Episódios 5 e 6

Rafael Vitto | A vontade de Deus, o sacerdócio

Especial Tudo Deixei por Ti
Ordenação 2024

Parte 3

Confira, no episódio 5 e 6 do Especial ‘Tudo Deixei por Ti’, como o missionário Rafael Vitto foi em busca da vontade de Deus. Veja como ele reencontrou o chamado de Deus para sua vida e assumiu a vocação ao sacerdócio. 

O Especial Ordenação 2024 tem como objetivo contar a história dos quatros missionários e futuros sacerdotes da Comunidade Canção Nova

No próximo dia 8 de dezembro, José Márcio Junior, Valdeir Bento, José Dimas da Silva e Rafael Vitto serão ordenados diáconos provisórios e, futuramente, ordenados sacerdotes. Neste mês de novembro, vamos conhecer a trajetória e história que levou a vida desses jovens a uma escolha definitiva e entrega total a Cristo por meio do Sacramento do Sacerdócio. 

05 – A Vontade de Deus

06 – O Chamado 

05 – A Vontade de Deus – Leia a transcrição do áudio:

Aquele mesmo cara que me procurou no Orkut e me deu uma introdução de que eu deveria voltar para Deus, um dia chegou para mim e falou assim:

“Você não tem o desejo de descobrir qual a sua vocação?“. E eu falei: Tenho. “Você deveria, então, fazer um retiro. É importante você fazer um retiro para descobrir a sua vocação. Você  aceita fazer?”. Eu falei: “Olha… Se você está me dizendo que eu tenho que fazer (eu já tinha feito outros retiros dentro do Salesiano), eu aceito”. Ele falou: “Que ótimo, porque eu já fiz sua inscrição para esse retiro, é só você ir tal dia lá”. Ele me deu um caderno, uma Bíblia de Jerusalém e o livro A Bíblia no meu dia a dia, do Padre Jonas.

Eu não entendi o porquê daquele livro, eu não sabia fazer estudo bíblico, não sabia fazer adoração, não sabia os mistérios do terço. Claro que eu rezava a Ave-Maria, o Pai-Nosso, mas não sabia os mistérios. Então, assim, eu tinha me afastado das experiências de Deus.

Eu lembro que cheguei naquele retiro e foi interessante, porque as pessoas estavam falando com muito entusiasmo, muito mesmo, até uma rigidez. Você tem que rezar, todos os dias, fazer adoração, ir à missa, fazer o estudo bíblico etc. E eu ficava ouvindo aquilo e pensando: Meu Deus do céu, mas o que é que eu estou fazendo aqui? Eu não faço nada disso. Eu não vou à missa diária, eu não faço adoração. Meu Deus, o que é que eu estou fazendo? No final, me entregaram um papel perguntando se eu queria continuar. E eu lembro que eles falavam muito: Você quer ajudar na Canção Nova, dar a sua vida pela Canção Nova? Então, põe aí nesse papel. E eu lembro que eu fui lá e coloquei no papel que eu queria ajudar na Canção Nova, é claro.

O interessante é que esse encontro já era o Redão, o primeiro encontro vocacional, e eu não sabia. Eu fui na intenção de ajudar a Canção Nova, de frequentar a Casa de Missão da Canção Nova, mas eu não sabia que aquele retiro fazia parte do primeiro encontro vocacional. Eu caí de paraquedas dentro da Canção Nova, fiz o retiro e continuei indo às missas e voltei a servir também como acólito. Eu servia nas missas do padre Cleverson e na missa do Padre Bruno. E fui fazendo minhas experiências de servir nas missas, ajudando a Canção Nova no Santuário.

Indo para o segundo encontro vocacional, a Geovania, responsável pelo Vocacional, um dia chegou na sacristia e disse para mim: “E aí, menino, qual é a sua? Você não mandou carta? Você não se inscreveu para o vocacional? Você não fez nada?” Eu falei: “Geo, desculpa, mas não estou entendendo o que você está falando”. E ela: “Não? Você tem que fazer uma inscrição. Você tem que fazer uma ficha para poder continuar nos encontros”. “Nossa Geo, mais ninguém me falou que eu tinha que escrever carta para poder ajudar na Canção Nova, que eu preciso fazer essa ficha”. E ela: “É, precisa, porque, final de semana que vem, na sexta-feira, sábado já vai começar. Você precisa vir. Então, amanhã, terça-feira, você vai lá na minha sala para fazer essa ficha. Beleza?”

Fui pra sala da Geo sem saber o que estava acontecendo. E eu: “E aí, tudo bem?” E ela: “Boa tarde! Então, vamos fazer essa ficha. Você namora?” Falei: “Ah, namoro”. Ela: “Mas você sabe que para fazer o nosso caminho vocacional  você não pode namorar, né?” Falei: “Nossa, Geo… Mas eu não estou sabendo disso! Por que na Canção Nova não pode?”. Ela tentou me explicar, mas eu não entendi muito o que ela me dizia. E ela continuou as perguntas: “Você trabalha?”. “Eu trabalho com meu pai, mas eu tenho o desejo de ser médico. Eu faço cursinho”. “Não! Mas você não pode. Como que você vai fazer? Vai entrar para Canção Nova e vai fazer medicina? Ou você conclui a medicina e entra para Canção Nova, ou sei lá, veja o que você quer”.

:: Comunidade Canção Nova
:: Vocacional Canção Nova

Eu falei: “Oh Geo, são muitas informações! Eu não sabia de nada disso. Eu vou para minha casa pensar e depois eu digo, porque eu não estou entendendo nada do que você está dizendo. Que eu tenho que terminar o namoro, que eu não posso mais ser médico, isso e aquilo. Eu só quero ajudar”.

A Canção Nova, na minha cabeça, era apenas nos encontros, participar das missas, rezar pelas pessoas, fazer suco, servir salgado lá no Rincão. Minha ideia era essa. Eu saí frustrado, sem entender, e fui falar com o padre. “Padre, a Geo falou isso, isso e aquilo”. Ele falou: “Olha, meu filho, você está num processo que você quer descobrir qual é a vontade de Deus para você, não é?”. “É, eu quero, mas, no meu coração, estou perdido, não sei qual é a vontade de Deus para mim”. Ele falou: “Então, mergulha de cabeça no vocacional! Realmente, o namoro você vai ter que terminar, porque imagina como você vai descobrir quem você é estando ligado afetivamente a uma pessoa. Não tem como. Você está cheio de emoções e cheio de sentimentos, então você precisa estar livre de tudo isso para você poder ouvir de Deus o que Ele quer para você”. Ali, eu compreendi, mais ou menos, que realmente era uma coisa difícil, que, realmente, eu teria que terminar o namoro.

Na minha cabeça, era assim: Eu termino o namoro, descubro o que eu vou ser, e eu volto. O namoro não tem problema. E pensei mais ou menos isso. Então falei: “Tudo bem, padre, no namoro eu vou conversando com a menina, falando dessa vocação, da experiência de encontro vocacional, e termino”.

Ele falou o mesmo com relação a ser médico. Falei: “Rapaz, para mim isso é muito forte!”. O padre então: “O caminho da Canção Nova são dois anos no mínimo. Então, você continua fazendo o cursinho, estudando e, paralelamente, você vai fazendo vocacional. Depois, você decide se continua ou não. Eu vou conversar com a Geo, falo com ela e você continua o caminho. Tudo certo? Então tá bom”. 

E o padre continuou: “Você, agora, tem que aprender a fazer estudo bíblico, a rezar o terço, frequentar as missas. Você vai fazer esse esforço”. Ficou combinado. Saí meio triste dali, porque teria que mudar a minha vida. Mas, ao mesmo tempo, entendi que aquele era o caminho de Deus para mim.

06 – O Chamado – Leia a transcrição do vídeo:

No mês vocacional, mês de agosto, o pessoal do próprio Vocacional disse: “Aqui na Canção Nova de Cuiabá, todos os vocacionados têm que fazer o Maranatá, é um critério. E você já entrou de paraquedas, se não fez o encontro, faz o Maranatá e depois a gente dá continuidade.

Eu pensei: “Nossa, mas eu já estou no caminho vocacional, já estou rezando, fazendo minhas coisas aqui. O que eu vou fazer nesse encontro de primeiro amor, de primeiro chamado?” Eu fui para o Maranatá despretensioso. Minha ideia era fazer amizades, porque, por causa dessa escolha por Deus, eu as perdi. Tinha perdido muitos amigos, tinha perdido o namoro, tinha perdido as pessoas, mudado o meu ambiente, não estava mais frequentando as festas. Realmente, vivi uma conversão, e nem todo mundo entendeu essa conversão.

É interessante que uma das palestras do Maranatá, do sábado à noite, foi do Kennedy, que é meu irmão de comunidade, por quem eu tenho um carinho muito grande. Ele contava a experiência dele com o pai dele, uma experiência difícil, e ele precisava perdoar o pai dele. E no final daquela palestra, ele falou: Eu quero fazer uma dinâmica aqui. Vou chamar alguns pais fictícios, vou colocar um senhor de idade para representar um pai. Vou colocar uma mulher de mais idade para representar uma mãe. E você, jovem, que tem problema com seu pai, você vai se levantar e vai abraçar essa pessoa.

E ele completou: vou chamar também, hoje, um padre. E entrou um padre da diocese no encontro do Maranatá. Eu estava na capela do rincão de Cuiabá, uma capelinha pequena, e quando eu olhei para trás, vi aquele padre entrando, eu comecei a chorar. Comecei a chorar, e não entendia por que eu estava chorando. E quando o padre se posicionou à frente do altar, eu estava de frente pra ele. Quando eu olhei pra ele, Jesus, naquele momento, me disse: “Você sabe que eu te fiz para isso. Eu quero você padre, sacerdote. Você sabe disso, você sempre soube disso”.

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Naquele momento, eu estava em prantos, ouvindo Deus me dizer sobre o meu chamado ao sacerdócio. Também eu recordei de Deus me dizendo que, na minha infância, eu queria experimentar o mundo. Então, agora, Rafael, você já experimentou o mundo? Você já experimentou tudo? Qual é a sua desculpa para assumir a vocação que eu tenho para você? Eu já não tinha mais desculpas, porque, de fato, já tinha namorado, já tinha experimentado uma série de coisas. E eu lembro que, em prantos mesmo –e acho que eu nunca chorei tanto na minha vida como naquele dia –, eu fui; levantei, abracei o padre e disse pra ele: “Padre, Deus está me chamando para o sacerdócio, mas eu não quero”. Eu chorava por causa disso! Não porque eu estivesse emocionado com Deus, não com a beleza do chamado de Deus, eu chorava porque eu tinha me distanciado a tal ponto daquilo que era a minha vocação original, que retomar era uma agressão muito grande para mim.

Eu sentia que Deus estava me ferindo, machucando-me por dentro. Como eu vou ser padre, meu Deus do céu? Uma vida toda desregrada, de uma série de coisas. É claro que eu tenho um sonho de constituir família, de casar e ter filhos. Como eu vou ser padre desse jeito? Logo eu, um cara tão de festa, de coisas, criado num bar, com uma mentalidade tão mundana, como eu vou ser padre, meu Deus do céu! Eu disse para o padre: “Eu não quero, não quero, mas Deus está me chamando”. Ali, o padre me disse: “Então, deixa Deus convencer o seu coração”.

Eu entrei num processo de convencimento do sacerdócio e tive o meu chamado, que é tão claro hoje no seminário. Todas as vezes que eu pensei em desistir –e claro que Deus me deixa livre para desistir também –, eu me lembrava daquele dia, e aquele dia não me deixa negar aquilo para o que Deus me fez. Ele me chamou, Ele me fez para isso.

Então, no final do ano, eu vou assumir essa identidade mais profunda do Rafael, não mais como um seminarista ou como um jovem consagrado, mas nessa identidade e nessa mudança de caráter que a ordem imprime, que é, realmente, aquilo que Deus pensou para mim, para toda a eternidade, que é o sacerdócio.

Comunicação Santuário do Pai das Misericórdias

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