O VERBO DE DEUS

Os três nascimentos de Jesus no Natal

Vamos falar um pouco sobre a Liturgia do Natal?

Neste tempo santo do Natal, a Santa Igreja Católica celebra, de forma maravilhosa, a alegre festa da Natividade de Nosso Salvador Jesus Cristo. De forma especial, podemos participar disso pela permissão única concedida aos sacerdotes para celebrar o Santo Sacrifício da Missa três vezes no dia do Natal, e pela continuação da celebração por uma extensão de oito dias, período que chamamos de Oitavas de Natal. Durante as Oitavas de Natal e durante todo o tempo do Natal, a liturgia da Igreja possui um enorme significado. Por essa razão, o Papa São Pio X e o Papa Pio XII encorajavam os fiéis a acompanhar a Santa Missa e as demais cerimônias litúrgicas com seus missais nas mãos:

Papa São Pio X: “Se você deseja ouvir a Missa como deve ser ouvida, deve acompanhar com os olhos, o coração e os lábios tudo o que acontece no altar”.

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“Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará ‘Deus Conos­co’.” (Isaías 7,14) | Foto ilustrativa: cancaonova.com

Papa Pio XII: “Coloca o missal nas mãos dos fiéis para que participem mais fácil e fecundamente na Missa; e que os fiéis, unidos ao sacerdote, rezem juntos nas próprias palavras e sentimentos da Igreja”.

O Papa Pio XII também diz que: “O dever mais urgente dos cristãos é viver a vida litúrgica e aumentar e valorizar seu espírito sobrenatural.

O monge Beneditino e Servo de Deus, Dom Gueranger, O.S.B., em sua obra, O Ano Litúrgico, escreveu que os primeiros cristãos eram espiritualmente fortes e bem educados em sua fé católica por causa de seu amor e conhecimento da liturgia:

A oração da Igreja é a mais agradável ao ouvido e ao coração de Deus e, portanto, a mais eficaz de todas as orações. Feliz, pois, aquele que reza com a Igreja e une os seus pedidos aos dessa noiva, tão querida ao seu Senhor… ”.

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Assim iniciados no sagrado ciclo dos mistérios do ano cristão, os fiéis, atentos aos ensinamentos do Espírito, conheceram os segredos da vida eterna; e sem qualquer preparação adicional, um cristão era freqüentemente escolhido pelos bispos para ser um sacerdote ou mesmo um bispo, para que pudesse ir e derramar sobre o povo os tesouros da sabedoria e do amor, que havia bebido na própria fonte.

Liturgia da Igreja

Que declaração impressionante! Os primeiros cristãos estavam tão bem fundados na fé que eram escolhidos para serem padres ou mesmo bispos sem nenhuma preparação adicional.

A liturgia da Igreja pode ser lindamente comparada ao “maná” com que Deus alimentou milagrosamente o Seu povo eleito no deserto. O maná era milagroso, satisfez as necessidades físicas e gostos de todos por quarenta anos. Conseguia sustentar homens e mulheres adultos, e também era saboroso e digerível para crianças pequenas. Da mesma forma, a liturgia da Igreja Católica é um maná espiritual pelo qual os fiéis católicos, tanto jovens como idosos, eruditos e iletrados, são alimentados sacramental e espiritualmente. A liturgia é tão simples em seu significado que até mesmo uma criança pode compreender as verdades apresentadas, e ainda assim é tão profunda que os maiores teólogos sempre terão matéria suficiente para refletir nos mistérios e símbolos nas orações e cerimônias.

Tendo pensado um pouco sobre o que é a Liturgia para a Igreja, vamos falar um pouco sobre a Liturgia do Natal.

O sacerdote pode celebrar três missas no dia de Natal: uma, à noite, no dia 24, chamada de Missa Vespertina, outra, em geral, à meia noite, no dia 25, a primeira Missa do Natal do Senhor que também se celebra ao amanhecer, e outra ainda mais tarde, no dia 25, a missa do dia. Esse ato faz menção aos “três tipos diferentes de nascimento” de Jesus Cristo: 

1- Seu nascimento humano da Imaculada Virgem Maria no tempo; 

2- Seu nascimento espiritual em nossas almas pela vida divina da graça santificadora e; 

3- Sua geração ou nascimento eterno no Seio do Pai. Se nós mergulharmos em cada um desses três nascimentos, teremos muito assunto para meditação espiritual e doutrinária.

A primeira missa, à meia-noite, homenageia o nascimento humano do Filho de Deus seio da Imaculada Virgem Maria, o cumprimento da profecia de Isaías:

Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará ‘Deus Conos­co’.” (Isaías 7,14).

Primeira Missa

Na liturgia da primeira Missa, encontramos delineada a doutrina da União Hipostática de Jesus Cristo – a união da Natureza Divina e da natureza humana em uma Pessoa Divina.

“Todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3,16) | Foto ilustrativa: cancaonova.com

O Evangelho desta Missa, tirado de São Lucas, narra o maior acontecimento da história da humanidade – o nascimento do nosso Salvador na gruta de Belém. São Lucas descreve com detalhes todas as circunstâncias do nascimento de Cristo: o censo de César Augusto, a partida de José e Maria para Belém, o nascimento de Jesus na gruta “porque não havia lugar para eles na hospedaria, O embrulho da Criança em panos, e o anúncio de Seu nascimento aos pastores por um anjo. É um momento no qual é impossível não nos maravilhar com a profunda humildade e pobreza do Filho de Deus e com o maravilhoso exemplo que Ele nos mostra de desapego de todos os bens e honras do mundo. Aqui vemos na Encarnação e Nascimento de Nosso Senhor o amor infinito de Deus por nós, Suas criaturas:

Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.(João 3,16).

A segunda missa, celebrada ao amanhecer, honra o nascimento espiritual de Cristo em nossas almas pela vida divina da graça santificadora. Esta missa é oferecida de madrugada para significar que Cristo é a luz do mundo e que veio para iluminar o coração e a alma dos homens. Este tema traz à nossa mente o verdadeiro significado e espírito do Natal, vem nos dizer que a celebração do nascimento de Nosso Senhor deve nos trazer a graça de viver uma nova vida, livres do pecado, e também a graça de compreender que Cristo, em troca da humanidade que Ele tira de nós, deseja nos tornar participantes de Sua Divindade por meio da graça santificadora.

O Evangelho da segunda Missa também é retirado de São Lucas e continua a narração detalhada iniciada no Evangelho da Missa da Meia-noite. Seu Evangelho é às vezes chamado de Evangelho de Nossa Senhora, pois ele relata eventos que só poderiam ter sido conhecidos pela Virgem Maria.

São Lucas transparece isso muito bem com a frase: “Mas Maria mantinha em mente todas essas coisas, ponderando-as em seu coração”. Lemos como os pastores cooperaram com a graça de Deus e “foram com pressa” para Belém, “onde encontraram Maria e José e o Menino deitado na manjedoura”. 

Há um ponto interessante sobre os pastores, e sobre sua jornada a Belém e como encontraram o Menino na manjedoura. A palavra “Belém” significa na língua hebraica “a casa do pão”, e é significativo que nossa Mãe Santíssima deitou o Menino na manjedoura (o lugar para a alimentação dos animais). Na verdade, Jesus é “o Pão Vivo que desceu do céu”, que recebemos na Sagrada Comunhão. Cada vez que participamos do Eucaristia, o Natal se renova espiritualmente em nossas almas.

A terceira Missa é celebrada em homenagem à Divina Geração do Filho de Deus do Pai na eternidade. Isso é exatamente o que professamos no Credo Niceno na Santa Missa:

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai.

E o Verbo era Deus

Este tema, a Geração Divina do Filho Unigênito do Pai, está muito bem expresso no Evangelho desta Missa tirado do Evangelho de São João:

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. (…) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1, 1-14).

Que mistérios profundos celebramos no Natal! São os mistérios de nossa santa Fé que Deus nos revelou e que nunca compreenderemos plenamente nesta vida! Estejamos decididos a celebrar o nascimento de nosso Divino Salvador de maneira adequada. Recordemos sempre que este mesmo Jesus Cristo, que é o Filho Unigênito de Deus e que nasceu em Belém há quase 2.000 anos, está sempre presente nos nossos altares na Sagrada Eucaristia. Quando celebramos a Santa Missa e desempenhamos as outras funções litúrgicas, podemos participar da vida divina da graça santificadora, aquela vida divina que Ele veio ao mundo para nos dar.

Que a paz de Cristo esteja com vocês neste tempo sagrado e permaneça para sempre! Um Feliz e Santo Natal!

Kaique Duarte
Seminarista da Comunidade Canção Nova

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