CONTEMPLAÇÃO

Rezai sem cessar: a vocação contemplativa da Igreja

«Rezai sem cessar» (Cl 4,2): a vocação contemplativa da Igreja

A palavra contemplação, muitas vezes, é má interpretada. Muitos acreditam que a vocação contemplativa se restringe às monjas e monges de clausura, entretanto, os temas e subsídios inspirados no magistério do Papa Francisco, visando a preparação no ano jubilar de 2025, apontam uma realidade totalmente diferente.

Diz o subsídio publicado pelo Dicastério para a Evangelização na página 61: “A Igreja tem uma vocação contemplativa. Todo o batizado deve contemplar Cristo e configurar-se com Ele à luz de sua Palavra e das suas atitudes”. Dessa forma, é possível observar que a vocação contemplativa está destinada a todos os cristãos e não somente aos monges e monjas, ainda que para eles essa realidade tenha uma forma de vida bem específica.

Rezai sem cessar: a vocação contemplativa da Igreja

Tampatra / GettyImages

Diante dessa constatação, é possível questionar: afinal, o que é contemplação? Vejamos as múltiplas definições acerca dela.

Contemplação natural (humana) pode ser definida, por exemplo, quando se olha e observa alguma coisa bela como a imensidão do mar ou a grandiosidade de uma montanha. É possível também que essa contemplação seja imaginativa. Por exemplo, quando imaginamos e fazemos memória de uma pessoa que é amada. Pode ser ainda uma contemplação filosófica diante de uma definição de determinado conceito, por exemplo, a definição de um ser simples, imutável, princípio e fim de todas as coisas.

A contemplação aos moldes cristãos se resume à admiração da nossa inteligência diante do esplendor da verdade sobrenatural, isto é, proveniente de Deus. Diz São Francisco de Sales: “A contemplação não é mais do que uma atenção amorosa, simples e penetrante do espírito nas coisas divinas”. Fica evidente que a contemplação cristã estar voltada para um conhecimento sobre a verdade, ou seja, sobre Deus.

Quando nós conhecemos uma pessoa, aos poucos, vamos conhecendo a verdade sobre ela; e à medida que esse conhecimento avança, passamos a contemplar nela belezas que se referem ao que ela é. De igual forma acontece com nossa relação com Deus. Umas das primeiras verdades a que temos acesso, através da oração, é que Deus nos ama; e uma vez que contemplamos essa verdade, ela vai tomando conta do nosso ser até notarmos que isso é verdade, ou seja, Deus nos ama e nada pode mudar isso.

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Sendo assim, revela-se que a oração contemplativa é para todos os cristãos e pode ser vivida independentemente das condições de trabalho, saúde ou sentimento. Ela se resume ao cristão que, através da oração, deseja ter intimidade profunda com Deus. Diante disso, fica a última questão: o que é necessário para alcançar a oração contemplativa?

1) Abandono do pecado mortal. A oração implica crescimento na graça, mas, em pecado mortal, a alma tem essa corrente cortada; portanto, precisa restaurar a amizade com Deus através da confissão.

2) Uma grande pureza de coração. Precisamos abandonar os pecados veniais, os defeitos, e buscar passar pela “porta estreita”, acolhendo as contrariedades e as purificações através do sofrimento.

3) Simplicidade de espírito. Isso se resume a ver todas as coisas através de Deus, sejam coisas boas ou más, agradáveis ou desagradáveis.

4) Humildade de coração. Um coração orgulhoso e egoísta não pode avançar na oração de contemplação. “Deus resiste aos soberbos, mas concede sua graça aos humildes”.

5) Recolhimento profundo. Uma alma que viva somente no barulho deste mundo e que não procure se recolher no silêncio para rezar, jamais terá oração contemplativa.

6) Praticar em cada ato do dia a dia as virtudes cristãs, sobretudo a fé, a esperança e a caridade.

7) A prática assídua da oração. É preciso procurar ocasiões para entrar em intimidade com o Pai todos os dias.

8) Uma terna devoção a Virgem Maria. Ela é um atalho a Jesus.

Pode-se concluir que todos podem ter oração contemplativa e assim crescer em intimidade com Deus, em virtudes, em santidade e na caridade. Diante dessa preparação para o ano jubilar, tenhamos a coragem de sair de nossas agitações para contemplar Aquele que sabemos que nos ama.

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