Sabe-se que após a vinda de Cristo a Lei mosaica não foi abolida, mas alcançou a sua plenitude Nele. As bem-aventuranças são, no Novo Testamento, estes mandamentos de vida eterna e caminhos a serem seguidos. É a receita para a configuração do ser humano ao homem perfeito: Jesus.
A mansidão é fruto do Espírito Santo. Como expressa São Paulo em Gálatas 5, utilizando-se do singular para dizer sobre “o fruto”, ser manso não diz de uma virtude única e isolada, mas vem acompanhada de todas as outras escritas: caridade, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé e temperança.
Ela traz em si o sinônimo de doçura, gentileza, cortesia. É impossível dissociá-la da humildade e da paciência. É ser contrário – em gestos concretos – às forças da soberba, da ignorância, das escravidões. Na verdade, a maior força está no ser manso, ligado intimamente ao dom da fortaleza. É a vitória do bem sobre o mal. A coragem de agir com amor para vencer o ódio, ainda que humanamente isso não pareça ser possível.
De forma mais concreta, esta bem-aventurança é perfeita nas ações e nos ensinamentos de Cristo. Em Lucas 6, 29: “Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra”. Em Sua Paixão, gastou-se em amar e em conceder liberdade à humanidade, mesmo nas adversidades, como escreve São Pedro: “O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava”.
“Bem-aventurados os mansos… porque possuirão a terra”. Feliz aquele que é doce, humilde, paciente – esta é a primeira parte. Recordemos o Salmo 37: “Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz” e na promessa ao povo de Israel no Antigo Testamento que era chegar a terra que brotava leite e mel. Na Antiga Aliança chegar à terra prometida, seria chegar num terreno físico sem escravidão, um lugar guardado por Deus para que o Seu povo pudesse habitar. Mas, ainda assim, alcançá-la implicou guerra e morte, tamanha dureza do coração humano.
Na Nova Aliança a terra que nos é dada por herança é além deste mundo. É um lugar onde não haverá mais sofrimento, choro ou dor. Amargura, indiferença ou morte. O Cristo plenifica todas as coisas. A terra é, agora, o céu. E eu posso tê-lo. Você pode tê-lo. Esta é a promessa da bem-aventurança. A mansidão, no hoje, é o descanso e a paz no amanhã.
Assim como em todos os mandamentos de Deus: não é a proibição. É ser verdadeiramente livre, enquanto filhos e filhas de Deus. Também ser manso, não é ser “bobo”, é entender que o céu é infinitamente maior que esse vale de lágrimas em que vivemos e que se gastar para alcançá-lo vale a vida.
Que o Senhor, em Sua infinita bondade, nos ensine a ter um coração manso e humilde como o de Seu Filho. E que nós não tenhamos medo de sermos doces, gentis e corteses para sermos cada dia mais imagem e semelhança do Cristo e para que mais pessoas possam encontrá-Lo.
Catarina Xavier Santos
Comunidade Canção Nova