Podemos imaginar a dor do coração de Maria ao saber da traição de Judas, do abandono de seus discípulos no Horto das Oliveiras, as negações de Pedro e, depois, a Sua prisão e maus-tratos nas mãos dos soldados do Sumo Sacerdote.
Certamente, naquela noite santa e terrível, em que Ele “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1), Maria foi informada pelos discípulos, esses abandonaram o Mestre e fugiram na noite.
Fico pensando na dor de Maria ao saber da agonia de Jesus no Horto das Oliveiras, sabendo do sangue que lhe escorria com o suor. Fico pensando na dor de Maria ao saber de tudo que Seu Filho divino estaria passando nas mãos dos soldados naquela noite da Sua prisão. Ela sabia que o Sumo Sacerdote e os doutores da lei estavam ansiosos para pôr a mão n’Ele.
E, depois, na manhã do dia seguinte, vê seu Filho diante de Pilatos, que mandou flagelá-Lo até o sangue escorrer de suas chagas, coroado com uma coroa de espinho, dolorosa e humilhante. Que Mãe suportaria ver seu Filho sofrer tanto assim?
Que dor Maria não sentiu ao saber, ou quem sabe até ao ouvir, o povo insuflado pelos doutores da Lei gritando a Pilatos: “Crucifica-o, crucifica-o”? Como deve ter sofrido ao ouvir o povo gritar! Seu Filho era o Filho de Deus!
Maria vai ao encontro de Jesus que, carregando o peso da Cruz, se encaminha para o Calvário. O encontra todo desfigurado e entregue, coberto de mil feridas e horrivelmente ensanguentado. Seus olhares se cruzam.
Nenhuma queixa sai da sua boca porque as maiores dores Deus lhe reservou para a salvação do mundo. Aquelas duas almas, heroicamente generosas, continuam juntas no caminho do sofrimento, até o lugar do suplício.
Maria o acompanhou no caminho do Calvário, onde Ela viu seu Filho amado carregar a Cruz de nossos pecados, todo chagado, ferido, coroado de espinhos, destruído. Certamente, Ela se lembrou da espada de Simeão e das palavras de Isaias que conhecia tão bem, tendo-a ouvido na sinagoga de Nazaré: “Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele” (Is 53,3ss).
Ao encontrar-se com Jesus, os olhos d’Ele a fitaram; e Ela certamente compreendeu a dor de sua alma. Não pôde Lhe dizer palavra alguma, mas a fez compreender que era necessário que unisse a sua dor a d’ele. Neste encontro, a união da grande dor de Jesus e de Maria tem sido a força de tantos mártires e de tantas mães aflitas. Jesus sofreu a Paixão e Maria sofreu a compaixão.
Este fato ficou tão marcado na vida do povo católico, que tanto ama sua Mãe e seu Filho, que não deixa de celebrar esse Encontro com uma “Procissão do Encontro”, na Semana Santa.
Mãe e Filho se encontram nas ruas das cidades, ou em alguma praça onde o povo pode reviver esse santo Encontro. Nós, que temos medo do sacrifício, devemos aprender aqui, com este Encontro, a submeter-nos à vontade de Deus, como Jesus e Maria se submeteram. Aprendamos a calar nos nossos sofrimentos, e os olhares de Jesus e de Maria consolarão a nossa pobre alma sofredora.
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As nossas almas vão sentir a eficácia desta riqueza na hora em que, abatidos pela dor, formos até nossa Mãe fazendo a meditação deste Encontro dolorosíssimo. Esse silêncio se converterá em força para as almas aflitas, quando nas horas difíceis souberem recorrer à meditação desta Mãe que sofre.
É precioso o silêncio nas horas de sofrimentos; muitos não sabem sofrer uma dor física, uma tortura da alma, em silêncio; desejam logo contá-la para que todos o lastimem!
Jesus e Maria nos ensinam a aprender a sofrer em silêncio, com paciência, como eles sofreram no doloroso Encontro no caminho do Calvário.