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Dei Verbum
O Sínodo dos Bispos, na XII Assembléia Geral Ordinária, de 5 a 26 de outubro de 2008, na Cidade do Vaticano, tratou sobre o tema “Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”.
O site do Santuário do Pai das Misericórdias disponibiliza esse documento. Para lê-lo, na íntegra, clique aqui.
Deus, Aquele que nos fala
A Dei Verbum propõe uma teologia dialógica da Revelação. Nesse diálogo, há três aspectos que estão intrinsecamente ligados: a amplidão de significado que o termo “Palavra de Deus” assume na revelação divina; o mistério de Cristo, expressão plena e perfeita da Palavra de Deus; o mistério da Igreja, sacramento da Palavra de Deus.
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A Palavra de Deus como um canto a várias vozes
A Palavra de Deus é como um canto a várias vozes, enquanto Ele a pronuncia, de muitas formas e de diversos modos (cf. Heb 1,1), numa longa história e com uma diversidade de anunciadores.
a) A Palavra de Deus tem como pátria a Trindade, de onde provém, por quem é sustentada e a quem regressa, testemunho permanente do amor do Pai, da obra de salvação do Filho Jesus Cristo e da ação fecunda do Espírito Santo. À luz da Revelação, a Palavra é o Verbo eterno de Deus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Filho do Pai, fundamento da comunicação intra-trinitária e ad extra: “No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus. Tudo se fez por meio d’Ele e sem Ele nada foi feito” (Jo 1,1-3; cf. Col 1,16).
b) Por isso, o mundo criado narra a glória de Deus (cf. Sl 18,1). No princípio do tempo, Deus cria, com Sua Palavra, o cosmo (cf. Gen 1,1), pondo na criação a marca da sua sabedoria e tornando-se assim tudo sua voz (cf. Sir 46,17; Sl 67,34).
É, em especial, a pessoa humana, porque criada à imagem e semelhança de Deus (cf. Gen 1, 26), que se torna, para sempre, sinal inviolável e intérprete inteligente da Sua Palavra. Da Palavra de Deus, de fato, a pessoa recebe a capacidade para entrar em diálogo com Ele e com a criação.
c) “O Verbo se fez carne” (Jo 1,14): a Palavra de Deus, última e definitiva, é Jesus Cristo, Sua pessoa, Sua missão e história intimamente unidas, segundo o plano do Pai, que culmina na Páscoa e terá a sua realização plena quando Jesus entregar o Reino ao Pai (cf. 1 Cor 15, 24). Ele é o Evangelho de Deus para toda a pessoa humana (cf. Mc 1,1).
d) Em vista da Palavra de Deus, que é o Filho encarnado, o Pai falou, nos tempos antigos, por meio dos Profetas (cf. Heb 1,1); e pela força do Espírito, os apóstolos continuam a anunciar Jesus e Seu Evangelho. Assim, a Palavra de Deus é expressa com palavras humanas no anúncio dos Profetas e dos Apóstolos.
e) A Sagrada Escritura, fixando por divina inspiração os conteúdos revelados, atesta, de forma autêntica, que é verdadeiramente Palavra de Deus (cf. DV 24), totalmente orientada para Jesus, porque “são precisamente elas (as Escrituras) que dão testemunho de Mim” (Jo 5,39). Pelo carisma da inspiração, os livros da Sagrada Escritura têm uma força de interpelação direta e concreta, que outros textos e intervenções humanas não têm.
f) A Palavra de Deus, porém, não se fecha na escrita. Se, na verdade, a Revelação terminou com a morte do último Apóstolo (cf. DV 4), a Palavra revelada continua a ser anunciada e ouvida na história da Igreja, que se empenha em proclamá-la a todo o mundo, para responder à sua necessidade de salvação.
Assim, a Palavra continua o seu curso na pregação viva, que abraça as diferentes formas de evangelização, onde sobressaem o anúncio e a catequese, a celebração litúrgica e o serviço da caridade. A pregação, no sentido apenas afirmado é, sob o poder do Espírito Santo, Palavra do Deus vivo, comunicada a pessoas vivas.
g) Entram no âmbito da Palavra de Deus, como fruto das raízes, as verdades de fé da Igreja em campo dogmático e moral.
No coração da Palavra de Deus, o mistério de Cristo
Em geral, os cristãos apercebem-se da centralidade da pessoa de Jesus Cristo na Revelação de Deus, mas nem sempre sabem captar as razões dessa importância e compreender em que sentido Jesus é o coração da Palavra de Deus. Daí que também lhes custe fazer uma leitura cristã da Bíblia. A isso se referem quase todas as respostas dos organismos consultados, levados pela dupla preocupação de evitar os equívocos de uma leitura superficial e fragmentária da Escritura; sobretudo, de apontar a estrada segura para entrar no Reino de Deus e ter em herança a vida eterna.
Com efeito, “é esta a vida eterna: que Te conheçam a Ti, único Deus verdadeiro, e Aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3). Essa relação substancial entre a Palavra de Deus e o mistério de Cristo configura-se, assim, na Revelação como anúncio e, depois na história da Igreja, como aprofundamento inesgotável.
Pai das Misericórdias e Deus de toda consolação, ouvi-nos![:]