Onde você está em relação ao Pai? Longe ou perto?
Quando escuto a palavra alvo, a primeira imagem que me vem à mente é de uma competição de arco e flecha ou tiro em que os competidores tentam acertar com a maior precisão possível um determinado objeto, uma meta, “um alvo” a fim de marcar pontos para ganhar a competição. E não são raras as vezes que imagens da vida comum, da própria realidade, nos ajudam a jogar luzes sobre nosso relacionamento com Deus e vida interior. Acredito que essa é uma dessas ocasiões.
Dizer que somos alvos da misericórdia, nessa ótica, nos faz entender que assim como aqueles competidores buscam atingir o alvo, o próprio Deus quer, deseja e coloca toda a sua destreza, atenção e vontade em atingir o alvo do nosso coração com a sua misericórdia.
Um atleta pratica anos, se concentra, estuda o alvo, as suas condições e faz tudo o que está ao seu alcance, cada ajuste, cada detalhe para que o tiro saia perfeito. Por isso, penso que o Pai todos os dias olha para mim e olha para você também. Mais do que olhar, Ele se concentra em nós, Ele nos percebe. Ele vê nossa situação, como está o nosso interior, nossa vida, nossa família, nossos problemas, angústias e justamente por isso ele quer nos atingir com Sua misericórdia.
Mas afinal, se Deus quer nos alcançar com a Sua misericórdia, então, por que certas vezes temos tanta dificuldade em experimentá-la?
Para nossa sorte, Deus tem uma ótima mira e, se depender d’Ele, seremos sempre atingidos por seu amor e misericórdia, basta nos deixarmos atingir. E é exatamente aí que mora o segredo, deixar-se ser atingido.
Quantas vezes somos alvos difíceis para que a misericórdia nos alcance? Quantas vezes não queremos ser atingidos, nos escondemos, nos afastamos, colocamos obstáculos, fatores externos para nos proteger ou justificar. A questão é que Deus nunca vai entrar em nossa vida sem a nossa permissão. Ele sempre respeita a nossa decisão, ainda que nossa escolha seja afastar-nos d’Ele, não deixando que Ele aja.
Por isso, precisamos aprender a ser alvos fáceis para o Senhor, a fim de sermos atingidos por sua misericórdia. Para isso, existem algumas coisas que podem nos ajudar.
Não sou nenhum especialista, mas todo mundo sabe, ou pelo menos tem alguma noção de fatores que influenciam na precisão de um tiro, um chute ou arremesso quando tentamos acertar um alvo. Por exemplo, se o alvo pode ser visto com clareza, a distância, se aquilo em que estamos mirando está se movendo ou se existe algum obstáculo que impede ou dificulta a trajetória.
Assim, a primeira coisa que preciso dizer a você é: deixe Deus te ver! Como já disse, é claro que Ele nos vê, mas muitas vezes queremos nos esconder, especialmente quando estamos em situações difíceis, de pecado, de dor, de miséria e é justamente nesses momentos que mais precisamos do olhar de Deus. Olhar que cura, que salva, olhar de misericórdia, como o olhar de Jesus à mulher adúltera em meio à multidão furiosa (cf. Jo 8,1-11).
O olhar do Senhor não é superficial, ele nos penetra e vai até o mais profundo do nosso ser, pois Deus nos conhece. Permita que Jesus te olhe do jeito que você é, sem esconder nada. É preciso retirar as máscaras, as fantasias, as camuflagens que muitas vezes utilizamos para nos proteger, retirar aquilo que não nos pertence, que não diz de nós, os enfeites que usamos para cobrir nossas imperfeições e feridas, nossas chagas e misérias.
Depois, podemos citar a distância. É fácil perceber que objetos que estão mais perto são mais fáceis de acertar do que aqueles que estão longe. Daí vem a pergunta: Onde eu estou em relação ao Pai? Longe ou perto? Para se aproximar do Senhor é fácil, basta buscar, pois Ele se deixa encontrar, como diz a Palavra, em Isaías 55,6: “Buscai o Senhor, já que ele se deixa encontrar; invocai-o, já que está perto”. E isso se faz na oração, na intimidade com o Senhor, por isso, rezamos, vamos à Santa Missa, comungamos, lemos e estudamos a Palavra, rezamos o terço, adoramos, confessamos nessa busca de estar perto de Deus. Tudo isso são meios para que possamos nos aproximar d’Ele.
Terceiro ponto: é bem mais difícil acertar um alvo quando ele está em movimento do que quando está parado. Porém, isso não quer dizer que devemos ficar sem fazer nada, à espera da manifestação de Deus em nossa vida. Muito pelo contrário, pois aquele que espera em Deus e confia em sua providência e em seu amor é o primeiro a se colocar em ação e contribuir com a ação de Deus. Aqui podemos lembrar da parábola do Filho pródigo (Lc 15,11-24) que, quando caiu em si, lembrou da casa do pai e não permaneceu onde estava, porque confiava na bondade de seu pai colocou-se a caminho . Ele não ficou pensando se o pai o aceitaria ou não, ou se o caminho de volta era muito longo, ou naquilo que poderia dar errado, ele simplesmente esperou, teve fé e se pôs em caminhada.
Por isso, se você tem vacilado, tem sido inconstante nesse caminho, ora buscando, ora desistindo, ou, por vezes, se fixando nos obstáculos e dificuldades, até mesmo pensando que não vai conseguir, que foi longe demais, que não dá mais para voltar e que é um caso perdido, não perca as esperanças, espere no Senhor. Fique parado como um alvo à espera de ser atingido, seja perseverante na oração, constante na vigilância, porque mais cedo ou mais tarde o Pai vai te avistar assim como viu o filho ao longe e correr ao seu encontro para abraçar-te, vestir-te e levar-te de volta para casa, ao banquete que está preparado para você.
Se vivermos desse modo, debaixo da vista do Pai, o mais próximo d’Ele que pudermos estar e perseverantes e confiante em todos os momentos à espera de sua manifestação, seremos alvos fáceis e, de fato, seremos atingidos pelo amor do Pai que nunca falha. Um verdadeiro tiro de misericórdia.
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Matheus Porfirio Cesario
Comunidade Canção Nova