Padre Márcio

Desprezados e feridos, mas ainda soldados

Partilha da Palavra: Jr 26,1-9; Sl 68; Mt 13,54-58;

O profeta Jeremias se opôs ao rei Josias por ter se aliado aos egípcios, e tal aliança era para combater os babilônios. A intenção era boa, porém feria gravemente a aliança com o Senhor. Fazer pactos, alianças com outros povos significava um adultério contra o Senhor.

Então, Jeremias, em nome do Senhor, exortou Judá a romper com essa aliança, romper com os pagãos e voltar ao Único Deus. O que o Senhor queria? Fidelidade a Ele.

Diante das “boas” propostas que nos são oferecidas, estejamos atentos. Nem tudo que parece bom é bom de fato. Examinemos nossas escolhas, nossos passos, nossos interesses e estejamos atentos à voz de Deus, que nos fala por meio de nossos profetas. O Senhor nos fala pela Escritura, pela Igreja, fala por meio dos santos, das pessoas simples. O Senhor nos fala na oração.

Atentos ao Senhor que fala! Não sejamos rebeldes como no tempo de Jeremias, pois não quiseram o escutar e, consequentemente, caíram na corrupção, na idolatria e na possibilidade de perder a vida eterna.

Jesus, no Evangelho, da mesma forma veio para os Seus, veio para salvar, veio amar e apontar para o Pai, mas, infelizmente, foi desprezado. “Ele? Jesus? Mas Ele não é o filho de Maria? Não é um carpinteiro?…” Jesus foi rejeitado, rejeitaram Sua proposta de santidade, de céu, de eternidade.

É muito duro e triste perceber que, ainda hoje, muita gente não quer aceitar o Senhor, não aceita o Seu amor e até zomba de Deus. O Senhor, no entanto, chama-nos a acolhê-Lo, a não O desprezarmos. Se nós O acolhermos, Ele poderá fazer maravilhas em nós e por meio de nós.

Hoje, comemoramos Santo Inácio de Loyola (1491-1556), homem guerreiro que tinha este ideal de conquistar, vencer, ser um grande soldado. Porém, numa luta contra franceses, foi ferido em batalha. Ficou tão triste, que dizia ter preferido morrer em batalha, pois a guerra lhe deu marcas, limites e não poderia voltar a conquistar as glórias deste mundo.

Que triste! Deus os desprezou? Deus o castigou devido à sua arrogância? Na verdade, “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8,28), ensinava São Paulo. O Senhor permitiu que Inácio parasse, e ao parar se deparou com livros dos santos. O guerreiro aposentado percebeu que as leituras mundanas lhe causavam mal sentimentos, enquanto as leituras espirituais traziam tranquilidade.

Assim, Inácio de Loyola teve um encontro com nosso Senhor Jesus Cristo e voltou a guerrear, e, a partir daquele encontro com o Senhor, se tornou seu soldado. Também Inácio foi desprezado e mal entendido pelos seus familiares. Contudo, Inácio parou no desprezo dos seus? Não, pois aprendeu que deveria guerrear por algo realmente bom, guerrear por Jesus, pelo Cristo, para fazê-Lo conhecido e amado. Inácio não tinha mais o físico de um soldado, ainda mancava, mas seu coração havia sido curado, e o Espírito Santo o conduzia para pregar e ensinar o Evangelho.

Por fim, Inácio de Loyola, que buscava tanto se realizar, gravar seu nome na história através da luta, da guerra, ele que buscava uma coroa terrena, entendeu que não deveria buscar uma glória para si. Inácio de Loyola entendeu que deveria buscar a glória de Deus e tudo fazer por ela.

E nós? Somos desprezados? Paramos nas rejeições ou contamos com a força de Deus e seguimos adiante?

“Pai amado, ajuda-nos nesse caminho de conversão, que nossos ouvidos estavam atentos à Tua voz. Ó Deus, mesmo em meio aos desprezos, dificuldades, mesmo feridos exteriormente e emocionalmente, cura-nos. Cura-nos ainda de toda vanglória, de todo sentimento de carência que nos faz buscar ídolos ou reconhecimento. Converte-nos, Senhor, para que tudo façamos para Vossa glória e para salvação das almas. Amém”.

Pai das Misericórdias e Deus de toda consolação, ouvi-nos!

Padre Márcio Prado
Vice-reitor do Santuário do Pai das Misericórdias

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