NÃO LEVANTAR FALSO TESTEMUNHO

A relação do oitavo Mandamento com a Mensagem de Fátima

Não levantar falso testemunho contra o próximo

A Mensagem de Fátima em sua totalidade consiste numa uma chamada de atenção para a observância dos Dez Mandamentos da Lei de Deus que resumem o Código da Antiga Aliança feita entre Deus e o seu povo eleito. Esta Mensagem abarca os apelos de Nossa Senhora, por ocasião de suas aparições em Fátima – Portugal, que tiveram continuidade em Pontevedra e Tuy – Espanha. Pode ser resumida num convite à oração, à penitência e a conversão, cuja essência é a reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria, uma vez que ofendem diretamente a Deus. Maria Santíssima – Imaculada, Virgem e Mãe de Deus – eleita por Deus como Sua mais eminente portadora da Nova e eterna Aliança, foi por Ele enviada para recordar a importância de amá-Lo, ressaltando, sobretudo, o ensinamento de Seu Filho Jesus Cristo quando elevou a compreensão do Decálogo de uma perspectiva estreita de pura exterioridade para a totalidade da pessoa. De fato, Jesus transferiu a prática dos Dez Mandamentos de uma vivência apenas exterior para uma experiência profundamente voltada para a vida interior. A título de exemplo merecem relevo Suas palavras quando, ao se referir ao sexto Mandamento, afirma: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração” (Mt 5,27-28).

Este artigo dá continuidade à série sobre “a relação dos Dez Mandamentos da Lei de Deus com a Mensagem de Fátima”, com base na obra “Apelos da Mensagem de Fátima” da autoria da Ir. Lúcia, principal interlocutora destas aparições; e tem como objeto principal a observância do oitavo Mandamento: “Não levantar falso testemunho contra o próximo” (Dt 5,20). Para colocar em relevo a importância deste Mandamento a Irmã Lúcia (2007, p. 248) parte da Sagrada Escritura com os seguintes dizeres:

Com este Mandamento, Deus proíbe-nos toda a espécie de calúnia e mentira, em prejuízo do próximo. Assim fala o Senhor: ‘Não faças declarações falsas; não sejas cúmplice dos ímpios, servindo-lhes de falsa testemunha. Não sigas a opinião da maioria para praticar o mal. Não deponhas num julgamento, colocando-te ao lado da maioria, de modo a desviar a justiça da sua retidão. Por compaixão, não favorecerás, também, o pobre no seu litígio. […] Não te desviarás da justiça para condenar o pobre no seu pleito. Afasta-te de toda a mentira. Não causarás a morte do inocente e do justo, porque jamais Eu absolverei o culpado. Não aceites presentes, pois os presentes corrompem, cegam os prudentes e perdem as causas justas’ (Ex 23, 1-8).

Com efeito, essa prescrição moral tem como base a Verdade e proíbe a falsidade, isto é, a duplicidade, a simulação e a hipocrisia nas relações com o próximo, visto que são contrárias à Verdade, cuja fonte é Deus (cf. Pr 8,7). Neste sentido, o Catecismo da Igreja (n. 2464) afirma que “as ofensas à verdade exprimem, por palavras ou atos, uma recusa de abraçar a retidão moral: são infidelidades fundamentais a Deus e, neste sentido, minam as bases da Aliança”. Logo, sendo Jesus Cristo a Nova e eterna Aliança, portanto, a Verdade de Deus que se manifestou ao mundo (cf. Jo 14, 6), a essência do discipulado cristão consiste em ser testemunha de Cristo, ou seja, em viver de Sua Palavra para assim conhecer a Verdade que liberta (cf. 8,32) e santifica (cf. Jo,17,17). Efetivamente, o amor incondicional à Verdade foi ensinado por Jesus quando disse: “Seja o vosso ‘sim’, sim, e o vosso ‘não’, não. O que passa disso vem do maligno” (Mt 5,37). Por isso, de acordo com as palavras de Cristo e com o seu exemplo diante de Pilatos quando proclamou que “veio ao mundo para dar testemunho da verdade” (cf. Jo 18,37), o cristão, de igual modo não deve ter medo e nem se envergonhar de dar testemunho do Senhor, sobretudo, nas situações mais difíceis que requerem a declaração da fé cristã.

 

Foto: Bruno Marques/ Santuário do Pai das Misericórdias

Nesta perspectiva, a Irmã Lúcia (2007) reforça que o preceito de “não levantar falso testemunho contra o próximo” proíbe as ofensas contra a Verdade, tais como a calúnia, a mentira e os juramentos falsos, e então evoca as palavras de São Thiago quando diz:

Não faleis mal uns dos outros, irmãos. Aquele que fala mal de um irmão ou julga o seu irmão fala mal da Lei e julga a Lei. Ora, se julgas a Lei, já não estás praticando a Lei, mas te fazes juiz da Lei. Só há um legislador e juiz, a saber, aquele que pode salvar e destruir. Tu, porém, quem és para julgares o teu próximo? (Tg 4,11-12).

Ao narrar as “Memórias de Fátima” em outra obra de sua autoria, a Irmã Lúcia evidencia o amor que ela e os seus primos são Francisco Marto e santa Jacinta Marto tinham pela Verdade, ao afirmar que, por causa das aparições, “o Francisco sofria bastante com os interrogatórios e lamentava-se, dizendo para a Jacinta: – Que pena! Se tu te tivesses calado, ninguém o sabia. Se não fosse por ser mentira, dizíamos a toda a gente que não vimos nada e tudo acabava. Mas isso não pode ser!” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p. 144). De fato, nestes escritos ela deixa entrever a sinceridade e a pureza que os caracterizavam como virtudes profundamente consolidadas em suas almas. Nesta perspectiva, o Catecismo da Igreja (ns. 2476-2482), ao se referir à importância da observância deste Mandamento, ressalta o dever inerente à pessoa humana perante a sua dignidade, de rejeitar quaisquer afirmações contrárias à verdade de modo público, por meio do “falso testemunho” diante de tribunais, e do “perjúrio”, entendido como falso testemunho sob juramento. Por outro lado, o Catecismo afirma que a reputação das pessoas proíbe quaisquer atitudes e palavras capazes de ferir as virtudes da justiça e da caridade, vistas no ato de emitir juízos temerários, na maledicência, na calúnia e na mentira, e assegura, portanto, que toda falta cometida contra a justiça e a verdade impõe o dever de reparação.

Por fim, a Irmã Lúcia, em sua obra “Apelos da Mensagem de Fátima” (2007), faz alusão à gravidade da não observância deste Mandamento recordando que se trata de uma ofensa a Deus na pessoa do próximo, uma vez que se opõe ao Mandamento do amor, ordenado por Cristo: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo, 15,12). Também salienta que Jesus o recomendou com outras palavras: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7,12).

Este será o tema da catequese que acontecerá na Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, no próximo dia 03 de julho de 2021, com início às 10h. Convidamos você a participar deste momento mariano que será transmitido, a partir deste mês, pelo Instagram com novo endereço: @devocaoreparadora. Ao assumirmos esta espiritualidade pedida por Nossa Senhora, apressamos a profecia tão esperada, por Ela anunciada na aparição de julho de 2017: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”.


Áurea Maria,
Comunidade Canção Nova

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