Ao observarmos a nossa rotina, as atividades cotidianas que realizamos, pode parecer-nos que nada muda de forma significativa de um dia para o outro. O ordinário se nos apresenta de forma até entediante se pensamos apenas no ciclo de dormir, acordar, comer, trabalhar, dormir, e tudo outra vez. Podemos, por vezes, encontrar-nos distraídos por coisas que nos dão uma alegria momentânea, e viver buscando esses momentos de euforia passageiros. Podemos sentir-nos sobrecarregados, estressados com as atividades que se repetem ontem, hoje, e amanhã. Quando somos visitados por enfermidades, ou simplesmente nos damos conta de que a vida está passando depressa demais, nos perguntamos: e agora, o que posso fazer para aproveitar melhor o tempo que ainda tenho? Como posso melhorar o que não vai bem? Essas perguntas podem nos levar ao desânimo ou à esperança.
A virtude que não nos deixará cair no desânimo é a constância.
“Começar é de todos; perseverar, de santos” (São Josemaria Escrivá, Caminho 983). De fato, o ordinário dos dias pode não parecer tão empolgante quanto a vida que idealizamos em nossos sonhos. Porém, devemos tomar o cuidado de não nos deixarmos levar pela tentação de querer realizar somente coisas grandiosas, como se a nossa satisfação fosse completa somente nos grandes feitos, nas grandes realizações. Viver esperando dias extraordinários pode levar ao desânimo porque o nosso coração se endurece às realidades simples, e não enxerga que há beleza em um dia comum, nas atividades comuns. A santidade se esconde, por assim dizer, no simples da vida. Nas atitudes pequenas, mas constantes, do nosso cotidiano. É difícil realizar determinada atividade quando ela se torna repetitiva, mas é a disciplina que gera a santidade, precisamente nas atividades e nos tempos mais difíceis de nossas vidas. Somente assim é possível adquirirmos têmpera, crescer em robustez interior. Quando decidimos ter um estilo de vida saudável, por exemplo, o primeiro dia que vamos à academia é importantíssimo, mas ainda mais importante é a constância neste bom propósito. Conforme contemplarmos, nós mesmos, a nossa constância, isso nos impulsionará a continuar sendo fiéis em tal hábito. Um passo de cada vez, sim, mas sempre um novo passo! Como dizia Padre Jonas, é proibido estacionar!
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A constância não é sobre nunca falhar em um propósito, mas em ter sempre a iniciativa de retomá-lo, porque a fidelidade no pouco é o que nos garantirá participar das grandes coisas (Mt 25, 21), e não o contrário. Confiemos que Deus não nos deixa sozinhos, que nos capacita e nos dá a Sua graça, mas tenhamos a consciência de que Ele conta com o nosso esforço no caminho de santificação que trilhamos. Santa Teresa D’Ávila nos exorta à constância na oração e na intimidade com Deus. O que precisamos fazer é enxergar TUDO o que fazemos como oportunidade de oração, de relacionamento com Deus, seja o acordar sempre no mesmo horário, realizar bem o trabalho, dedicar um tempo para ler a Bíblia todos os dias, lavar o banheiro, fazer atividade física, etc. Assim, que nós possamos nos comprometer com Deus, e fazer como a Doutora nos indica: “Para aqueles que querem ir por este caminho, que o levará a beber desta água da vida, digo que é muito importante prestar atenção em como irão começar: em tudo, com uma imensa e muito determinada determinação! E não parar até chegar a ela, venha o que vier, suceda o que suceder, dando o trabalho que der, murmurando seja quem for, até chegar lá, mesmo que se morra pelo caminho…” (Santa Teresa D’Ávila, Caminho de Perfeição).