A presença da Virgem Maria como nossa aliada no processo de salvação
A Virgem Maria nos foi dada por Deus como Mãe espiritual que sempre caminha conosco, os seus filhos, sendo a nossa Mestra da vida interior. A sua missão é de nos conduzir à Pessoa de Seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Salvador de nossas almas, conforme ela orientou nas bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Por ser a Mãe do Salvador, aquela que O gerou em Sua humanidade, com Ele conviveu nos seus primeiros anos e O acompanhou em todo o seu desenvolvimento durante os trinta anos da vida oculta em Nazaré e depois em sua vida pública, ela é, de modo singular, a pessoa escolhida por Deus como Sua mais nobre cooperadora no desígnio salvífico junto ao Seu Filho. Neste sentido, a doutrina da Igreja Católica, no tocante à Virgem Maria, nos assegura que tudo nela é relativo a Jesus Cristo, conforme evidenciam os seus atributos dogmáticos que atestam esta verdade de fé: sua Imaculada Conceição, sua Virgindade perpétua, sua Maternidade divina e sua assunção ao céu, bem como sua participação na mediação do Filho, em prol da salvação do gênero humano.
Com efeito, no momento ápice de Sua paixão, o Senhor Jesus Cristo nos deixou um testamento de amor, contendo a Sagrada Eucaristia (Lc 22,14-20) e a maternidade espiritual de Maria, quando aos pés de Sua Cruz (Jo 19, 25-27) entregou ‘o discípulo amado’ (v. 26) aos seus cuidados maternos. O ‘discípulo amado’ representa todo o discípulo verdadeiro, isto é, todo aquele que ama e é amado por Jesus. Assim, quando Jesus diz “Eis aí tua mãe”, Ele está confiando Maria à comunidade dos crentes e, ao mesmo tempo confiando os crentes aos cuidados maternos de Maria. Pela nossa fé, a relação entre Maria e o discípulo amado é o sinal visível da nova comunhão estabelecida aos pés da Cruz: a Igreja nascida do amor redentor.
Deste modo, o evangelista representa também a primeira geração cumpridora da profecia da Virgem Maria: “Me chamarão bem-aventurada todas as gerações” (Lc 1,48). O Concílio Vaticano II nos ajuda a penetrar em seu mistério com os seguintes dizeres:
A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus desde toda a eternidade simultaneamente com a encarnação do Verbo, por disposição da divina Providência foi na terra a nobre Mãe do divino Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor. Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa mãe na ordem da graça. (Lumen Gentium, 61).
Logo, compreende-se que a mediação materna da sempre Virgem Maria para com cada ser humano que peregrina no tempo rumo à eternidade, tem a finalidade de fazer refletir em nós as feições de Seu Filho e de recriar em nós à “Sua imagem e semelhança” (Gn 1,26), a partir de uma vida repleta da graça de Deus. Sobre a necessidade de vivermos na graça de Deus o Catecismo (1989) destaca o seguinte:
A primeira obra da graça do Espírito Santo é a conversão, que opera a justificação, segundo a mensagem de Jesus no princípio do Evangelho: ‘Convertei-vos, que está perto o Reino dos céus’ (Mt 4,17). Sob a moção da graça, o homem volta-se para Deus e desvia-se do pecado, acolhendo assim o perdão e a justiça do Alto. ‘A justificação comporta, portanto, a remissão dos pecados, a santificação e a renovação do homem interior’. (Concílio de Trento).
Ao convite à conversão como obra da graça de Deus, a Virgem Maria ajuda-nos a corresponder, como a mais fiel intercessora, para que descubramos o Seu Filho Jesus Cristo como o mais precioso Tesouro (Mt, 13,44), isto é, Aquele que, quando O encontramos, deixamos os falsos amores para amá-Lo acima de tudo e de todos, dado que Ele é o único que coloca a nossa vida na ordem da graça. Em comunhão com o Senhor, ela intercede pela nossa conversão e muito se alegra com o nosso retorno para o seio da Igreja, quando nos entregamos ao pecado (Lc 15,11-32). De fato, sua mais nobre missão é rogar a Deus para que a verdadeira alegria que consiste em ser templo do Espírito Santo, a seu exemplo, seja uma realidade concreta e de ascese em nossas vidas, agora e na hora de nossa morte. Vejamos o que a doutrina da Igreja Católica afirma acerca da missão salvífica perene de Maria Santíssima:
De fato, depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro. Mas isto entende-se de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo (Lumen Gentium, 62).
Uma vez que somos filhos de Deus em Jesus Cristo, designados para vivermos em toda a eternidade gozando da visão beatífica, somos chamados a caminhar ancorados “na esperança que não engana” (Rm 5,5). Entretanto, esta virtude teologal infundida por Deus em nosso batismo, precisa ser alimentada pela vida de oração a partir da Palavra de Deus e pelos sacramentos. Neste ano jubilar da Esperança, cujo sentido fundamental é a reconciliação e a vivência profunda da misericórdia divina, a Igreja, como mãe solícita, nos convida a fazer uma peregrinação espiritual para dentro de nossa alma, guiados pela Virgem Maria, isto é, a ter uma maior atenção à vida interior. Neste sentido, o Papa Francisco em sua bula Spes non confundit, apresenta a Mãe de Deus como a “testemunha mais elevada da Esperança” (N. 24), dado que, em todos os sofrimentos pelos quais passou em prol do projeto salvífico, ela nunca perdeu a esperança e a confiança em Deus. Nesta perspectiva, afirma que “não é por acaso que a piedade popular continua a invocar a Virgem Santa como Stella Maris, um título expressivo da esperança segura de que, nas tempestuosas vicissitudes da vida, a Mãe de Deus vem em nosso auxílio, apoia-nos e convida-nos a ter fé e a continuar a esperar”. (N. 24).
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A esperança em Deus, é, portanto, uma virtude que caracteriza a Virgem Maria, dado que ela sempre esperou em Deus, como modelo de discípula, que imbuída de Sua Palavra, “tudo guardava no coração” (Lc 2,52) e ao meditar em seus mistérios colocava em prática Sua santa vontade. A mãe de Jesus e nossa educa-nos na via da santidade para que um dia, com ela no céu, possamos agradecer-lhe face a face dizendo: Salve Rainha Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa salve!
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REFERÊNCIAS
BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Tradução de Euclides Martins Balancin et al. São
Paulo: Paulus, 2002. 2206 p.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Tradução da Conferência nacional dos Bispos do
Brasil. 10. ed. São Paulo: Loyola, 2000.
CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA Lumen Gentium sobre a Igreja. In: COMPÊNDIO DO
VATICANO II: constituições, decretos, declarações. 31. ed. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 37-
117.
PAPA FRANCISCO. Bula Spes non confundit. 13 maio 2017. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/bulls/documents/20240509_spes-nonconfundit_bolla-giubileo2025.html. Acesso em: 29 out. 2025.









