ANUNCIAÇÃO

"Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38)

O mistério do amor de Deus por nós é maior do que imaginamos; verdadeiramente, nós estamos diante de um Mistério, sim, com o “M” maiúsculo. Mistério de Deus que se fez carne e habitou entre nós.

A ação divina e salvífica, sem precedentes que nos alcança e que dependeu do “sim” de Nossa Senhora. Por isso é justo, antes de mergulharmos no tema proposto, percorrermos alguns pontos necessários, como a história, o peso teológico desta celebração, etc. Ao fim deste artigo teremos uma lista de documentos e livros, se quiser para sua formação católica.

A Anunciação, episódio narrado no Evangelho de Lucas (Lc 1, 26-38), tem origem nos primeiros séculos do cristianismo, e quando observamos mais atentamente, nós encontramos nos versículos algo fundamental: a concepção virginal de Maria.

Ela é a mãe de Deus! Biblicamente podemos provar. Além do mais, os cristãos dos primeiros séculos, assim como os apóstolos – Igreja primitiva- professavam a Encarnação de Deus através da concepção de uma Virgem. Como todo dogma de fé não é criado, mas acolhido e chancelado pela Igreja, ou seja, algo que os cristãos já tinham como devoção ou costume arraigado. Como, por exemplo, a oração de Nossa Senhora, que foi encontrada num papiro e, por datação no carbono, sabe-se que é século III:

O texto mais antigo desse hino foi encontrado em uma liturgia de Natal copta ortodoxa. O papiro registra o hino em grego, datado do século III pelo papirologista E. Lobel e pelo estudioso C.H. Roberts do século IV. (Matthewes-Green, Frederica (2007). The Lost Gospel of Mary: The Mother of Jesus in Three Ancient Texts. Paraclete Press. Brewster MA: [s.n.] pp. 85–87. ISBN 978-1-55725-536-5)

E, várias vezes, os papas citam a oração, recorrendo a Mãe de Deus através desta oração tão antiga: Num mundo de órfãos, Maria é a Mãe que nos entende até o fim e nos defende, também porque viveu na sua pele as mesmas humilhações que hoje, por exemplo, padecem as mães dos presos. Celebrando a missa na memória da Bem-Aventurada Virgem das Dores, o Papa sugeriu que nos refugiemos sempre, nos momentos difíceis, «sob o manto» da Mãe de Deus, repropondo assim «o conselho espiritual dos místicos russos» que o Ocidente relançou com a antífona Sub tuum praesidium. (Publicado no L’Osservatore Romano, ed. em português, n. 38 de 22 de setembro de 2016)

(pergaminho com a oração em grego, oração a Nossa  Senhora: a  vossa proteção.     Disponível       em <https://www.vaticannews.va/pt/oracoes/a -vossa-protecao.html>.  <https://www.digitalcollections.manchest er.ac.uk/view/MS-GREEK-P-00470/1>. Acesso em 20 mar 2023).(VATICAN NEWS. À Vossa Proteção. Diponível em:  (VATICANNEWS. À Vossa Proteção

 

À Vossa Proteção recorremos, Santa Mãe de Deus.
Não desprezeis as nossas súplicas em nossas
necessidades, mas livrai-nos
sempre de todos os perigos,
ó Virgem gloriosa e bendita.
(Disponível em:<https://www.vaticannews.va/pt/oracoes/a -vossa-protecao.html>.)

Com o Concílio de Niceia do ano 325 e o Concílio de Constantinopla foi estabelecido o Credo com o qual ainda hoje proclamamos que o Filho de Deus “por nós homens e para a nossa salvação desceu dos céus e se Encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria e se fez homem”.

A celebração da solenidade litúrgica difundiu-se na época de Justiniano, no século VI, e foi introduzida na Igreja romana pelo Papa Sérgio I no final do século VII com uma solene procissão na basílica de Santa Maria maior, localizada em Roma, na qual os mosaicos do arco do triunfal são dedicados à divina maternidade de Maria, proclamada Theotokos do Concílio de Éfeso (ano 431).

Então, quando alguém te disser que não existem argumentos históricos e bíblicos sobre Maria, com tranquilidade e mansidão conduza este a uma boa reflexão. Nesta grande festa, um respiro em meio a Quaresma, nosso olhar se dirige especialmente a Jesus, o Verbo de Deus feito carne. E sabemos, por São Tomás de Aquino, que Nossa Senhora consentiu também sobrenaturalmente. Na pergunta do Arcanjo Gabriel, estava contida uma resposta de peso salvífico imenso. Ela seria a Mãe de Deus e o processo de salvação de toda a humanidade iniciaria com seu “sim”. Deus o quis deste modo.

Garrigou-Lagrange (O.P.), em seus escritos, sobre a Mãe do Salvador e Nossa Vida Interior, que para Santo Tomás de Aquino (IIIª, q. 30, a. 1, 2, 3, 4.) convinha que o anúncio do mistério da Encarnação fosse feito a Santíssima Virgem, para que ela fosse instruída e pudesse dar o seu consentimento. Por ele, a Virgem concebeu espiritualmente o Verbo feito carne, dizem os Padres, antes de concebê-lo corporalmente. Ela deu esse consentimento sobrenatural e meritório, acrescenta Santo Tomás, em nome de toda a humanidade, que tinha necessidade de ser regenerada pelo Salvador prometido.

O mistério do amor de Deus por nós é maior do que imaginamos. Verdadeiramente, nós estamos diante de um Mistério, sim, com o “M” maiúsculo e com M de Maria. “Se não nos enchemos de pasmo ante os mistérios de Deus, acabamos por perder a fé” (São Josemaría Escrivá, Notas de uma conversa, 25-10-1973).

Por fim, agora é sua parte, esse texto com tantas riquezas da Igreja que nos leva a contemplar melhor o Mistério da Encanação pelo anúncio do Arcanjo a Virgem Maria, tem que produzir efeitos dentro do seu coração. Por isso quero terminar com algo que li de um livro (Dom Javier Echevarria, em sua obra “Creio, cremos”, que são cartas pastorais aos fiéis da Prelazia do Opus Dei durante o Ano da fé (2012-2013). Ele diz, neste livro, que todas estas razões, e muitas mais que caberia enumerar, podem resumir-se numa só: “O Verbo encarnou-se para nos fazer “participantes da natureza divina” (2 Pd. 1, 4):

“Porque tal é a razão pela qual o Verbo se fez homem, e o Filho de Deus, Filho do homem: para que o homem, ao entrar em comunhão com o Verbo e receber assim a filiação divina, se convertesse em filho de Deus»” (Catecismo da Igreja Católica. n. 460. A citação é de Santo Ireneu de Lyon, Contra as heresias, 3, 19, 1 (PG VII/1, 939).

Jesus Cristo é realmente a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade: o Filho do eterno Pai que assumiu verdadeiramente a nossa natureza humana, sem deixar de ser Deus. Jesus não é um ser em parte divino e em parte humano, como uma mistura impossível da divindade e da humanidade. É perfectus Deus, perfectus homo – perfeitamente Deus e perfeitamente homem – como proclamamos no Quicumque ou Símbolo Atanasiano (Símbolo Quicumque 30-36 (Denz. 76). Esforcemo-nos por penetrar a fundo nesta verdade; peçamos ao Paráclito que nos ilumine para podermos captá-la mais profundamente, convertendo-a em vida da nossa vida, e para comunicá-la com santo entusiasmo aos outros. Não esqueçamos que devemos manifestar, em cada momento, em qualquer circunstância, o orgulho santo de sermos irmãos de Jesus, filhos de Deus Pai em Cristo.

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