VIDA DOS SANTOS

O amor a Deus em São Josemaria Escrivá

Josemaria Escrivá de Balaguer nasceu, em 9 de janeiro de 1902, em Barbastro, no norte da Espanha; o segundo de seis filhos de José e Dolores. Sua biografia registra que, desde cedo, precisou ser forte. Já cedo, aos dois anos de idade, enfrenta uma doença que quase o leva à morte. Mais tarde, o santo creditaria a Virgem Maria a salvação de sua vida. Pouco tempo depois, conhece a morte: aos 8 anos, perde a irmã mais nova. Também a infância é marcada pela falência dos negócios da família. Experiências amargas, vulnerabilidades, que foram forjando o caráter do fundador do Opus Dei.

São Josemaria Escrivá

Espiritualmente, nutre um profundo amor aos sacramentos e, desde criança, já dava sinais da força de sua busca e entrega a Deus por amor de Deus e dos homens. Esse amor levou o menino que queria ser arquiteto a optar pelo sacerdócio após uma experiência aparentemente simples no natal de 1917 . Após ordenado, em 2/10/1928, o jovem sacerdote tem a inspiração daquilo que um dia chamaria de Opus Dei, obra de Deus, hoje com cerca de 900 mil membros espalhados pelo mundo, mas que teria o primeiro centro fundado cinco anos depois, em 1933, sendo aprovado como Pia União em 1941 e elevado ao estatuto de Prelazia Pessoal apenas 1982, sete anos após a morte do fundador.

Porém, o surgimento, consolidação e expansão do exercício específico da sua vocação e um dos seus legados no mundo, o Opus Dei, ainda estariam submetidos a duras provações; o santo passaria pelas duras provas de uma Espanha mergulhada pelo sentimento anticlerical, proveniente da guerra civil que se instalaria no país ibérico.

Aprendeu, neste tempo, o que escreveria depois em uma das suas principais obras, Caminho: “Cresce perante os obstáculos. A graça do Senhor não te há de faltar.” (ESCRIVÁ, 2021, p.29). Foram anos difíceis em que o padre Josemaria precisou se esconder junto e até mesmo se refugiar na parte francesa dos Pirineus com os primeiros membros do Opus Dei em esconderijos, para evitar que a própria família fosse posta em risco. 

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 O regime comunista que se apoderara da capital espanhola levava o terror ao catolicismo promovendo destruição de Igrejas e execuções contínuas de sacerdotes e religiosos. Revistas contínuas eram realizadas em buscas dos novos criminosos: os católicos. As notícias de cercos e de mortes de colegas chegam ao conhecimento de Escrivá, levando-o, outra vez, a confrontar-se com o medo e os perigos da vulnerabilidade de ser um padre em meio àquela guerra:

Escreveu, certa vez, Josemaria em Forja: “Não somos plantas de estufa. Vivemos no meio do mundo, e temos de estar expostos a todos os ventos, ao calor e ao frio, à chuva e aos ciclones…, mas fiéis a Deus e a sua Igreja”. (ESCRIVÁ, 2021, p.736). Os relatos de quem sofreu junto com ele as limitações daquele período dão testemunho de que o fundador do Opus Dei era coerente entre pregação e vida. Não mantinha ódio aos que perseguiam os católicos, à semelhança de Cristo que perdoou seus algozes no Calvário. Sofria sem deixar de amar quem quer que fosse: vítima ou agressor.

“Não somos plantas de estufa. Vivemos no meio do mundo, e temos de estar expostos a todos os ventos, ao calor e ao frio, à chuva e aos ciclones…, mas fiéis a Deus e à sua Igreja”.

Findados os anos de guerra espanhola, é levado a ajudar na formação do clero devastado pela perseguição comunista, mas sofre as acusações de dentro e de fora da Igreja pela proposta que apresentava ao mundo: a santidade universal através da vivência cotidiana das atividades habituais de cada vocação; chegou até a ser acusado de herege ao Santo Ofício. Buscavam retirá-lo até mesmo da obra que fundara. Alicerçado no amor a Deus, reluta, resiste, ora, não se cansa. Um coração cheio de amor por Deus não se abate, nem nas maiores aflições.

São Josemaria Escrivá ainda viveria mais uma experiência de vulnerabilidade. Portador de uma alma inquieta na evangelização que o levava a dezenas de países, inclusive o Brasil, foi experimentando no corpo, apesar de não demonstrar a quem o via pregar com toda vitalidade, as debilidades da condição humana. O diabetes chega; aos poucos vão se aprofundando problemas de visão; dores são constantes no padre, que não se diminui, nem diminui o ritmo do seu trabalho de evangelização e expansão da obra que já chegara em vários pontos do mundo, incluindo Roma. É na cidade eterna, em um dia normal de atividades, que, em 1975, o coração tão inflamado de amor a Deus e robustecido da virtude da fortaleza para: após uma visita a alunas do Colégio Romano da Santa Cruz, cai sem vida, vítima de um ataque fatal.

Porém, a força do seu legado permaneceu de pé. Fortaleza reconhecida pela Igreja que o declara “venerável” em abril de 1990. Dois anos depois, é beatificado. Somente em 2002, com São João Paulo II, é declarado santo em 6 de outubro.

Ler a história de um santo é sempre reconhecer as virtudes heroicas que Deus concede àquele homem ou àquela mulher, como um sinal vivo de sua presença, de seu amor sempre vivo, de seu desejo de salvação e conversão de toda humanidade. Em Josemaria encontram-se aquelas qualidades humanas enriquecidas pela Graça que o permitiram ser um exemplo. Ressoam as primeiras palavras de Escrivá em sua famosa obra Caminho: Que a tua vida não seja uma vida estéril. Sê útil. Deixa rastro. Ilumina com o resplendor da tua fé e do teu amor” (ESCRIVÁ, 2021, p.27).

Empreende e tolera as dificuldades da vida, quer seja na família, na fundação do Opus Dei ou na própria saúde, em virtude de um bem que o supera e o motiva a caminhar, com ou sem medo, nas vulnerabilidades da existência humana. E o faz sempre com magnificência, sempre provido de uma palavra ou gesto de bom humor e de carinho a quem o persegue ou o critica. Não se deixa abalar pelas circunstâncias mais cruéis que o mundo provoca. É firme! É perseverante e audaz, caminhando na justiça e na prudência, motivado pelo amor sem limites a Deus, custe o que custar, porém, sem jamais negociar a alegria, a esperança, a amabilidade e o amor aos homens.

George Lima
Membro definitivo da Comunidade Canção Nova. É natural de Maranguape – CE, tem 35 anos, ingressou na Comunidade em 2014 e no seminário Canção Nova em 2016. Bacharel em Comunicação Social, Jornalismo, pela UFC, licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, atualmente, cursa o 2º ano de Teologia.

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