Não desejar a mulher do próximo
A Mensagem de Fátima é o nome dado aos apelos trazidos por Nossa Senhora quando apareceu em Fátima-Portugal (1917) e em Pontevedra (1925 e 1926) e Tuy (1929) na Espanha. Traz em seu núcleo central a revelação do Coração de Deus ofendido pelos pecados da humanidade conforme o relato da Aparição de outubro de 1917: “Não ofendais mais a Deus que já está muito ofendido” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p. 181). Ao mesmo tempo em que esta Mensagem trata-se essencialmente do convite à reparação de tais ofensas, apresenta de modo especial a devoção ao Imaculado Coração de Maria revelada como via de salvação. Entretanto, compreende-se que o Coração Imaculado de Maria se apresenta como via segura de salvação porque convida à reparação dos pecados cometidos explicitamente contra os Mandamentos de Deus, e por ser Imaculado também é atingido por tais ofensas. Sobre a vontade de Deus acerca da devoção ao Seu Imaculado Coração, Nossa Senhora assim se expressou na aparição de junho de 1917 quando disse à Lúcia: “Jesus quer servir-Se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração.” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p. 175). Na conclusão desta aparição a Lúcia testemunha que Ela e os primos São Francisco e Santa Jacinta Marto receberam de Deus a compreensão do apelo para fazer reparação: “À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora, estava um coração cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p. 175-176).
Assim sendo, a Mensagem de Fátima Nossa Senhora revela que Deus quer continuar salvando as almas por Seu intermédio, uma vez que, por meio de Seu “Sim”, Ela permitiu que o Eterno entrasse no tempo ao Encarnar-Se em Seu seio. Como Mediadora, Deus Lhe envia com a missão de convidar a humanidade a corresponder aos Seus pedidos, que são unicamente em prol da salvação eterna, tendo em vista o arrependimento dos pecados que ferem a dignidade do próprio homem. De modo geral, os pedidos feitos por Deus através destas aparições podem ser resumidos em três pilares que são assim sintetizados: a oração, a penitência e a conversão. Deste modo, como Mestra da vida interior, Maria conduz a humanidade à via da reparação, isto é, a unir-se a Seu Filho Jesus Cristo em Sua redenção realizada no Mistério Pascal da sua morte e ressurreição. Neste Mistério, Ele tirou o pecado do mundo (cf. Jo 1,29). De fato, Maria veio para mostrar que, pela oração e pela penitência, Deus continua salvando, em estreita comunhão com o Redentor dos homens, que já havia dito: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho” (Mc 1,15).
De acordo com o pedido de Nossa Senhora na aparição de junho, a Mensagem de Fátima foi difundida primeiramente pela Irmã Lúcia, uma das três videntes, hoje Serva de Deus, escolhida pelo Céu para realizar a grandeza de tal missão: A difusão da devoção ao Imaculado Coração de Maria. É nesta perspectiva que surge a obra “Apelos da Mensagem de Fátima”, na qual a Irmã Lúcia oferece uma explicação acerca de cada pedido feito pela Santíssima Virgem e também pelo Anjo de Portugal na ocasião de suas três aparições também em Fátima em 1916. Nesta mesma obra ela explica a importância da prática dos dez Mandamentos da Lei de Deus assinalando que, quando são vividos na totalidade, também se traduzem numa verdadeira reparação das ofensas causadas pelos pecados dos homens.
Isto posto, pode-se evidenciar a finalidade deste artigo, que pretende dar continuidade à série sobre a “relação dos dez Mandamentos da Lei de Deus com a Mensagem de Fátima”, desta vez com enfoque no nono Mandamento que ordena “não desejar a mulher do próximo”. Para expressar o grande valor deste preceito, a Irmã Lúcia parte da Sagrada Escritura demonstrando que a própria Palavra de Deus exprime a Sua vontade quando diz: “Não desejarás a mulher do teu próximo” (Dt 5,21). Por isso, este mandamento mostra a raiz do pecado do adultério, condenado no sexto mandamento. O adultério é um comportamento tão grave que, no Antigo Testamento, era punido com a morte: “Se um homem for pego em flagrante deitado com uma mulher casada, ambos serão mortos, o homem que se deitou com a mulher e a mulher. Deste modo extirparás o mal de Israel” (Dt 22,22). Mas, diante do arrependimento, também nesta situação Deus perdoa. Neste sentido, a Sagrada Escritura evoca a experiência de Davi, quando cometeu adultério com Betsabeia, destacando o testemunho de seu arrependimento mediante o pecado cometido (cf. 2 Sm 12,13-14). Além disso, a Sagrada Escritura ressalta o testemunho de São João Batista que, num contexto diferente, testemunhou o zelo pela Lei de Deus denunciando o adultério de Herodes (Mc 6,18), recordando que tal Mandamento não foi dado só para os israelitas, mas, sim para a salvação de toda a humanidade, já que para isso Deus enviou o Seu Filho ao mundo (cf. Jo 3,17).
Mas a palavra de Jesus ressalta a profunda ligação entre o sexto e o nono mandamento. Mostra, de fato, que a raiz do adultério se encontra no mau desejo. E, por isso, Jesus assim falou: “Ouvistes o que foi dito: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo: todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mt 5,27-28). Assim, o divino Mestre proíbe não só o ato em si, mas também a cobiça e o desejo, porque são estes que levam a consumar o ato, que é causa de condenação eterna, conforme assegura Jesus: “Caso o teu olho direito te leve a pecar, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois é preferível que perca um de teus membros do que todo o seu corpo seja lançado na geena” (Mt 5, 29). A Irmã Lúcia recorda que este Mandamento recebeu de Jesus um significado mais profundo, uma vez que Ele mostrou que veio para elevá-lo à perfeição erradicando-o do coração humano a partir dos desejos: “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição” (Mt 5,17). Compreende-se portanto, que para santificar o homem, Jesus quer infundir no seu coração a virtude da pureza como “escudo protetor” e assim conservar a sua excelsa dignidade. Acerca da pureza do coração que é necessária para a observância deste preceito, o Catecismo da Igreja (n. 2517) afirma:
O coração é a sede da personalidade moral: ‘É do coração que procedem más intenções, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações’ (Mt 15,19). A luta contra a concupiscência da carne passa pela purificação do coração e a prática da temperança.
Nesta perspectiva, o Catecismo (n .2518) evoca a sexta bem-aventurança que proclama: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8), demonstrando que a expressão “puros de coração” designa aqueles que entregaram o coração e a inteligência às exigências da santidade de Deus, principalmente nos campos da caridade, da castidade, do amor à verdade e da ortodoxia da fé. Neste sentido, explicita que existe uma profunda ligação entre a pureza do coração, do corpo e da fé. Com efeito, a pureza de coração é a condição prévia para a contemplação de Deus face a face e para que um dia sejamos semelhantes a Ele (cf. 1Cor 13,12). Por outro lado, a virtude da pureza permite olhar para o próximo e para as situações cotidianas segundo o olhar de Deus, e não de acordo com as más inclinações, provenientes da concupiscência que, de acordo com o apóstolo São Paulo, corresponde à “revolta que a carne provoca contra o espírito” (cf. Gl 5,16-17.24; Ef 2,3). Efetivamente, este nono Mandamento nos coloca numa atitude de luta para alcançar e permanecer na virtude da pureza, sendo este um dever de todo batizado que recebeu a purificação dos pecados pelo Sacramento do Batismo.
Diante dos aspectos observados, pode-se constatar que a Virgem Maria veio, através destas aparições, nos colocar numa atitude de luta contra a concupiscência da carne e dos desejos desordenados, para que, por meio de uma vida virtuosa, sustentada pela oração e pela penitência, possamos um dia experimentar no Céu a verdadeira felicidade para a qual fomos criados. Ao colocarmos em prática os pedidos de Nossa Senhora, nos colocamos numa atitude de reparação e, de acordo com Sua promessa na aparição de junho de 1997, seremos ainda nesta vida como almas amadas de Deus, como flores por Ela colocadas para enfeitar o Seu Trono.
Este será o tema da catequese que acontecerá na Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados no próximo dia 07 de agosto de 2021 com início às 10h na Matriz de Santo Antônio em Cachoeira Paulista-SP.
Convidamos você a participar deste momento mariano que, além de presencial, será transmitido pelo Instagram: @devocaoreparadora e pelo Facebook da Paróquia.
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