Ao visitar o Santuário do Pai das Misericórdias e ao ver as transmissões das Missas e dos programas, uma característica da arte sacra pode passar despercebida: o Caminho. Este caminho é como o Espírito, não se sabe de onde vem, mas se sabe onde vai parar. A arte no Santuário começa na nave central e se completa no mosaico até o abraço do Pai, passando pela Estrela, indo até o Céu.
No Novo Testamento, a simbologia do Caminho ou alusão é riquíssima.
Este Caminho significa a trajetória do Cristão até o Pai, e ele foi aberto, nada mais nada menos, por Cristo desde a Sua Encarnação até a Morte e Ressurreição; um caminho que não foi aberto por facão nem mesmo por tratores, mas aberto por sangue. O primeiro nome dado a nós, quando éramos considerados uma seita judia, era “o Caminho”. O próprio Cristo se identificava como “o Caminho”. Ora, ele declarou: “Sou o Caminho, a Verdade e a Vida.”
Para onde nos leva Cristo? Para o Seu Reino. Um Reino que não é natural, é o Reino dos Céus, um reino que não passará. Seu percurso está dado em Sua Palavra, Sua Doutrina e em Seus Sacramentos.
Esse percurso não é fácil, apesar de aberto por Cristo; e Ele mesmo disse: “É mais fácil um camelo entrar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no Reino”. E ainda: “O Reino dos Céus é para os violentos”.
No entanto, quando olho para o caminho que está no Santuário, não consigo esquecer o meu coração (e espero que depois de ler este texto você não se esqueça do seu). No evangelho, temos uma famosa parábola que é a do semeador, que está em Lc 8,4-8: “E o semeador a semear, algumas sementes caíram à beira do caminho, foram pisadas e comidas por pássaros”.
Nosso Senhor esclarece que “os que caíram à beira do caminho são os que ouvem, mas logo vem o Diabo e arranca a palavra do seu coração, para que não creiam e não se salvem”(Lc 4,12). Eu poderia estabelecer mais aspectos do Caminho, mas vamos mergulhar aqui; talvez num outro momento, voltemos a outras riquezas desse símbolo.
As sementes que caem pelo caminho são a verdade dos Evangelho, é a Palavra de Deus. Quantas vezes nós ficamos pelo caminho, e o nosso coração se transforma neste caminho miserável, que, em vez de lutar para que venha a mim o teu Reino, deixa a rica semente ser pisoteada e devorada pelo Diabo, que são os pássaros.
Esse anjo das trevas, que com suas asas vem nos roubar quando estamos pelo caminho, não faz barulho. Ilude-se quem pensa que este roubo é cinematográfico – está mais para um roubo de galinha ou um roubo de canetas translúcidas de uma famosa marca. São as distrações interiores que surgem durante a participação da Santa Missa, aquela tarefa que você se lembra de como resolver bem na hora do Evangelho.
Já o pisoteamento, podemos compará-lo às distrações externas, e a isso você pode relutar. “Pois disso não tenho culpa.” Certamente tem, pois está mais atento ao externo, está raso, fez-se caminho. Se fosse terra boa, a distração não lhe roubaria. E é culpando os outros de suas distrações que você jamais colherá frutos.
Na estrada da fé, neste rumo à Pátria Celestial, deve-se ter a coragem de não parar pelo caminho, nem mesmo fazer-se caminho, autocentrando-se. Pautar a trajetória pelo que quero, montando uma “religião Frankestein”, montando uma doutrina on demand, onde somente acolho aquilo que me convém, para me aliviar. É verdade que ao acolher esta “religião Frankestein”, você se torna atração de circo, não o circus maximus onde cristãos morriam em honra da fé, mas palhaço mesmo.
Não são poucos os que vemos ficar pelo caminho, perdidos, distraídos, autocentrados, sem saber como avançar ou mesmo qual é a direção.
A solução para isso está no Caminho, isto é, no Cristo. Ele nos aponta a direção para o Alto, e Suas santas palavras nos conduzem ao abraço derradeiro. Nesse caminho, encontramos uma mãe que nos orienta e nos fornece o necessário para a Peregrinação: a Igreja.
Coragem! Não fique pelo Caminho.
Guilherme Christóvão | Instagram: @guilhermecancaonova
Comunidade Canção Nova