Especial Tudo Deixei por Ti
Ordenação 2024
Parte 2
Confira mais dois vídeos inéditos sobre a história do missionário José Márcio. Conheça quem foi Polianne, a irmã com paralisia cerebral. No quarto episódio da série, José relata como foi seu ingresso na vida paroquial em Recife.
03 – Polianne
Leia a transcrição do vídeo:
Polianne foi um grande amor na minha vida e a minha primeira irmã. Ela nasceu com paralisia cerebral, então não desenvolveu os movimentos. Eu digo que ela era um bebê grandão. Ela só cresceu, mas não se desenvolveu, não andou, não falou. Ela viveu até os 21 anos. Quando ela morreu, eu tinha 19 anos. Então, a minha infância, a minha adolescência, foi convivendo com ela. A minha irmã mais nova veio depois. A convivência mais forte era com a Polianne, até porque eu ajudava também minha mãe.
Ela era minha companheira de oração. Eu me lembro quando conheci a Canção Nova – primeiro, conheci a TV Canção Nova. Eu rezava muito com toda a programação da nossa TV, as missas, as adorações, os programas oracionais e vigílias. E Polly ficava numa cama hospitalar que não dava dentro do quarto. Ela ficava na sala, que era exatamente onde ficava a televisão. Então, a gente rezava junto. Claro, ela não rezava comigo do jeito que eu rezava, mas a sensação que eu tinha é que, quando eu estava ali rezando, quando eu estava de joelhos diante da televisão, adorando o Santíssimo Sacramento, minha irmã estava na mesma sintonia que eu. Eu percebia a paz, a tranquilidade. De vez em quando, ela estava bem agitada; às vezes, quando começávamos a rezar, ela se acalmava, ficava serena, e eu percebia uma conexão espiritual entre nós dois, de irmãos mesmo.
A morte dela foi muito de Deus. Eu me lembro que minha mãe tinha preparado o jantar e me chamou. Eu pedi para ela esperar, porque ia rezar o Terço da Misericórdia. Veio ao meu coração de rezar o Terço da Misericórdia ao lado da cama da minha irmã. E assim eu fiz. Ajoelhei-me no pé da cama e rezei o Terço da Misericórdia, que é mais rapidinho. Terminei de rezar e fui jantar. No Terço da Misericórdia, eu entregava a minha irmã à misericórdia de Jesus. A inspiração que me vinha era essa, de entregá-la à Divina Misericórdia. E assim eu fiz. Depois, nós fomos dormir.
Quando foi na madrugada, minha mãe me chamou, ela me acordou. Eu acordei assustado. Minha mãe, já muito chorosa, disse: “Venha aqui na sala para tu ver Polly”. Cheguei e lá estava o meu pai com ela nos braços. Minha mãe ao lado chorando, e ela já respirando muito fraquinha, muito fraquinha mesmo. Meu pai pediu para que eu a segurasse – ela era grandona –, para que ele pudesse pegar os documentos, porque ia socorrê-la. Quando eu a segurei, e eles foram procurar os documentos, ela estava quente, estava com muita febre. Eu dei um abraço apertado nela e ouvi o seu último suspiro, e ali ela faleceu.
Foi um quadro de infecção generalizada, uma virose por causa dos medicamentos que ela tomava, que acabaram gerando uma infecção no estômago. Quando eu fui olhar para o relógio, eram 3h, a hora da Divina Misericórdia. Por isso eu digo que a Divina Misericórdia buscou a minha irmã, levou a minha irmã; e eu tenho, hoje, uma grande intercessora no céu.
José Marcio conta como foi seu ingresso na vida paroquial, catequese, infância missionária e os primeiros sinais do seu chamado ao sacerdócio
04 – Paróquia
Leia a transcrição do vídeo:
Não me lembro de falar que eu queria ser padre na minha infância – primeira e segunda infância –, e a minha família não era católica praticante. Nós íamos à Missa de vez em quando. Eu tinha uma avó, já falecida também, que ia à missa com mais frequência, e eu ia com ela. Depois, teve um período, na minha paróquia, que começou a Missa das crianças. Era todo domingo pela manhã, e a turma da minha rua ia lá; havia muitas crianças, graças a Deus. Eu não tinha tanta noção ainda da importância da missa etc. Uma mãe acabava levando todo mundo.
E foi indo para essas missas que senti despertando em mim o desejo de querer fazer catequese, de querer fazer a primeira comunhão. Era uma missa só de crianças, e eu via que algumas crianças trabalhavam na liturgia, eram coroinhas. Depois que eu fiz a primeira comunhão, eu nunca mais saí da Igreja.
Eu não tive aquela fase rebelde que a maioria das pessoas viveu na adolescência, de sair para shows, beber e chegar tarde. Eu ia de casa para a igreja, da igreja para casa. As minhas amizades acabaram sendo as amizades da própria igreja. Então, eu comecei a caminhar, depois da primeira comunhão, para o grupo da perseverança. Depois, eu fui para o grupo de coroinhas, fui acólito, entrei no grupo da liturgia. Em seguida, Crisma, grupo de jovens, grupo de oração, grupo de música. Acabei participando de todos os grupos da igreja, e minha mãe brincava de levar a minha cama para lá. Eu acabei vivendo a minha vida dentro da igreja.
As pessoas olhavam para mim e falavam assim: “Você tem uma carinha de padre, né?” Eu ouvia muito isso na minha adolescência! Aliás, diziam que eu tinha jeito de padre. Então, tinha essas provocações. Até que eu chamei minha mãe um dia e comentei com ela, falei que ia ser padre, porque as pessoas diziam que eu tinha cara de padre, jeito de padre. Eu gosto das coisas da igreja, então, eu acho que meu caminho é esse. Eu deveria ter uns 14 anos. Minha mãe foi muito sábia. Hoje, eu enxergo isso com uma sabedoria muito grande. Minha mãe falou assim: “Padre, de jeito nenhum! Padre não! Olha, você, primeiro, vai terminar sua escola, vai fazer uma faculdade, trabalhar, ganhar o seu dinheiro; você vai namorar, vai fazer tudo que uma pessoa normal faz neste mundo. Depois disso, se esse desejo continuar aí dentro do seu coração, aí você vê o que vai fazer, mas, agora, não. Primeiro, você vai viver tudo que uma pessoa normal faz.
Eu sempre fui um filho muito obediente, sempre tive um respeito muito grande pelos meus pais. Então, eu acolhi aquilo mesmo como uma direção de Deus para mim. Quieto, não toquei mais no assunto. Terminei a escola, sempre trabalhando na igreja, namorei, fiz faculdade de psicologia e trabalhei nessa área. Eu me formei, montei o meu consultório com uma ex-professora, muito amiga. Ganhei meu dinheiro, minha independência financeira. Não saí da casa dos meus pais porque eu estava planejando ainda como isso ia ser.
Durante esse tempo, depois de todas essas coisas que eu fui fazendo, alcançando e realizando na minha vida, mudou o padre da minha paróquia. Chegou um outro padre, e eu sempre trabalhando na igreja com jovens. Sempre trabalhei no meio da juventude. Chegou então o padre Marivaldo, muito tímido, natural de Aracajú, Sergipe. Estava na Arquidiocese, e acabou indo para minha paróquia. O padre chegou muito simples, um homem muito simples, mas de coração muito missionário. Ele celebrava missa nas casas, missa na rua. Ele queria levar a paróquia para o meio da rua, evangelizando.
Ele era portas abertas para a juventude. Deixava a gente vir, confiava na juventude, e isso encheu o nosso coração. E o jeito do padre Marivaldo evangelizar começou a mexer comigo. Eu trabalhava, namorava – minha namorada e eu cuidávamos do grupo de jovens. Mas o jeito do padre começou a me incomodar: o jeito de celebrar, de pregar, a maneira de tratar as pessoas, o zelo pelas coisas da igreja, pela Igreja e pelas autoridades, pelo papa, pelo bispo. Eu nunca vi padre Marivaldo falar mal de nenhuma autoridade, nem mesmo que ela tivesse feito alguma coisa errada.
Ele sempre foi conciliador, aquele que pregou a unidade, a paz e a harmonia dentro da Igreja. Então, esse jeito começou a mexer comigo, mas eu não sabia dizer o que estava acontecendo. Eu me senti incomodado, mas eu não sabia dar nome àquilo que eu estava vivendo. E eu também não tinha ninguém para partilhar, porque a igreja ainda não tinha essa estrutura vocacional de acompanhamento. Isso começou mais diretamente com o padre Marivaldo.
Comunicação Santuário do Pai das Misericórdias