A misericórdia de Deus nunca esteve velada ao homem, basta olhar para toda a história da salvação, a começar pela criação do homem. As obras de Deus foram criadas para darem louvores ao seu criador; e já na criação encontramos a manifestação do Deus Misericordioso. Passando por todos os relatos do livro do Gênesis, percebemos o quanto Deus ama o seu povo e tudo que faz para manifestar esse amor, desde o momento em que acolhe o pecador até a constituição do seu povo na figura do patriarca Abraão. Todo o Antigo Testamento possui no seu âmago a revelação da misericórdia, mesmo quando aparentemente só percebemos a imagem de um Deus castigador e irado com o seu povo. É que facilmente esquecemos que a Justiça também é uma face da misericórdia.
“Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei, a fim de remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a sua adoção”(Gal 4,4-5). Aqui de forma mais clara ao homem, Deus manifesta a sua misericórdia. O Papa Francisco de forma esplêndida conseguiu resumir tudo que Paulo afirmou aos gálatas quando disse: “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré” (Misericordiae Vultus). A partir da encarnação, podemos dizer que a misericórdia tem um nome, um rosto e que é uma pessoa: Jesus Cristo. Ele é a grande misericórdia do Pai, é nele que o homem antes condenado pelo pecado agora pode caminhar rumo à salvação de sua alma. O céu se abre para o pecador quando Cristo na cruz abre o seu peito. Dali brota misericórdia, daquele momento em diante podemos anunciar a misericórdia de Deus pela humanidade quando anunciamos o Verbo Encarnado.
Foto: Anastasia_Aleksieieva by Getty ImagesSão João Paulo II certa vez afirmou: “A situação do mundo contemporâneo não só manifesta transformações que fazem esperar um futuro melhor do homem sobre a terra, mas apresenta também múltiplas ameaças, que ultrapassam largamente as conhecidas até agora. Sem deixar de denunciar tais ameaças (por exemplo, com intervenções na ONU, na UNESCO, na FAO e noutras sedes), a Igreja deve também examiná-las à luz da verdade recebida de Deus” (Dives in Misericordiae, 2). Nós também, hoje, precisamos enxergar os acontecimentos do mundo à luz da Verdade Revelada. A ciência, a filosofia e as várias áreas de estudo têm seu parecer próprio, mas a luz do Evangelho e de Jesus que nos revela a face da misericórdia, a Igreja também precisa contemplar os acontecimentos da atualidade, enxergando neles a manifestação da misericórdia de Deus. Quantas pessoas durante o caos estabelecido pela pandemia da Covid-19 voltaram para Deus! De forma misteriosa, nisto contemplamos a misericórdia do Pai que vem aos seus filhos, mesmo em meio a tudo que vivemos.
Poderíamos aqui pegar os fatos históricos da humanidade e enxergar neles a misericórdia de Deus, mas agora basta-nos entender que Cristo é o verdadeiro rosto da misericórdia. Essa verdade se torna uma chave de leitura, uma forma de interpretação de tudo que nos pode acontecer.
A misericórdia tem um rosto e é Jesus Cristo, conhecê-Lo é se deixar ser alvo do amor de Deus!
Deus te abençoe!
Renné Santos de Sena Viana
Seminarista Comunidade Canção Nova
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Misericordiae Vultus
CARTA ENCÍCLICA DIVES IN MISERICORDIA DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II SOBRE A MISERICÓRDIA DIVINA
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