Santa Teresa D'Ávila

A paciência tudo alcança

A tão necessária virtude da paciência na vida cristã

Essa famosa frase de Santa Teresa D’Ávila, mais do que nunca, precisa se encarnar em nossa vida. Isso porque o mundo de hoje, em que estamos imersos, parece que descartou, de forma definitiva, essa virtude tão importante.

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Isso porque o ritmo da vida contemporânea não promove a espera, a expectativa, o movimento natural e necessário para que as coisas aconteçam no seu tempo. Infelizmente, estamos perdendo a capacidade de esperar o tempo certo para cada coisa. E isso é flagrante com relação ao movimento das realidades mais ordinárias, mas também nas nossas relações interpessoais.

A chave é voltar o nosso olhar e o nosso coração para Nosso Senhor Jesus Cristo, modelo de paciência, que está fundamentada unicamente no amor e na humildade. A paciência, quando verdadeiramente compreendida e nutrida, tudo alcança.

Por onde anda a paciência?

Parece cômica, mas é uma pergunta séria e preocupante. Santa Teresa D’Ávila, no auge de sua maturidade humana, religiosa e espiritual, nos deixa como legado o belo poema “Só Deus basta” ou “Nada te perturbe”. O poema começa assim: “Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta”.

Não pensemos que Santa Teresa pôde compor este poema sem antes ter passado pelas mais duras penas, intempéries e provações. Aliás, nenhum santo se santificou sem passar por essa via, a via do sofrimento e da provação.

O sacerdote francês Adolphe Tanquerey nos afirma: “A paciência é uma virtude cristã que nos faz suportar, com serenidade de alma, por amor a Deus e em união com Jesus Cristo, sofrimentos físicos e morais. Todos sofrem o suficiente para ser santos, desde que se saibam suportar corajosamente e por motivos sobrenaturais.”(Compêndio de Teologia Ascética e Mística pg.439)

Aqui está a resposta para a pergunta inicial. Hoje, não estamos dispostos a suportar, com mansidão, as provas que se levantam diante de nós. Cada vez mais, a disposição de suportar, de esperar o tempo oportuno, de não querer se antecipar quando não se pode fazer nada além de esperar… Tudo isso tem escapado de nossas mãos. Estamos imersos no mundo do imediatismo, e, portanto, a paciência vai em retirada.

São três pontos importantes a destacar. O problema da impaciência com o movimento natural das realidades, que precisam de tempo para que se concretizem. A impaciência com as pessoas, pois nos falta disposição de esperar pelo processo do outro. E, por fim, a impaciência conosco mesmo. Não conseguimos esperar o nosso tempo, não conseguimos acolher a nós mesmos com o tempo que precisamos e, com isso, nos deparamos com a humanidade cada vez mais ansiosa, depressiva, doente física e emocionalmente. O triste é constatar que tudo isso tem despontado cada vez mais, até mesmo nas crianças.

Concluindo sobre a pergunta, por onde anda a paciência, chegamos ao consenso de que é preciso retomar a capacidade de sofrer o tempo, a espera, até mesmo sofrer com a consciência que o sofrimento não é mero “masoquismo”, mas o caminho para a maturidade humana e espiritual. Parte integrante do nosso processo de santidade.

Jesus Cristo, modelo de paciência

Ao tratar sobre a paciência que se obtém a partir da nossa disposição em sofrer as provações e “demoras” da vida e da parte de Deus, logo vem à lembrança aquilo que o próprio Jesus nos apresenta nas bem-aventuranças, de modo especial no Livro de Mateus:

“Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal de vós. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos céus a vossa recompensa.” (Mt 5, 3-12).

Quem vive apoiado nesta promessa, compreendeu tudo. Foi o que já mencionamos ao nos referirmos sobre o poema de Santa Teresa. Só vive a paciência de modo pleno, maduro e frutífero quem acolhe o sofrimento, as perseguições, calúnias e demoras com o olhar fixo em Jesus Cristo. Por amor a Ele sofrer, tendo em vista a recompensa na eternidade. O Catecismo da Igreja Católica nos apresenta as seguintes palavras sobre as bem-aventuranças:

“As bem-aventuranças retratam o rosto de Jesus Cristo e descrevem-nos a sua caridade: exprimem a vocação dos fiéis associados à glória da sua paixão e ressurreição; definem os atos e atitudes características da vida cristã; são as promessas paradoxais que sustentam a esperança no meio das tribulações; anunciam aos discípulos as bênçãos e recompensas já obscuramente adquiridas; já estão inauguradas na vida da Virgem Maria e de todos os santos.” (CIC 1717)

Se não alimentarmos no coração o desejo de, em tudo oferecer por amor à Jesus Cristo, será difícil suportar também por amor aquilo que se levanta diante de nós todos os dias. Tudo o que o Senhor permite que vivamos, é somente para que nos configuremos à Ele. E o próprio Senhor nos mostra com sua vida, com seus sofrimentos, na própria entrega na Cruz, a via para adquirirmos a paciência.

Em março de 2024, o Papa Francisco dedicou uma catequese sobre a virtude da paciência. Segundo o Papa, “na Paixão emerge a paciência de Cristo, que com mansidão aceita ser preso, esbofeteado e condenado injustamente; diante de Pilatos ele não recrimina; suporta os insultos, cuspidas e flagelações dos soldados; carrega o peso da cruz; perdoa quem o prega na madeira e na cruz não responde às provocações, mas oferece misericórdia.” Esta é a “paciência de Jesus”, sublinhou o Pontífice, ressaltando que “tudo isto nos diz que a paciência de Jesus não consiste numa resistência estoica ao sofrimento, mas é o fruto de um amor maior.”

Quando o Papa se refere a este “amor maior”, fala do amor infinito e misericordioso que Deus tem por nós. Isso porque não merecemos este amor. Não merecemos que Deus tenha paciência conosco, diante às nossas infidelidades, inconstâncias. E por que não agimos do mesmo modo? O Papa continua seu relato dizendo que “a paciência expressa um conceito surpreendente, que muitas vezes retorna na Bíblia: Deus, diante da nossa infidelidade, mostra-se “lento na ira”. Em vez de dar vazão ao seu desgosto pelo mal e pelo pecado do homem, revela ser maior, sempre pronto a recomeçar com paciência infinita. Este é o primeiro traço de todo grande amor, que sabe responder ao mal com o bem, que não se fecha na raiva e no desânimo, mas persevera e se relança. A paciência que recomeça.”

Como vencer com paciência

Como podemos ver, não é fácil, ainda mais nos dias de hoje, vencer com paciência. Vencer as tribulações, as provas, as misérias alheias e nossas próprias misérias, e não é fácil saber esperar o tempo de Deus. Somente lançando nosso olhar, todos os dias e nas diversas situações, para Jesus Cristo, por amor à Ele, modelo de paciência.

Santo Afonso de Ligório no livro Prática de amor à Jesus Cristo, nos ajuda a compreender como crescer na paciência, quando nos apresenta estas palavras:

“É preciso sofrer com paciência todas as tribulações desta vida, as doenças, as dores, a pobreza, a perda dos bens, a morte dos parentes, as injúrias, as perseguições e tudo o que nos contraria. Estejamos persuadidos de que os sofrimentos desta vida são sinais do amor de Deus para conosco, e de seu desejo de nos ver salvos no céu. (…) olhemos para o crucifixo e ofereçamos a Jesus nossos sofrimentos em união com os que Ele sofreu por nós na cruz.”

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Portanto, a regra para crescermos na paciência é saber sofrer e esperar. Não um sofrimento gratuito e vazio. Mas um sofrimento que sabe oferecer, que sabe se doar por amor, e se une aos sofrimentos Daquele que por amor à nós sofreu e se entregou. Além disso, trabalhar a nossa paciência pedindo ao Senhor a graça de tudo viver com mansidão. Santo Afonso continua a nos falar:

“Não nos irritemos com nenhum incidente. Se às vezes nos vemos surpreendidos pela raiva, recorramos logo à Deus, e abstenhamo-nos de agir e falar, até termos a certeza de que a ira já passou. Por isso é bom que nas orações nos preparemos para todos os contratempos que possam sobrevir, a fim de que, quando acontecem, não caiamos em falta. Lembremo-nos do que dizia São Francisco de Sales: Nunca me irritei, sem ter de me arrepender depois.”

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Que o Senhor nos conceda a graça de crescer na virtude da paciência, não perdendo nosso olhar do próprio Cristo. Que amando-O de todo o coração, possamos buscar viver as contrariedades com mansidão, na certeza de que nada está fora do controle das mãos de Nosso Senhor, que nos ama e nos conduz. Amém.

Deus abençoe você

Fontes:

AFONSO DE LIGÓRIO, Santo. Prática de amor a Jesus Cristo. Tradução de Pe. Gervásio Fabri dos Anjos. 7ª ed. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1996.

BÍBLIA Sagrada CNBB. 10ª ed. São Paulo: Edições CNBB/ Editora Canção Nova, 2010.

CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.

FRANCISCO. A paciência é a vitamina essencial do cristão. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2024-03/papa-audiencia-geral-virtude-paciencia-jesus-paixao-perdao.html>.