ALEGRIA

Eu prefiro o Paraíso! São Filipe Néri

A santidade é a causa da nossa alegria

Imagem: Getty Images / AntonioGuillem

Há mais de quinhentos anos essa frase tem provocado católicos em todo o mundo. Até hoje, é de se admirar que um sacerdote tenha recusado por duas vezes o convite para se tornar Cardeal da Igreja. “Prefiro o paraíso!”, teria respondido São Filipe Néri em ambas as vezes, ensinando-nos com isso que devemos renunciar a todas as honras e glórias desse mundo em favor do céu. Que brava decisão! Imitemos, pois, o santo italiano, e rejeitemos qualquer situação que possa nos render reconhecimento, honra, glória, privilégio. Só assim podemos ficar com o céu!

Calma aí! Um instante de reflexão, porque podemos entrar aqui num tipo de raciocínio enganoso, que nos leva bem longe daquilo que a atitude de São Filipe Néri verdadeiramente nos ensina. Apresento dois exemplos para nos auxiliar nessa questão: Acabamos de viver um tempo belíssimo na vida da Igreja, que foi a eleição de um novo Papa. O Cardeal Robert Francis Prevost foi eleito Papa, assumindo o nome de Leão XIV. Podemos então imaginar que ele não conhecesse a história de São Filipe Néri, porque talvez ele devesse ter respondido: “Ser Papa? Jamais! Eu prefiro o paraíso!” Teria sido belo, tocante, testemunho vivo de desapego às coisas do mundo e de e amor exclusivo por Cristo, mas… E se o próximo Cardeal escolhido como Papa seguisse o exemplo de seu antecessor e dissesse a mesma frase? E o seguinte, o seguinte, o seguinte, até que não houvesse mais cardeais a serem escolhidos, porque “todos preferiram o paraíso”?

Não precisamos ir para tão alto na hierarquia da Igreja. Contemplemos os numerosos sacerdotes que têm evangelizado pelas redes sociais. Frei Gilson, Pe. Adriano Zandoná, Pe. Paulo Ricardo e tantos, tantos outros. Seu trabalho missionário torna-os conhecidos, coloca-os em destaque, leva-os a ser reconhecidos, admirados, honrados, elogiados. Será que “preferir o paraíso”, no caso deles, significaria então renunciar à evangelização por meio das redes sociais, para não receberem honra, reconhecimento e admiração?

Em ambos os exemplos, a questão que se coloca é: o que seria da vida da Igreja se todos se recusassem a ocupar cargos de autoridade ou que pusessem a pessoa em evidência? Provavelmente não teríamos mais sacerdotes, bispos, cardeais, nem mesmo o Papa. Não teríamos também diretores espirituais, pregadores, missionários, ministros de música, comunicadores pelos meios de comunicação.

“Prefiro o paraíso” não diz respeito, portanto, a rejeitar responsabilidades ou ocasiões que possam trazer honra e glória, mas fala de outra coisa: do conhecimento de si mesmo. São Filipe Néri era um homem de vida de oração intensa. Dedicava muito tempo para estar com Deus e, consequentemente, era um homem que vivia aquela oração ensinada por Santo Agostinho: “Que eu te conheça, Senhor, e que eu me conheça”. Ele sabia onde estavam as suas maiores fragilidades, onde era mais vulnerável à ação do tentador. Ao considerar suas próprias misérias, somadas a todo o contexto da Igreja de então, que estava mergulhada numa crise política e moral, ele sabia a que tipo de perigos estaria exposto caso aceitasse o cardinalato.

Por ser um homem de Deus, que rezava muito, ele sabia que já estava plantado onde Cristo queria que ele desse frutos: estava em Roma, junto aos pobres, junto aos cristãos paganizados, a quem evangelizava amorosa e pacientemente.

Imagem: Renata Sedmakova/ Shutterstock

Preferir o paraíso é preferir o que Deus quer, e só sabe o que Deus quer quem reza muito. Penso no sem-número de Papas, Cardeais e Bispos que aceitaram a sua escolha com o coração transpassado de dor, como oferta a Deus, por amor a Cristo, porque não queriam glórias nem honras, mas sabiam que seu cargo lhes traria honras e glórias – e cruz. Penso nos padres que citei e em tantos outros missionários que atuam nas redes e que gostariam de ter uma vida escondida, longe dos holofotes, mas porque preferem o paraíso aceitam ser “como espetáculo para o mundo”, como disse São Paulo.

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Talvez, dizer “prefiro o paraíso” na sua vida hoje seja terminar um namoro que tem levado você para longe de Deus. Ou aceitar o convite para ser pregador no seu grupo de oração, mesmo com todo medo que você tem de aparecer, de se envaidecer. Quem sabe, preferir o paraíso hoje seja você abrir mão de uma oportunidade de trabalho que traz um bom salário, mas que força você a mentir ou a ser injusto com as pessoas. Por fim, talvez preferir o paraíso seja humilhar-se e buscar a reconciliação com aquele familiar que roubou você, traiu você e que nem merece o seu perdão…

Que nesse dia em que celebramos a memória de São Filipe Néri, possamos aprender com ele que “quem quiser outra coisa que não seja Cristo, não sabe aquilo que quer; quem pede outra coisa que não seja Cristo, não sabe aquilo que faz”.

São Filipe Néri, ajudai nos a não querer outra coisa que não seja Cristo!

São Filipe Néri, ajudai-nos a dizer hoje e sempre, com a nossa vida: Prefiro o paraíso!