Série Ano da Oração: Fala Senhor que teu Servo escuta (I Sm 3,9) – “O caminho para compreender a Vontade de Deus”.
No começo de 2024, o Papa Francisco anunciou que a Igreja Católica, em todo o mundo, iria se preparar para o ano Jubilar de 2025. Este ano de preparação recebeu do santo padre o nome de “Ano da Oração”. O pedido do Papa foi: “Que intensifiqueis a vossa oração”; o “ano da oração” é “dedicado a redescobrir o grande valor e a necessidade absoluta da oração na vida pessoal, na vida da Igreja e no mundo” (Angelus, 21 de janeiro de 2024). Neste contexto, a oração é uma graça que o homem recebeu de Deus. Deus, na Sua infinita sabedoria, concedeu e desejou que parte de Sua criação tivesse um meio eficaz para se relacionar com Ele. Através do uso da razão, o homem é o único ser capaz de adentrar no mistério insondável de Deus e experimentar o amor do Criador.
A oração presente em toda história
Ao longo da história do cristianismo, a oração sempre fez parte da vida do cristão. A maneira como o homem entra em comunhão com Deus foi se transformando. Ela foi experimentada de formas diferentes (contemplativa, silenciosa, mística, carismática etc.) e recebeu significados profundos com o passar dos anos. Santa Teresa D’Ávila, no capítulo 8 do livro da vida, define a oração como “um trato amigável no qual a alma fala muito intimamente com Aquele que conhece o seu amor por ela”.
Para outra Teresa, a de Lisieux , a oração é “um impulso do coração, é um simples olhar lançado para o céu, é um grito de gratidão e de amor, tanto no meio da tribulação como no meio da alegria” (Manuscrito C).
Poderia trazer outros significados de oração, mas o mais importante, neste momento, é entender que a oração é este meio especial que temos para entrar em íntima comunhão com Nosso Senhor. Ela é fruto do reconhecimento de um amor que se recebe e que deseja da mesma forma retribuir com amor.
Caminho de crescimento e amadurecimento
A pessoa que reza não só cresce na comunhão com Deus, mas também amadure enquanto pessoa humana; afinal, ela está em contato direto com o Autor da vida. A pessoa que reza constantemente, sem cessar, afina-se com Deus, ela vai entrando numa sintonia perfeita com a voz de Deus a ponto de ser capaz de distinguir a voz d’Ele em meio aos ruídos e barulhos que o mundo produz.
Bento XVI, na encíclica Spe Salvi, ao falar sobre a oração nos ensina: “Orar não significa sair da história e retirar-se para o canto privado da própria felicidade. O modo correto de rezar é um processo de purificação interior que nos torna aptos para Deus”.
Portanto, sem deixar o mundo real, podemos rezar quando e onde quisermos, podemos rezar em um mosteiro ou na simples capelinha do bairro onde moramos, podemos fazê-la na praça de nossa cidade, no quarto, nas atividades diárias etc. Alguns santos entravam em êxtase em meio às atividades cotidianas, como por exemplo, Santa Teresa d’Ávila na cozinha. É claro que o ambiente ajuda a entrar num clima de oração, e que o silêncio facilita a escuta de Deus. Porém, o essencial da oração é alcançar a intimidade de um coração que busca Deus a todo momento, como nos ensina o Papa Francisco: “Se entrares na sua intimidade e começares a conversar com Cristo vivo sobre as coisas concretas da tua vida, esta será a grande experiência, será a experiência fundamental que sustentará a tua vida cristã” (Ex. Ap. Christus Vivit (CV), 25 de março de 2019, n. 129).
Silenciar para escutar
Dificilmente, um cristão conseguirá crescer na vida de fé sem possuir uma vida de oração. Pois uma construção não pode atingir as alturas se o alicerce sobre o qual ela está construída não é sólido.
No diálogo com Deus, por vezes, queremos respostas, esperamos que o Senhor nos ajude a resolver as situações e problemas de nossa vida. O Senhor não nos deixa só ou sem resposta, mas para escutá-Lo um outro fator da vida de oração é importante: silenciar o interior. Quando silenciamos interiormente, ouvimos com maior clareza a voz de Deus. É através desta escuta (outro aspecto importante da oração ) que Deus se comunica e espera que nós O respondamos.
Quando nós vemos o chamado do jovem Samuel (1 Sm 3) que responde apenas na terceira vez: “Fala Senhor que teu servo escuta”; percebemos que o caminho de crescimento espiritual é feito em etapas e que é necessário tempo, mas também a ajuda de pessoas experimentadas na fé para conseguir discernir quando e como Deus está nos falando. Escutar Deus que nos fala é um desafio, pois exige intimidade e perseverança. Mas quando o fazemos, experimentamos um amor sem igual.
É por meio deste caminho que você será capaz de responder ao chamado que o Senhor lhe faz – aqui não se trata apenas da vocação religiosa, mas da vocação de todo batizado: sacerdote, profeta e rei. Para cada dia de sua existência, uma nova etapa de busca por mais intimidade e comunhão com o Senhor se inicia.
Não tenha medo de entrar em comunhão com o Senhor e de experimentá-Lo, pois, como disse o Papa Bento XVI: “Não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo” ( homilia 24 Abril 2005).
Deus abençoe.
Padre Eder Pires de Brito
Comunidade Canção Nova