Uma fé madura é aquela que é capaz de esperar em Deus, mesmo que tudo esteja aparentemente perdido
Confiar na providência de um Deus, que é Pai, é um ato de fé e que custa muito. Custa porque não queremos abrir mão das nossas convicções, orgulho e soberba, que são consequências do pecado. Existe uma guerra dentro de nós, do homem velho e suas paixões desordenadas, e o homem novo que traz em si o desejo de estar unido ao Senhor e à Sua vontade, que é capaz de nos tornar plenamente felizes.
Hoje, infelizmente, existe um forte apelo sobre a questão da liberdade. Ser livre, segundo a sociedade e várias linhas de pensamento, significa fazer aquilo que a vontade ordena, independente de qualquer coisa e sem a interferência de ninguém, seja quem for. Esta forma de pensar e agir tem gerado um esvaziamento sobre o sentido real da obediência. Se trata de uma investida do maligno contra o ser humano, principalmente contra a juventude de hoje, pois obedecer significa impedir a liberdade a todo custo. O inimigo é o rebelde por excelência, e está disseminando este veneno no coração do homem, e cada vez mais de modo intenso.
Com isso, a pessoa do próprio Deus se torna um risco para o homem. Isso é verdadeiramente um veneno tão forte que distorce a relação de filiação e paternidade entre o homem e Deus. Esse é um obstáculo para que não tenhamos uma profunda experiência com o cuidado de Deus para conosco. Uma mentalidade perversa que impede de dar passos como Abraão, ou seja, de avançar no abandono e confiança em Deus.
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Uma fé madura é aquela que é capaz de esperar em Deus, mesmo que tudo aparentemente esteja perdido. Lembremos como Deus, mais uma vez, prova o coração de Abraão, no momento que pede o seu filho Isaac em sacrifício (Gn 22). E, mais uma vez, Abraão demonstra toda a sua fé e esperança em Deus, a partir de sua obediência. Sabia muito bem que Deus não o deixaria neste momento de prova. O frade dominicano Reginald Garrigou-Lagrange, em seu livro As três idades da vida interior, nos fala:
“Em meio às dificuldades que se podem apresentar até a morte, e até a entrada no céu, a esperança deve ser muito firme e invencível. Não deve ser quebrada nem pelas tentações, nem pelas provações, nem pela visão de nossas faltas. Não deve jamais ceder às tentações que vem do mundo, da carne, ou do demônio: ‘Se Deus é por nós, quem será contra nós?’(Rm 8, 31) Ora, Deus não ordena jamais o impossível. Ainda mais, como diz São Paulo: ‘Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação Ele vos dará os meios para suportá-la e sairdes dela’ (1Cor 10, 13)”. (pg. 795)
Se Deus é por nós, quem será contra nós? Esta certeza deve permear a nossa vida, o nosso coração, os nossos sentimentos, sobretudo a certeza de que Ele sabe o que é melhor para nós. No Seu tempo, realizará todas as coisas, e precisamos nos submeter à confiança e esperança no Senhor que tudo pode realizar.
Além do forte apelo na sociedade de hoje sobre a autonomia a todo custo e uma busca de liberdade distorcida, existe o fator das realidades da nossa história de vida, que, por vezes, nos impede também de viver uma profunda experiência de confiança em Deus. As marcas da vida, de situações que vivemos com nossos pais, abandono, sofrimentos, decepções, enfim, são pontos que devemos considerar e buscar ajuda para não paralisarmos.
A maioria desses fatos ocorridos na nossa história de vida pode refletir no nosso relacionamento com as pessoas, pois, se não forem tratados, podem nos impedir de viver a confiança, principalmente, com Deus.
Por isso, no processo de amadurecimento da relação com Deus Pai e com a sua Divina Providência, que requer da nossa parte um passo de confiança e abandono, também se faz necessário um caminho de cura interior. Esse caminho abarca a cura de nossas feridas na história, a necessidade de perdão e a verdadeira experiência de filhos de um Deus de amor que nos espera e nos acolhe.