Já percebeu que a nossa vida é feita de encontros e desencontros? Que em todos os momentos, mesmo diante de uma multidão de desconhecidos, é possível olhar para dentro de si e dizer: “Eu vivo, estou aqui”. Parece uma afirmação tão simples, mas, de fato, se apresenta a nós como um mistério, pois contemplamos um abismo em nós. Nesta Semana Santa, principalmente aqui, na Canção Nova, eu e você temos a possibilidade de contemplar a salvação, a redenção, temos a oportunidade de experimentá-las! Jesus desceu aos abismos mais profundos do homem e resgatou-nos de uma vez por todas. E devo dizer a você as mesmas palavras de São João Paulo II: “Todo homem deve poder encontrar-se com Cristo” (n.13) recorda a Encíclica “Redemptor Hominis”, Redentor dos homens. Por isso, viver a procissão do encontro é, mais uma vez, deixar-se encontrar pelo Cristo e por Nossa Senhora, auxílio dos cristãos.
A Semana Santa é o ápice de todo o ano litúrgico. Chamada também de: Semana Maior, ela tem início no Domingo de Ramos da Paixão do Senhor, que une, num todo, o triunfo real de Cristo e o anúncio da Paixão (Cf. Caeremoniale Episcoporum, n. 263). Do mesmo modo, você e eu precisamos vivê-la muito bem! Quando nos deparamos com uma árvore frondosa e cheia de frutos, nossa primeira reação é contemplar a sua beleza, depois, atraídos pelos sentidos, observamos os detalhes, degustamos os frutos etc. Assim nós também somos diante do grande Mistério Pascal que celebramos nesta semana. Devemos nos deixar inebriar por ele, sem medo. A árvore – Igreja –, que nos dá o acesso antecipatório do que experimentaremos no céu, por meio dos Sacramentos, nos concede um momento profundo e belo, a salvação! A certeza de que a morte é apenas uma passagem inevitável e sem tristeza! Morremos na pia do Batismo e esta segunda morte já não nos amedronta mais. Que grandioso! Por isso, digo e repito: é preciso adentrar nesta Semana e, ali, permanecer, ser solidário com os sentimentos de Jesus Cristo, buscar imitá-Lo todos os dias, oferecendo-se em Sacrifício de amor, neste mundo. De modo a nos unir a Cristo Salvador!
A procissão do Encontro é uma das sadias tradições da Semana Santa, neste vasto campo devocional, ela ganha destaque, uma vez que os andores de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora — ferida pela espada de dor, que traspassou a sua alma, assim profetizou o velho Simeão —, começam vagarosamente a se encontrar depois de cada meditação… Assim, também nosso coração vai se acalentando e dilatando-se até penetrar mais profundamente no Mistério Pascal.
Toda a obra salvífica de Jesus é um evento pascal. Na Igreja, não obstante o desenvolvimento histórico, a Páscoa é considerada como passagem, como passagem do Senhor que, por meio de sua Paixão, chega à vida levando consigo, em sua ressurreição, todos os que creem no seu nome. Assim, acompanhamos a procissão do encontro. Deus feito homem, Jesus, segue fiel o plano salvífico, não se importando com os cuspes, socos, empurrões, chibatadas, xingamentos, zombarias… Ele é fiel! E passou pelo máximo do sofrimento por você! Ele era o homem perfeito, ao mesmo tempo, verdadeiro Deus. Portanto, as suas dores também foram perfeitas.
Durante a Procissão do Encontro, medita-se as sete dores de Nossa Senhora e as sete palavras de Jesus na cruz:
- 1ª Palavra de Jesus – “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34a);
- 1ª Dor de Nossa Senhora – A profecia de Simeão.
- 2ª Palavra de Jesus – “Hoje, estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43);
- 2ª Dor de Nossa Senhora – A perseguição de Herodes e a fuga da Sagrada Família para o Egito.
- 3ª Palavra de Jesus – “Mulher, eis aí o teu filho, filho eis aí a tua mãe” (Jo 19,26-27);
- 3ª Dor de Nossa Senhora – A perda do Menino Jesus no Templo de Jerusalém.
- 4ª Palavra de Jesus – “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes?” (Mc 15,34);
- 4ª Dor de Nossa Senhora – O encontro desta Mãe admirável com Seu Filho, carregando a Cruz, no caminho para o Calvário.
- 5ª Palavra de Jesus – “Tenho sede” (Jo 19,28 b);
- 5ª Dor de Nossa Senhora – A Crucifixão de Nosso Senhor.
- 6ª Palavra de Jesus – “Tudo está consumado” (Jo 19,30 a).
- 6ª Dor de Nossa Senhora – Quando recebeu nos seus braços o corpo de Jesus Cristo, descido da Cruz;
- 7ª Palavra de Jesus – “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46 b);
- 7ª Dor de Nossa Senhora – Quando depositou Jesus no sepulcro, ficando Ela em triste solidão.
Que você, assim como eu, se lembre das frases de Santo André de Creta: “Como é admirável possuir a Cruz! Quem a possui, possui um tesouro!” (Homilia X na Exaltação da Cruz: PG 97, 1020). Ou, como Santo Agostinho: “Para sermos curados do pecado, olhamos para Cristo crucificado!” (Tract. in Johan., XII, 11). Que grande Mistério de amor! Assim como bons imitadores de Cristo, olhemos para Nossa Senhora, para termos força e continuarmos a lutar, sem desanimar, sem esmorecer, pois sabemos da grandiosíssima felicidade que nos espera! Nosso céu é o próprio Cristo. Nele queremos permanecer aqui nesta terra!
Bento XVI, durante os 150 anos das aparições de Nossa Senhora de Lourdes (França), afirmou que a Igreja recebeu a missão de mostrar a todos o rosto de um Deus que ama, manifestado em Jesus Cristo. Saberemos nós entender que, no Crucificado do Gólgota, a nossa dignidade de filhos de Deus, ofuscada pelo pecado, nos foi restituída? Voltemos o nosso olhar para o Cristo. É Ele quem nos fará livres para amar como Ele nos ama e construir um mundo reconciliado. Pois, nesta Cruz, Jesus tomou sobre si o peso de todos os sofrimentos e injustiças da nossa humanidade. Carregou as humilhações e as discriminações, as torturas padecidas, pelo amor de Cristo, em tantas regiões do mundo, por nossos irmãos e irmãs sem número. Confiamo-los a Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa, presente ao pé da Cruz (Cf. homilia de Bento XVI em Prairie, Lourdes – Domingo, 14 de Setembro de 2008).
Que a Semana Santa seja para você um marco. Viva-a como se fosse a última de sua vida. Deus te abençoe e que Nossa Senhora te leve a contemplar os mistérios de Jesus. Lembre-se, a Virgem Maria “guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc. 2,51).
Seminarista Canção Nova
Guilherme Henrique de Lima Razuk