SOLENIDADE

Santa Mãe de Deus: Tudo por Jesus, nada sem Maria.

A solenidade de Maria Santíssima, Mãe de Deus é a primeira festa mariana que apareceu na Igreja do Ocidente.


No primeiro dia do ano civil a Igreja destaca a figura da Virgem Maria, Imaculada, sempre Virgem e Assunta ao Céu, como MÃE DE DEUS e nossa; não apenas como Mãe de Jesus apenas homem, mas Mãe de Deus humanado, como dizia São Bernardo.

É o desejo profundo e garantido da mãe Igreja, de que todos os dias do Ano Novo estejam debaixo da proteção Daquela que desde os primórdios Deus encarregou de esmagar a cabeça da Serpente maldita.

Desde o nascimento de Jesus, a Igreja a chama de “Aghios Theotokos” (= Santa Mãe de Deus).

Foto: Adrian Varela @AdrianVarela by Cathopic

Nossos primeiros mártires, que se escondia nas Catacumbas, no século II, durante a grande perseguição dos romanos, rezavam com fervor:

“Debaixo da Vossa proteção nos refugiamos ó SANTA MÃE DE DEUS, não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre dos perigos, Virgem gloriosa e bendita!”

Na Solenidade de hoje a Igreja parece não encontrar palavras suficientes para enaltecer, louvar e bendizer Aquela que o Anjo saudou como “Cheia de graça e bendita entre todas a mulheres”.

Há dois mil anos a Igreja a saúda com delicadeza e gratidão, especialmente neste dia:

“Ó Deus, que pela virgindade fecunda de Maria destes à humanidade a salvação eterna, dai-nos contar sempre com a sua intercessão, pois ela nos trouxe o autor da vida”.

“Bendita sejais, ó Virgem Maria, trouxestes no ventre quem fez o universo; Vós destes a vida a quem vos criou e Virgem sereis para sempre, ó Maria!”

“Virgem santa e imaculada, eu não sei com que louvores poderei engrandecer-vos! Pois Aquele a quem os céus não puderam abranger, repousou em vosso seio”.

“Ó Tu que geraste, diante da admiração da Natureza, o Santo que te gerou”.

 

Quando os tempos amadureceram, Deus nos enviou Seu Filho para nos salvar, mas Ele deveria assumir a nossa natureza e a nossa humanidade no seio de um Mulher. Sem isso Ele não poderia ser o Sacerdote da nova Aliança, nem ser nosso Salvador. Ele precisava ser perfeitamente homem sem deixar de ser Deus, para poder ser o Pontífice a religar a Terra com o Céu, o homem com seu Criador.

Ensina o Concílio Vaticano II: “Quis, porém, o Pai das misericórdias, que a Encarnação fosse precedida pela aceitação Daquela que era predestinada a ser Mãe de Seu Filho, para que, assim como contribuiu para a morte a mulher também contribuísse para a vida” (LG n. 56).

Desde os primeiros séculos surgiram heresias que perturbaram a vida da Igreja e ameaçaram a “sã doutrina”. Dentre elas uma surgiu com Nestório, patriarca de Constantinopla, em 430, que lançava a dúvida: “Porventura pode Deus ter uma mãe? Nesse caso não podemos negar a mitologia grega, que atribui uma mãe aos deuses”!

Entretanto, reunida no Concílio de Éfeso, no ano 431, a Igreja proclamou solenemente uma das verdades mais queridas ao povo cristão: “Maria é verdadeiramente Mãe de Cristo, que é verdadeiro Filho de Deus”. Assim estava debelada para sempre a perigosa heresia que queria ver em Jesus duas pessoas, uma divina e outra humana, sendo Maria apenas Mãe desta última.

Não, disse o Concílio de Éfeso. Maria é “Theotókos” (Theo = Deus, Tokos = Mãe)! Mãe de Deus.

São Cirilo de Alexandria (†442), presente nesse Concílio, havia replicado a Nestório: “Dir-se-á: a Virgem é a mãe da divindade? Ao que responderemos: o Verbo vivo subsiste, é gerado pela própria substância de Deus Pai, existe desde toda a eternidade… Mas ele se encarnou no tempo e por isso pode-se dizer que nasceu da mulher”.

Jesus, Filho de Deus, é Filho de Maria. Seu corpo é todo feito do corpo de Maria. Como Jesus não foi gerado pelo sêmen de um homem, biologicamente tudo lhe veio de Sua Mãe. Por isso dizia Santo Agostinho: “A carne de Jesus é a carne de Maria”.

Falando da Maternidade divina de Maria, assim se expressou São Pedro Damião (1007-1072), bispo e doutor da Igreja: “Esta matéria extraordinária nos tira até a capacidade de falar. Que língua poderá explicar, que inteligência não ficaria parada de espanto se começasse a pensar que o “Criador nasce da criatura, o artesão vem de seu artefato, que o seio de uma jovem virgem tenha gerado Aquele que pode conter todo o universo?” E ainda: “Ó Virgem admiravelmente fecunda que, num novo e inédito milagre, recolhe no seio Aquele que é sem medida, gera o eterno e dá à luz o que foi gerado antes dos séculos”.



Diz o Papa João Paulo II, na Encíclica “A Dignidade da Mulher”:

“Isto nos mostra que no ponto chave da história da salvação se dá um acontecimento capital em que entra a figura de uma Mulher… Precisamente essa Mulher está presente no evento salvífico central que decide da plenitude dos tempos; esse evento se realiza Nela e por meio dela” (n. 3).

Por isso “Maria é a que mais cooperou com a obra da Redenção dos homens”, disse João Paulo II. É deste sublime e exclusivo privilégio de ser “Theotókos” que derivam todos os outros títulos que Maria recebe de seus filhos. De fato, diz o Concílio Vaticano II:

“Maria, filha de Adão, consentindo na palavra divina, se fez Mãe de Jesus. E abraçando a vontade salvífica de Deus com todo o coração, não retida por nenhum pecado, consagrou-se totalmente como serva do Senhor à pessoa e obra do seu Filho, servindo sob ele e com ele, por graça de Deus onipotente, ao mistério da Redenção” (LG, n. 56).

O Catecismo diz que “Maria é verdadeiramente “Mãe de Deus”, visto ser a Mãe do Filho Eterno de Deus feito homem, que é ele mesmo Deus” (n. 509).

A Encarnação é o maior acontecimento de todos os tempos. Deus se fez homem, sem deixar de ser Deus, e isto se fez por meio de Maria. Na pessoa única do Verbo existe a dupla natureza, humana e divina. Ela passou a ser a partir daí o ponto de união entre o Céu e a Terra. Foi ela quem deu a Jesus a carne e o sangue humanos.

O Papa S. Pio X, na encíclica “Ad diem illum”, de 2 de fevereiro de 1904, fala admiravelmente da maternidade divina de Maria: “À Virgem Santíssima não somente coube a glória de haver ministrado a substância de sua carne ao Unigênito do Eterno, que devia nascer homem, hóstia excelentemente preparada para a salvação dos homens; mas igualmente teve a missão de zelar e conservar esta hóstia e, ao tempo devido, apresentá-la ao sacrifício”.



São Luiz de Montfort ensina: “Deus, sem precisar, porque se basta a Si mesmo, quis começar e acabar suas maiores obras por meio da Santíssima Virgem” (Tratado da verdadeira devoção, n. 16).
“Porque o mundo era indigno de receber o Filho de Deus diretamente das mãos do Pai, diz Santo Agostinho, Ele o deu a Maria a fim de que O mundo recebesse por meio dela” (idem).

Infelizmente até hoje muitos cristãos ainda enganados pela heresia de Nestório, consideram Maria apenas Mãe de Cristo homem, e não Mãe de Deus. Assim, tristemente, não lhe prestam o devido culto, que os nossos primeiros mártires prestaram.

São Cirilo de Alexandria (†442), bispo e doutor da Igreja, que Deus suscitou para impedir o avanço dessa heresia, argumentava: “As mães, apesar de não gerarem a alma, são ditas, mãe do homem inteiro e não genitoras do corpo humano apenas”.

O Papa S. Pio X, na encíclica “Ad diem Illum”, disse: “Querendo a divina Providência que o Homem-Deus nos viesse por Maria, em cujo seio, por obra do Divino Espírito Santo, Ele quis repousar, resta-nos só a ventura de receber Jesus Cristo das mãos de Maria… Ela é, pois, nossa melhor Guia, nossa melhor Mestra para o conhecimento de Jesus Cristo… Por isso, Ela é quem mais eficazmente pode unir os homens a Jesus Cristo… Só se encontra o Menino com Maria, Sua Mãe”. E, com este mesmo pensamento, a Igreja tornou célebre esta máxima: “Ad Jesum per Mariam” – A Jesus por Maria.

Ou ainda: “Tudo por Jesus, nada sem Maria”. Santo Agostinho dizia que “a glória do homem está na carne de Cristo, e a honra da mulher na Mãe de Cristo”.

Santa Isabel, cheia do Espírito Santo, foi a primeira pessoa que reconheceu Maria como mãe de Deus; a saudou chamando-a de “Mãe do meu Senhor” (Lc 1,43). E “cheia do Espírito Santo, exclamou em alta voz: “Bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42)”. E o Anjo Gabriel disse também a Maria: “O santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus” (Lc 1,32).

Se Maria é a Mãe bendita de Deus, o que então lhe será impossível? O que poderia um Filho negar à sua Mãe?” Especialmente Jesus, o melhor de seus filhos! É poderosa a intercessão da Virgem Maria. O grande Santo Anselmo (†1109), doutor da Igreja, disse a Maria: “Vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, vos concederá, ó Mãe, tudo o que vós quiserdes: Ele está sempre disposto a vos ouvir. Basta que queiras nossa salvação” (MM, p. 45).

Escutemos o que nos diz São Bernardo (1090-1153), abade e doutor da Igreja, o poeta apaixonado de Maria, em seu famoso “Sermão sobre o Missus est”: “Ela é a onipotência suplicante!”.

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