meu coração o desejo de visitar os presos nas prisões. Até que, um dia, Nosso Senhor me levou para pregar em um presídio em uma capital do nordeste. Ao receber o convite, um misto de sentimentos invadiu meu coração. Desejei me preparar da melhor forma possível, pois sempre entendi que minha vocação e meu chamado eram para as almas mais feridas e doentes. Dei o melhor de mim para tentar ser instrumento de Deus na vida de cada filho pródigo que se encontrava naquele lugar. Ao chegar no local, depois de passar por uma longa “revista”, senti um grande amor por aquelas pessoas que eu nunca tinha visto na vida, e entendi, ali, que eles eram meus irmãos.
Comecei a pregação bem emocionada e falei da Parábola do Filho Pródigo. Quantas vezes você já ouviu sobre essa parábola? Pois é, agora tá na hora de vivê-la!
Um pai tinha dois filhos. O mais novo pediu a parte que lhe cabia na herança. O pai, que certamente havia conquistado tudo pensando no futuro dos filhos, prontamente acolheu o pedido, e então seu Filho caçula saiu de casa como um príncipe, levando os bens que o pai havia conquistado para ele. Mas não soube usar o dinheiro que havia ganhado como herança. Esbanjando tudo, percebeu que o amor que tinha recebido fora de casa era falso. Imagino que, com isso, ele ficou muito machucado, ferido, decepcionado. Perdeu a dignidade de filho.
Nessa hora, não há como não pensar na família, onde ele, certamente, recebeu os valores, onde começava a história de amor dele. Penso que, naquele momento, ele foi visitado por vários sentimentos que o fizeram refletir e até decidir voltar para casa.
Onde está, hoje, o Filho Pródigo? Não sei você, mas eu o encontro, todos os dias, em lugares diferentes e em rostos diversos. Ele continua com um olhar muito triste, e há dias que se encontra limpo e cheiroso, mas nem sempre é assim; às vezes, ele “fede”, há feridas por toda parte, ele sangra, mas nem todos os olhos conseguem enxergá-lo (não sei se consegue me entender). Outros desses filhos pródigos estão bem arrumados, são bem sucedidos e usam terno e gravata, e dinheiro para eles não é o problema, mas, por dentro, trazem um vazio existencial pelo simples fato de não se sentirem amados, não se sentirem filho.
Algumas dessas pessoas são órfãos de pais vivos, que, por alguma circunstâncias, se perderam primeiro. E aí cria-se um círculo vicioso onde se tornam vítimas da própria história.
Encontro também famílias inteiras sofrendo com o Filho Pródigo. São muitas noites mal dormidas, muitas lágrimas derramadas à espera do Filho que se perdeu. Pais, mães e irmãos com a saúde emocional e física bem comprometidas devido às muitas preocupações. A espera sempre faz parte de quem ama, porque quem ama nunca desiste. E aqui quero falar com você pai, com você mãe, que talvez esteja cansado e abatido, magoado com a ingratidão do seu filho, da sua filha. Não desanime. Se for preciso olhar nos olhos dele e pedir perdão, faça isso, pois ele tem poder de restauração. Quem ama mais dá o primeiro passo. “Daqui deriva também a profundidade da experiência humana do ser filho e filha, que nos permite descobrir a dimensão mais gratuita do amor, que nunca cessa de nos surpreender. É a beleza de ser amado primeiro: os filhos são amados antes de chegar”. (PAPA FRANCISCO, Audiência Geral, Praça de São Pedro, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015).
E voltando ao assunto da minha experiência no presídio… Naquele dia, eu vi muitos filhos voltando para os braços do Pai! Foi emocionante e, ao mesmo tempo, gratificante ver aqueles homens aparentemente “durões” chorarem como a criança que, ao sentir uma dor, se lança no colo do Abba, do Pai, do Papaizinho. Só o Espírito Santo é capaz de levar cada um desses filhos a essa experiência. Muitos daqueles presos estavam desacreditados, taxados como alguém que “não tinha mais jeito”. Mas esses são os Filhos prediletos de Nosso Senhor. E acredite: dias depois da minha visita ao presídio, a assistente social me procurou para falar que muitos daqueles homens estavam rezando o terço todos os dias e lendo a Bíblia, estavam se reconciliando com sua história. Eis os frutos do batismo no Espírito! E diante de uma partilha que eu fiz, durante a pregação, sobre uma pessoa da minha família que era viciada, eles se juntaram e queriam saber como poderiam me ajudar nesse caso. Eu acredito na restauração do ser humano.
Filho amado, volte para a casa do Pai. “Como o pai que acolhe os filhos nos braços ao fim de um dia longo e cansativo, assim Deus anseia envolver- nos em seu abraço. Qualquer que tenha sido seu passado ou presente, venha, recline-se no abrigo do amor que Ele oferece e escute o pulsar do coração do mestre. Permita que ele lhe ensine sobre a vida, sobre a morte e sobre a eternidade como filho querido do Aba. Sem titubear, enxergue- se como realmente é. Então, observe quem você está destinado a ser a medida que transita pela terra como filhos de Deus nesta jornada chamada “vida”. (do Livro “ Obstinado Amor de Deus”).
No fundo do poço, o filho pródigo redescobre o essencial: sua identidade filial. Junto do Pai, ele não vale pelo que tem ou faz, mas pelo que é: Filho.
“Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). E se Deus perdoa e acolhe a nós pecadores, é dever de todo cristão autenticar a própria fé, agindo do mesmo modo.
Deus abençoe você!