Santo Afonso de Ligório (2021), no seu livro ‘Glórias de Maria’, afirma que a Virgem Santíssima foi a rainha dos mártires por causa da duração e intensidade de suas dores, sofrendo tormentos na alma, oferecendo a vida de seu Filho e padecendo sem consolo. Segundo aquele autor: “sofreu Maria o martírio durante toda a sua vida por ser em tudo semelhante ao Filho” (p. 358).
Santo Afonso de Ligório comenta ainda a visão que Santa Brígida teve da Santíssima Virgem, junto com Simeão e um Anjo que trazia uma longa espada a gotejar sangue, na Igreja de Santa Maria em Roma, onde Nossa Senhora disse:
“Almas remidas, filhas diletas, não vos deveis compadecer de mim, só por aquela hora em que assisti à morte de meu amado Jesus. Pois a espada, prenunciada por Simeão, transpassou minha alma em todos os dias de minha vida. Quando eu aleitava meu Filho, o aconchegava ao colo, já contemplava a morte cruel que lhe estava reservada. Considerai por isso que áspera e intensa dor eu devia sofrer!” (Glórias de Maria, p. 359).
A Santíssima Virgem continua afirmando a Santa Brígida que “mesmo depois da morte da ascensão de seu Filho ao céu, continuava viva e recente, em seu materno coração, a lembrança dos sofrimentos dele. Acompanhava-a até nos trabalhos e nas refeições” (Santo Afonso de Ligório, em Glórias de Maria, p. 359).
Os tormentos de Maria não foram aliviados ao longo do tempo. Pelo contrário, ao saber que a morte de Jesus se aproximava, “cada vez mais a dor por haver de perdê-lo apertava também o coração da Mãe” (Santo Afonso de Ligório, em Glórias de Maria, p. 360).
Em Lc 2,35 consta a mensagem de Simeão a Virgem Santíssima: “e a ti, uma espada transpassará tua alma!”. Santo Afonso, comentando esse versículo, esclarece: “Ó Virgem sacrossanta, os outros mártires hão de ter o corpo ferido pela espada, porém vós tereis a alma transpassada e dilacerada pela Paixão do vosso Filho. Quanto a alma é mais nobre que o corpo, tanto a dor de Maria foi superior à de todos os mártires. Não são as dores da alma comparáveis aos tormentos do corpo, disse o Senhor a S. Catarina de Sena” (Santo Afonso de Ligório, em Glórias de Maria, p. 361).
Mesmo assim, numa vida de dor e sofrimento perene, podemos afirmar que a Virgem Maria, pela graça de Deus, no poder do Espírito Santo e pelos méritos do seu Filho, por amor, viveu na vontade do Pai, sendo fiel e obediente até o fim. Maria não desistiu! Suportou tudo em silêncio! Guardou tudo no coração e perseverou até o fim.
Em Jo 19,25 está dito que “perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena”. Veja que Nossa Senhora permanecia de pé. Não estava desesperada, caída, mas de pé, o que indica que, em meio à dor dilacerante na sua alma, confiava nos planos de Deus. A esperança não a abandonou.
E continuou a sua missão. No alto da cruz, Jesus enfatiza a maternidade espiritual de Maria ao elegê-la como Mãe de João. Veja em Jo 19,26: “Jesus, então, vendo a mãe, e perto dela o discípulo a quem amava, disse à mãe: ‘Mulher, eis teu filho!’ Depois disse ao discípulo: ‘Eis tua mãe!’ E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa”. Maria, mesmo em meio à dor e ao sofrimento, exerceu, com muito amor e dedicação, a sua maternidade biológica e também espiritual em relação a João e à Igreja.
O Concílio Vaticano II, na Lumen Gentium de Ecclesia – Constituição Dogmática do Concílio Ecumênico Vaticano II afirma sobre a Santíssima Virgem que “Concebendo a Cristo, gerando-o, alimentando-o, apresentando-o no templo ao Pai, sofrendo com seu Filho que morria na cruz, ela cooperou de modo absolutamente singular – pela obediência, pela fé, pela esperança e a caridade ardente – na obra do Salvador para restaurar a vida sobrenatural das almas; por tudo isso, ela é nossa mãe na ordem da graça” (n. 61).
E continua esse documento afirmando que:
“a maternidade de Maria, na economia da graça, perdura sem cessar, desde o consentimento que ela prestou fielmente na anunciação e manteve sem vacilar ao pé da cruz, até a consumação final de todos os eleitos. De fato, depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salutar, mas, pela sua múltipla intercessão, continua a obter-nos os dons da salvação eterna. Com seu amor de Mãe, cuida dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam e se debatem entre perigos e angústias, até que sejam conduzidos à Pátria feliz” (Lumen Gentium, n. 62).
Podemos afirmar então que Maria passou pela Semana Santa obediente, com fé, esperança e continua sua missão de Mãe, até hoje, com caridade ardente, sendo nossa Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira. A dor não lhe parou.
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Nesse ano de 2025, dedicado ao Jubileu da Esperança, o Papa Francisco enfatiza o exemplo de Maria ao afirmar:
“24. A esperança encontra, na Mãe de Deus, a sua testemunha mais elevada. N’Ela vemos como a esperança não seja um efêmero otimismo, mas dom de graça no realismo da vida. Como todas as mães, cada vez que olhava para o Filho pensava no seu futuro, e certamente no coração trazia gravadas aquelas palavras que Simeão Lhe dirigira no templo: ‘Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada transpassará a tua alma’ (Lc 2, 34-35). E aos pés da cruz, enquanto via Jesus inocente sofrer e morrer, embora atravessada por terrível angústia, repetia o seu ‘sim’, sem perder a esperança e a confiança no Senhor. Desta forma, cooperava em nosso favor no cumprimento do que dissera seu Filho ao anunciar que Ele teria de ‘sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, e ser morto e ressuscitar depois de três dias’ (Mc 8, 31), e no parto daquela dor oferecida por amor tornava-Se nossa Mãe, Mãe da esperança. Não é por acaso que a piedade popular continua a invocar a Virgem Santa como Stella Maris, um título expressivo da esperança segura de que, nas tempestuosas vicissitudes da vida, a Mãe de Deus vem em nosso auxílio, apoia-nos e convida-nos a ter fé e a continuar a esperar” (Spes non Confundit – Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do ano 2025).
Rogamos a Virgem Santíssima que nos conceda a graça de viver a Semana Santa e até mesmo o calvário da sua vida, com Fé, Esperança e Caridade, permanecendo obediente e fiel até o fim. Nossa Senhora das Dores, rogai por nós.