História de Vida

Rafael Vitto | Sacerdócio ou mundo, retorno para Deus

Especial Tudo Deixei por Ti
Ordenação 2024

Parte 2

 

Nos episódios de hoje, confira como o missionário Rafael Vitto foi invadido por uma série de dúvidas sobre o sacerdócio e o mundo. Após esse período de questionamentos, ele partilha sua experiência pessoal com Jesus por meio do sacramento da confissão e seu retorno para Deus.  

03 – O sacerdócio ou o mundo?

Leia a transcrição do vídeo:

Eu penso que, por volta já de uns dez anos, eu tinha a sensação de que eu deveria ser padre. Não que tivesse ouvido Jesus me chamar, mas sempre essa história da minha gestação e o que o padre havia dito para minha mãe da consagração a Nossa Senhora.

Então, parecia que eu tinha essa certeza de que eu deveria ser padre. Mas como o único tipo de padre que eu conhecia eram os salesianos, eu sabia que, para me tornar padre salesiano, eu teria que sair de Cuiabá e morar em Campo Grande, a casa de formação do noviciado dos salesianos. Mas eu tinha medo de sair de casa muito novo! Não queria morar em Campo Grande, não queria viver essa experiência; e dentro de mim, eu cultivava esse medo.

 

Eu lembro que, certa vez, eu disse para Deus sozinho no meu coração: Meu Deus, como eu vou me tornar padre, se eu ainda não experimentei o mundo? Eu olho para as pessoas do bar do meu pai, no qual eu trabalho – e eu sempre trabalhei com meu pai ali, servindo cerveja e conversando com o povo. Como eu vejo aqueles homens que traem as mulheres, que têm os casamentos falidos, são usuários de drogas, alcoólatras! Como eu vou ser padre, sentar com esses caras e conversar com eles? O que eu vou dizer se eu nunca experimentei nada? Aquilo ficou dentro do meu coração. Sabe aquela sensação?

O interessante é que, depois de um tempo, eu fui esfriando dentro da Igreja. Não sei, acho que talvez Deus tenha permitido, mas eu também escolhi viver as experiências do mundo, e eu fui me afastando de Deus. Acho que o primeiro afastamento que eu vivi foi da confissão. Eu continuava indo às missas todos os domingos. Era sagrado ir às missas, mas comungava também sem ter confessado, comungava em pecado. Então, servia na missa em pecado, ia à Missa, mas longe de Deus.

Eu era o pior tipo de católico, aquele que está dentro da Igreja, ao lado de Jesus, servindo a missa como coroinha, mas com o coração longe, com uma vida em pecado. Então, eu fui me afastando de Deus.

Até aí a minha juventude. Eu tive dois namoros e me esqueci dessa coisa de sacerdócio. Na verdade, esqueci mesmo. Já depois dos 11 para 12 anos, eu já não levei mais isso em conta, e comecei uma vida de afirmação. Eu precisava me afirmar ali como homem, o cara que bebe mais, o cara que fica com mais mulheres, o cara que experimenta as coisas do mundo, vive as festas etc.

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Na verdade, a minha vida foi perdendo o sentido, porque eu já não sabia mais o que eu deveria ser. E quando me perguntavam: “O que você quer ser?” Não sei. A única coisa que eu tinha, no meu coração, durante a juventude, é que eu desejava ser pai. Queria ter uma família. Então, o meu objetivo era encontrar a minha esposa e constituir, com ela, a família.

Por isso também fui atrás desses namoros, mas nenhum deles tinha muito sentido. Eu só queria mesmo casar. Na minha cabeça, era assim: depois que eu casar, vou ser santo. Não vou trair minha mulher, vou fazer tudo direitinho, vou ser um bom pai. Mas imagina que loucura! Se eu não estava sendo um bom jovem, como eu ia ser um bom pai de família? A coisa não vira assim!

Não é colocar uma aliança no dedo e tudo se transforma. Não é assim que funciona. Mas a minha ideia era isso: quando encontrar a pessoa certa, então vai ficar tudo beleza, vou voltar para a Igreja, vou ser santo, ter uma família santa, porque também o conceito de céu, de inferno, de santidade sempre estiveram muito gravados dentro de mim por causa da infância.

E acabou que, por causa desse relacionamento conturbado, eu comecei a procurar e procurar mais a Deus.

04 – Retorno para Deus

Leia a transcrição do vídeo:

E eu lembro que, uma vez, um rapaz apareceu na internet, no Orkut, e me chamou para conversar. E aí eu fui lá na Catedral Nossa Senhora do Bom Despacho, ele rezou por mim, mas não senti nada. Ele me convidou a fazer uma confissão, e aí eu me recordei que, de fato, fazia tanto tempo que eu não fazia uma confissão. Então, pensei: vou, vou me confessar e vou tentar viver um namoro mais santo, um namoro mais reto, para constituir essa família santa que eu desejo.

Eu lembro que fui até o padre Cleberson, o padre diocesano de Cuiabá, e fui contando o sentimento que eu tinha, que, apesar de beber, de sair, de fazer minhas loucuras, eu não havia matado ninguém, não roubava… Eu era um cara bom. Eu ia contando para o padre, na confissão, com aquele sentimento de que “eu tenho esses pecados, mas eu sou bonzinho, né, padre?”.

O padre disse assim para mim: “Jovem, diante de tudo isso que você está me dizendo, você acha que se Jesus voltasse hoje, você iria para o céu ou para o inferno?” Ali, ele fez um silêncio, ali no confessionário. Foi um silêncio de uns 30 segundos, mas aquela palavra me impactou tanto, porque foi como uma eternidade. O tempo parou ali, naquele confessionário, para mim. Eu não sabia dar a resposta. Será que eu iria para o céu, para o inferno, com aquela vida que eu tinha? Com a consciência que eu tinha de inferno, para onde eu iria?

Daquele breve instante de silêncio, que para mim foi uma eternidade, o próprio padre já respondeu. Meu filho, desse jeito, você não vai para o céu. E ali eu comecei a chorar compulsivamente, porque o meu desejo era de céu. O meu coração tinha aquela semente de céu que a minha família implantou dentro de mim.

No confessionário, eu decidi, de novo, o caminho da santidade. E eu julgo que esse foi o meu encontro decisivo com Jesus. E a partir dali, tudo se transformou. Comecei a buscar mais oração, comecei a buscar mais uma vida reta, uma vida de busca de verdade. E o padre me deu então essa penitência de frequentar as missas da Bom Despacho e confessar toda semana.

Foi mais ou menos isso o meu início vocacional, de experiência com Jesus. Tudo na minha vida começou a ser transformado e eu voltei para o meu namoro, e convidei minha namorada a viver uma experiência de castidade, de um namoro mais santo, mais correto, mais profundo em Deus.

A Providência me levou para o Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho. Eu não sabia, mas lá também era o ambiente da Canção Nova. Hoje, a Canção Nova está em Várzea Grande, no Rincão do meu Senhor, lá na minha terra de Cuiabá.

A Canção Nova, antes, estava no Santuário Nossa Senhora do Bom Despacho. Então, de manhã, eram as missas do Padre Cleverson, reitor do Santuário;  segunda e quarta-feira à noite, quinta era as missas da Canção Nova com Padre Bruno Costa, meu amigo Padre Bruno.

Ali, eu também eu fui vivendo as experiências dentro da Canção Nova e frequentando com a minha ex-namorada.

Comunicação Santuário Pai das Misericórdias

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